Tecnologia no combate à diabetes foi um dos temas do congresso no CCC

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Mais de 200 médicos de todo o país estiveram nas Caldas a debater a diabetes, na 12ª reunião do Núcleo de Estudos de Diabetes Mellitus, que se realizou nos dias 20 e 21 de Outubro no CCC. Foram apresentadas diversas tecnologias que podem ajudar tanto os doentes como os médicos no combate a esta doença. Estima-se que em 2040 um em cada dez portugueses sofra de diabetes.

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Nos dias que correm os médicos têm pouco tempo para estar com cada doente e decidir o tratamento a seguir. Por outro lado, há cada vez mais doentes e cada vez mais fármacos, o que dificulta a tomada de decisão. Quem o salientou foi Joana Louro, médica da Unidade Integrada de Diabetes do CHO, num dos painéis do congresso.
Um dos problemas que os médicos enfrentam é que actualmente os fármacos são lançados a um ritmo alucinante e isso exige ainda mais tempo e mais conhecimento da parte dos médicos.
Com tantos fármacos para apenas uma doença, fica então a pergunta: qual é o medicamento ideal para cada doente? “Há muito pouca informação sobre isto e não há fórmulas mágicas”, fez notar Joana Louro, defendendo que se deve ter em conta o perfil clínico de cada doente, mas também o seu perfil social, familiar, económico e psicológico.
Assim, os efeitos de cada fármaco, o preço, a sua eficácia, a segurança cardiovascular, o risco hipoglicémico, as formas de administração e preferências de cada doente, são factores a ter em conta em cada decisão.
Neste congresso foram apresentadas diversas tecnologias que podem ajudar tanto os doentes como os médicos. Jorge Dores, assistente de Endocrinologia do Centro Hospitalar de Santo António (Porto), apresentou o pâncreas artificial, uma pequena bomba que se prende nas calças e que mede os valores de açúcar e os compensa. “Não precisamos de uma fotografia que nos mostra um momento e nos deixa às escuras nos outros dias, precisamos de um filme e hoje podemos saber em tempo real”, fez notar.
Segundo Jorge Dores, esta ainda é uma tecnologia cara, mas útil, por exemplo, para grávidas e para os casos de hipoglicemia à noite. Por outro lado, pode ajudar a diminuir “o stress e exaustão” que uma doença crónica causa.
O orador fez notar que ainda não há estudos que comprovem a eficácia desta tecnologia contra hipoglicemias graves e falou de uma aplicação para o smartphone que permite aos pais receberem em tempo real os valores dos filhos.
Quem também salientou a importância das tecnologias foi Duarte Matos, enfermeiro no Departamento de Crianças e Jovens da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, que disse que “com as aplicações para smartphone não são precisos os tradicionais livros e canetas” e que se conseguem dados mais fiáveis, mais fáceis de utilizar (porque geram padrões) e de interpretar. Ou seja, permitem “um melhor tratamento”.
Na óptica deste profissional de saúde, o futuro passa pela sinergia entre consultas presenciais e não presenciais.
Ainda no campo das tecnologias foi apresentada a Diabetes em Movimento, uma plataforma on-line onde os médicos podem escolher planos de exercício pré-definidos para diabéticos ou criar planos personalizados a cada doente. Os planos saem num formulário em PDF que pode ser impresso ou enviado por e-mail.
Esta tecnologia foi apresentada por José Luís Themudo Barata, da Universidade da Beira Interior, que esclareceu que a Diabetes em Movimento permite a cada um saber qual o exercício que deve fazer.

“A tempestade já chegou!”

Rui Duarte, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, falou dos diabetes nos idosos e afirmou que “a tempestade já chegou” pois estima que mais de um quarto da população idosa sofra desta patologia (um crescimento de 12% entre 2009 e 2014).
Apesar de não ter revelado os dados que serão tornados públicos em breve, disse que as estatísticas não estão a melhorar, pelo contrário. Estima-se que em 2040 um em cada dez portugueses sofra desta doença que, em média, rouba oito anos de vida activa.
Na sessão de encerramento, Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, contou que estão em formação mil médicos internos e realçou que houve melhorias na cura, na diminuição do consumo de álcool e de tabaco, mas não no aumento de exercício físico nem na melhoria da alimentação. “Seis em cada dez portugueses é obeso e nos idosos o valor sobe para oito em cada dez”, alertou, salientando que este vai ser cada vez mais um problema de saúde pública.
No congresso foi eleita a nova direcção do núcleo, que conta com a caldense Joana Louro. A única lista, encabeçada por Estevão Pape, conseguiu 99,8% dos perto de 40 votos.
Caldas segue tendência mundial de aumento

Manuela Ricciulli, coordenadora da Unidade Integrada de Diabetes do CHO, disse à Gazeta das Caldas que, tal como em todo o mundo, também nas Caldas o número de diabéticos tem vindo a subir. “A ARS Lisboa e Vale do Tejo é uma das regiões onde há uma grande prevalência de diabetes”, contou.
Relativamente aos desafios que se colocam no combate à diabetes, a internista apontou à contenção de custos a nível nacional. “Muitas vezes as contas que se fazem aos custos, não têm em conta os custos indirectos”, afirmou.
A equipa da Unidade Integrada de Diabetes do CHO conta actualmente com oito pessoas, mas quatro são médicos internos, ou seja, a equipa é de quatro pessoas, sendo que semanalmente estão no CHO duas médicas, a coordenadora e uma das outras três.
O serviço conta ainda com cinco enfermeiras, duas dietistas e, nos casos que assim o justificam, com o apoio da psicóloga e da assistente social.

Faltam milhares de médicos no SNS

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, não pôde estar presente, mas enviou uma mensagem onde disse que a “Medicina Interna, algumas vezes ignorada pelo poder político, constitui a trave mestre dos hospitais” e defendeu que os médicos de família devem ser gestores do doente no percurso ao longo da vida.
Na mensagem, Miguel Guimarães realçou que é preciso que os médicos tenham condições no Serviço Nacional de Saúde que sejam competitivas tanto com o privado como com o estrangeiro e fez notar que, além da falta de meios, “faltam milhares de médicos no SNS”. A terminar, o bastonário realçou que “as áreas mais isoladas estão cada vez mais esquecidas”.

Gazeta das Caldas
A ajuda das tecnologias no combate à diabetes foi um dos temas centrais do congresso que levou mais de 200 médicos ao CCC | I.V.

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