“Uma forma de arte como outra qualquer” é assim que Ricardo Silva, residente em São Martinho do Porto, descreve o trabalho artístico que desenvolve em computador, através de fórmulas matemáticas da família dos fractais, para gerar diferentes imagens, pixel a pixel.
Embora esta actividade seja para Ricardo Silva um hobbie que o acompanha há 15 anos, é ainda desconhecida da maioria das pessoas, apesar de a vermos frequentemente nos ecrãs do cinema sem sabermos do que se trata ou como se cria.
Este técnico de business intelligence da Microsoft explica que as imagens são criadas através de fórmulas matemáticas em diferentes programas como o Terragen, Maya, entre outros, que geram paisagens, imagens abstractas ou fluídos, como cataratas ou oceanos, que vemos frequentemente em filmes oscarizados como o Avatar, o Senhor dos Anéis, o Titanic, ou o Pirata das Caraíbas.
Segundo Ricardo Silva, o processo de concepção de cada imagem é longo. “podendo demorar semanas e até meses” para alguns segundos de filme, conta. “Nalguns filmes, que utilizam esta tecnologia para fazer o rendering das imagens, são utilizados 4000 ou 5000 computadores”, diz.
Apesar da beleza das imagens geradas, Ricardo relata que quando começa a criar não tem nenhuma ideia do que pretende. “As ideias vão aparecendo, mas a partir do momento em que surgem quem controla a sua evolução é a própria imagem”, diz.
“Tudo é criado desde as sombras, aos efeitos atmosféricos, luzes, cores, reflexos, para fazer a imagem ganhar vida. É um processo penoso, este processo criativo, porque não estamos a ver nada, são apenas fórmulas, por isso temos que ir imaginando para conseguirmos trabalhar todos os elementos”.
Em Portugal, Ricardo Silva refere que ainda não há muita divulgação sobre este trabalho, “embora no mundo haja já muitas pessoas a trabalhar na área”.
E será isto arte?
“As pessoas têm tendência a dizer não, embora eu discorde. Para mim arte é qualquer coisa em que nós utilizamos uma ferramenta e nos exprimimos através dela. Provavelmente quando apareceram os primeiros pincéis e tintas, alguém dizia que aquilo não era arte porque estava a usar-se tinta”. Ou seja, “o que faço é arte, é uma forma de expressão em que uso uma ferramenta diferente, mas não me parece menos meritório do que se o fizesse em óleo”.
Embora nunca tenha exposto os seus trabalhos, na internet Ricardo Silva (que utiliza o nome artístico de Cardory Van Rij) tem mais de 90 quadros publicados e cerca de 1000 seguidores no Facebook, alguns da China, Arábia Saudita, Dubai e Portugal, entre outros.
Ao longo dos anos, Ricardo já criou milhares de imagens, que têm evoluído de qualidade ao ritmo da evolução da tecnologia, que tem sido “enorme”.
“O que se pode fazer hoje não tem nada que ver com o que se fazia há quatro ou cinco anos atrás. Há uns anos não se podia fazer isto em casa porque não tinha poder de computação, hoje até animações com composição de música faço”, diz.
A introdução de Ricardo Silva nesta área teve início através do contacto com cientistas que trabalharam na NASA, há muitos anos, que lhe falaram da aplicabilidade dos fractais. A curiosidade e alguma pesquisa fizeram o resto, dando lugar a um hobbie que se transformou numa paixão. Hoje, Ricardo Silva trabalha na Microsoft, em Lisboa, e está a frequentar um mestrado de Gestão, em Inglaterra, relacionado com liderança, inovação e mudança, no sentido de “perceber que fenómenos movem as grandes organizações, uma vez que lido com elas diariamente no meu trabalho”, diz.
A sua tese final de curso pretende ser uma partilha da sua experiência profissional, mostrando quais os factores fundamentais numa organização e de que modo a tecnologia permite potenciar os negócios. “Muitas formas de negócio que conhecemos só existem por causa das tecnologias, o ramo das telecomunicações é disso exemplo”, refere.
Ricardo Silva diz que vai continuar a trabalhar e a melhorar a qualidade das suas imagens, não só pelo aspecto lúdico, mas também porque considera ser uma boa ferramenta para incentivar as pessoas na utilização da Matemática. “Quando falamos disto falamos de conhecimentos na área da trigonometria, do cálculo diferencial e de desenvolver a capacidade de colocar as coisas num espaço”, conclui.
Ana Elisa Sousa
asousa@gazetadascaldas.pt






























