Cerca de 150 médicos marcaram presença nas XXVIII Jornadas de Cardiologia, que decorreram nas Caldas da Rainha nos dias 4 e 5 de Outubro. Os desafios colocados aos Hospitais Distritais foram o mote para a reunião deste ano com a discussão a centrar-se no intercâmbio que é necessário existir entre os equipamentos e a motivação que tem que ser incutida aos profissionais de saúde.
“Sem médicos não há hospitais”. A frase parece óbvia e Ernesto Carvalho, director do Serviço de Cardiologia do CHO, e organizador destas jornadas, não se cansa de a repetir. Defende que os médicos têm que ser motivados e que isso passa pela dignidade no trabalho, no respeito e pela diferenciação, já que através da remuneração salarial não é possível pois os salários estão congelados no sector público.
“Toda a minha luta passa por dizer aos meus colaboradores que têm boas condições de trabalho e equipamento diferenciados”, disse, acrescentando que agora é importante que a manutenção vá sendo feita.
Com a recente fusão dos hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras, os serviços estão a ser reorganizados. Actualmente, o de Cardiologia continua a funcionar nos hospitais das Caldas e de Torres, com uma equipa de seis pessoas, coordenada por Ernesto Carvalho que diariamente vai aos dois hospitais.
“Estou a tentar e a conseguir que a valência esteja nos dois hospitais durante toda a semana”, disse o responsável, acrescentando que apenas os exames mais diferenciados têm que ser feitos nas Caldas da Rainha.
Ernesto Carvalho acredita que o futuro deste serviço defende da capacidade de reorganizar os serviços e tentar motivar os seus profissionais, com instalações e equipamentos, pelo que estão a enveredar todos os esforços para que a qualidade dos serviços cardiológicos prestados nos dois hospitais sejam idênticos.
O cardiologista defende ainda que é necessário passar uma mensagem de tolerância aos profissionais de saúde e também haver mais diálogo para que estes se sintam motivados.
Também presente na cerimónia de abertura das jornadas, o presidente do Conselho de Administração do CHO, Carlos Sá, corroborou da importância de se motivarem os colaboradores, especialmente em períodos de crise como o que o país atravessa actualmente. Na sua opinião, uma das formas mais eficazes de o fazer é através da troca de experiencias e reflexão sobre realidades diferentes.
“Não é aceitável o racionamento em saúde”
Pedro Coito, em representação do Bastonário da Ordem dos Médicos, considera que Portugal tem um dos melhores sistemas de saúde do mundo, mas vê com muita “apreensão” a degradação das condições de trabalho do Serviço Nacional de Saúde. “Sentimos a insatisfação e dificuldades de muitos colegas e lamentamos o manifesto agravamento do estado de saúde do país”, disse.
O representante da Ordem dos Médicos lembrou que muitas vezes as soluções que propõem não são as executadas.
Pedro Coito defendeu que é essencial assegurar a manutenção dos equipamentos e a regular existência de consumíveis, destacando que “não é aceitável o racionamento em saúde”, daí podendo advir consequências negativas e imprevisíveis.
Referindo-se ao Hospital Termal, o responsável disse que o que se passa actualmente com aquele equipamento é de “cortar o coração”. Também o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, manifestou a sua preocupação com o Hospital Termal e disse que a autarquia está disponível, caso a administração central não garanta o investimento, para assumir as responsabilidades da sua reabertura, em parceria com a tutela. Tinta Ferreira manifestou ainda a disponibilidade do município para contribuir “para que se produza melhor saúde nas Caldas”.
O vice-presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco, centrou a sua intervenção na integração de cuidados. As novas políticas vão no sentido de colocar hospitais, cuidados primários e os cuidados continuados a trabalhar em conjunto, de modo a facilitar a circulação dos cidadãos entre estes três níveis de cuidados.
Com a reorganização diminuiu-se de 22 para 15 o número de agrupamentos de centros de saúde na área de Lisboa e Vale do Tejo. Desta forma procurou-se colocar os agrupamentos de centros de saúde e os cuidados primários na mesma área geográfica dos hospitais.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt





























