A alimentação está em mudança constante e os hábitos dos consumidores são muito variados. A capacidade económica fará a destrinça entre o que vamos comer
O leitor já ouviu, certamente, falar em alimentação macrobiótica ou gastronomia molecular. Estes são conceitos que se têm vindo a tornar correntes, um pouco à imagem do que sucedeu a alimentação vegetariana ou vegan, alternativas que, até há um par de anos, pareciam algo de inusual. O futuro da alimentação é uma perfeita incógnita, mas parece cada vez mais certo que a capacidade económica dos consumidores será o aspeto decisivo para se perceber o que cada pessoa passará a comer.
Mesmo “sem querer fazer futurologia”, o chef Ricardo Raimundo acredita que as tendências na nossa alimentação “irão estar dependentes do fator urbano vs rural e económico-financeiro das famílias”.
“Temos o consumidor que com menos possibilidades económicas e que recorre à grande distribuição ou supermercados, onde o fator preço e comodidade é prioritário sem olhar à qualidade, origem ou mesmo os conservantes existentes nos ingredientes ou alimentos processados e refeições prontas”, identifica o professor, olhando, depois, “tro tipo de consumidor que avalia a relação qualidade/preço, proximidade e até mesmo a sazonalidade dos alimentos. Este está em minoria e, muitas vezes, está mais desperto para outras ofertas, como o bio ou km Zero, estando assim mais disponível e com melhor capacidade financeira”.
“Vivemos numa era de transformação e revolução na alimentação do ser humano, a tecnologia, a ciência, a investigação, a indústria alimentar, a fácil mobilidade entre muitos outros mudaram o que comemos hoje”, nota o beneditense, formador na Escola Superior de Tecnologia do Mar de Peniche e que colabora com várias empresas da região num projeto de criação e desenvolvimento de novos produtos gastronómicos..
Este profissional salienta que, “tendo em conta as mudanças a que tivemos que nos adaptar impostas por uma pandemia em cerca de um ano e meio”, os nossos hábitos e costumes de vida “alteraram a alimentação que levávamos anteriormente em alguns aspetos”. E os consumidores denotam cada vez maiores preocupações com os alimentos que ingerem.
“O facto de a própria medicina ter evoluído também nos tem despertado para imensas doenças de origem alimentar, pois destacam se na sua origem o excesso de sal e de açúcar como as mais difíceis de combater”, frisa Ricardo Raimundo, que antevê um futuro onde “as alergias, hábitos e escolhas ou regimes vão influenciar o que comemos e os mercados disponíveis”.
“Temos assistindo a uma tendência de um aumento na área de produtos naturais, saudáveis, de bem estar, vegan, bio, sem glúten ou alternativas a carnes e produtos de origem animal por muitos outros”, nota o premiado chef, que destaca, igualmente, outras questões fundamentais para o futuro da alimentação de todos nós.
“A sustentabilidade e o desperdício alimentar são cada vez mais aspetos a ter em conta, ainda que por vezes não se consiga colocar em prática tanto quanto gostaríamos. Há hoje mais pessoas e organizações dedicadas à redução do desperdício alimentar e chegam a pessoas mais vulneráveis e necessitadas alimentos em muito bom estado”, sublinha este verdadeiro embaixador dos produtos regionais, que têm vindo a promover através de inúmeras iniciativas com players regionais.
E como poderá evoluir a alimentação dos habitantes do Oeste, tendo em conta a qualidade e variedade dos produtos autóctenes de que dispomos?
“Continuaremos a ter uma região Oeste com a valorização dos principais produtos aqui produzidos, principalmente pelas características de micro clima e proximidade ao mar. Há várias empresas e pessoas da região a trabalhar em excelentes produtos que irão chegar à nossa mesa cada vez com mais sabor e qualidade”, garante o chef, que demonstrou ser capaz de servir uma ementa de grande qualidade para o nosso futuro alimentar. ■































