Mais de 250 pessoas estiveram presentes na apresentação do livro da Gazeta das Caldas no CCC, numa cerimónia que serviu também para comemorar os 93 anos deste semanário e da sua irmã gémea (que foi fundada no mesmo dia e ano), a Banda Filarmónica das Gaeiras, a qual brindou os presentes com um concerto. A noite teve os discursos da praxe, alternados por momentos musicais, e caracterizou-se sobretudo por muitas palmas e uma contagiante alegria.
Foi ao som da Banda das Gaeiras, que esperou pelo público ao cimo das escadas do CCC, que a noite começou e foi com um concerto desta banda que a noite terminou. Na impossibilidade de actuarem os 17 ranchos e sete bandas filarmónicas retratadas no livro, foi à agremiação gaeirense que a Gazeta das Caldas dirigiu o convite para animar a noite, tendo em conta que foi também no dia 1 de Outubro de 1925 que aquela banda foi fundada. José Luís de Almeida e Silva, director da Gazeta das Caldas, chamou-lhe “irmã gémea”.
Mas havia também um grupo de nove músicos – com cinco acordeões, uma gaita de foles, um cavaquinho, uma viola tueira e um almude – que emprestaram igualmente muita animação ao evento e, estes sim, representantes de praticamente todos os ranchos folclóricos das Caldas da Rainha e de Óbidos, dado que os seus elementos tocam em diferentes grupos.
“Pensava-se há uns anos atrás que estas colectividades iriam desaparecer devido à televisão e à Internet, mas aconteceu o contrário – as bandas reforçaram-se e tornaram-se autênticas escolas de música, e os ranchos transformaram-se em depositários daquilo que é genuíno da vida das pessoas”, disse o director da Gazeta das Caldas.
O AMOR À CAMISOLA
Maria Beatriz Raposo, que entre 2015 e 2017 escreveu as reportagens agora compiladas em livro, fez a intervenção mais emotiva da noite ao partilhar com o público as suas dificuldades e receios perante a tarefa que tinha pela frente, acabando por, afinal, ficar grata pelo muito que aprendeu e como ficou a admirar e a valorizar as gentes das colectividades.
“Com estes artigos na Gazeta quisemos dar a conhecer o lado humano da realidade das bandas e dos ranchos, contar como têm evoluído ao longo dos tempos e quais as alegrias e dificuldades que se vivem no dia a dia destes grupos”. A ex-jornalista – que entretanto abraçou um outro projecto profissional em Lisboa – contou que aprendeu que hoje as filarmónicas também actuam em auditórios e que têm um repertório muito diversificado. “Mantêm a música popular, mas também tocam registos pop, clássico, bandas sonoras de filmes e têm uma preocupação por incluir compositores portugueses”, disse.
“Com os ranchos aprendi muito sobre os costumes antigos da nossa região, aprendi o verdadeiro significado dos fadinhos, dos viras e dos corridinhos e o nome dos objectos agrícolas de que não fazia ideia”.
Beatriz Raposo deu-se ainda conta das dificuldades destes grupos em ter gente jovem, em comprar instrumentos em deslocar-se aos locais de actuação, mas sublinhou que em todos ouviu uma expressão várias vezes repetidas – “amor à camisola”.
O presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, também se referiu às dificuldades das bandas e ranchos em recrutar gente jovem, afirmando que isso merece uma reflexão “porque numa época de globalização, se nos quisermos afirmar, temos que ser diferentes, distintos e autênticos, temos que ser o lugar da memória e da identidade e insistir nas nossas tradições”. Referiu ainda que as crianças que hoje frequentam estas colectividades, tornam-se mais capacitadas no futuro para serem mais bem sucedidas.
O autarca reafirmou a vontade do seu município em ajudar as bandas filarmónicas e os ranchos, admitindo mesmo que esse esforço possa ser conjunto com o município vizinho das Caldas “porque um todo regional é melhor que um somatório das partes”.
Referindo-se à Gazeta das Caldas e aos seus 93 anos, o presidente da Câmara de Óbidos sublinhou a importância deste jornal, que classificou de “uma verdadeira escola de jornalismo”, acrescentando que só com muita carolice e resiliência – tal como acontece nas bandas e nos ranchos – é que é possível ter este jornal com 93 anos de História.
MAIS RANCHOS HOJE DO QUE HÁ 20 ANOS
Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas, também deu os parabéns à Gazeta das Caldas, pelo seu aniversário e por ter tomado esta iniciativa. O autarca disse que percebia as preocupações das colectividades em relação ao futuro por causa da evolução demográfica negativa, mas constatou com agrado que hoje há mais ranchos nas Caldas da Rainha do que há que 15 ou 20 anos. Já as bandas são as mesmas quatro desde há muitas décadas.
Em todo o caso, na sua opinião, “os concelhos das Caldas e de Óbidos conseguem ter uma evolução e uma dinâmica social muitos pontos acima da média do resto do país”.
Um dos momentos altos da noite foi a entrega a todas as colectividades de uma moldura com a reprodução do artigo da Gazeta das Caldas aquando da sua publicação inicial nas páginas do jornal. Um a um, os representantes das bandas e dos ranchos vieram ao palco e receberam, das mãos dos trabalhadores da Gazeta, aquela recordação que certamente ficará afixada nas sedes das colectividades.
Com a habitual entusiástica locução de João Carlos Costa, o evento prosseguiu com um concerto da Banda Filarmónica das Gaeiras, que abriu com a marcha Everest, de Jacob de Haan. Deste compositor, tocaram ainda Odília e Virgínia, mas trouxeram também a fantasia Fandango, de Hans van der Heide, e Folk Dances, de Dmitri Shostakofich.
O concerto terminou em apoteose, com uma sala visivelmente satisfeita a ouvir Fantasia Alfacinha, de Álvaro Reis.
TESTEMUNHOS
“Reportou-me um pouco à minha infância”

“Gostei imenso. Desde logo pelo assinalar dos 93 anos da Gazeta das Caldas, jornal que recebemos sempre. Moro perto da Foz do Arelho, o meu marido é assinante há anos e recebemos o jornal todas as sextas-feiras e adoro lê-lo.
Já tinha visto que os artigos tinham sido publicados há algum tempo e agora juntar a data de aniversário da Gazeta à tradição popular foi a cereja no topo do bolo.
Adoro bandas filarmónicas. O meu tio pertencia a uma banda filarmónica e o meu avô vivia frente à sede da banda e eu ía para lá ouvir os ensaios. Reportou-me um pouco à minha infância”.
Eduarda Oliveira, Fanadia
“Não podemos deixar cair estas tradições”

“Foi uma iniciativa muito interessante. As pessoas que estão ligadas a estas áreas dos ranchos e das bandas são voluntárias, inclusivamente as direcções, e isto é um incentivo para as pessoas continuarem o seu trabalho, porque não podemos deixar cair estas tradições dos nossos antepassados. E também é importante que haja esta divulgação da nossa região e da
nossa cultura.”
Natália Silva, Gaeiras
“Caldas foi formatada pelas pessoas das aldeias”

“Este livro é um testemunho, um registo que vai ficar e que ainda não existia. É interessante saber que em determinado momento existia este valor. Achei esta iniciativa muito interessante porque costumo dizer que as Caldas foi um pouco formatada pelas pessoas das aldeias, pois todo o bulício da cidade dependia da vinda das pessoas das aldeias que vinham fazer as trocas comerciais. As Caldas cresceu com esse sentimento dos aldeões e é interessante que se perceba isso, com os ranchos.
Quando acontecem estes eventos percebemos a adesão e a alegria que se vive, e isso é muito interessante”.
Sérgio Pereira, Fanadia
“É importante saber o trabalho que isto dá”

“A iniciativa foi muito boa, gostei muito. É importante dar a conhecer todas as histórias dos ranchos folclóricos, das bandas filarmónicas e de tudo o que é a cultura do povo. Faço parte do Rancho da Capeleira, estava lá quando foi feita a entrevista, embora agora não faça parte da direção. É importante o povo saber todo o trabalho que isto dá e o valor que tem.”
Luís Agostinho, Capeleira (Óbidos)
“Motivar as gerações futuras”

“Acho muito importante este tipo de iniciativa, porque é um documento histórico que não só serve para recordar o que foram e são estes grupos, como para motivar as gerações futuras a integrarem estes projectos, que são uma grande mais-valia, porque é difícil captar os jovens para estas actividades.”
Ana Pereira, Caldas da Rainha
“Um trabalho interessantíssimo da Gazeta”

“Fazendo eu parte de um grupo de folclore, achei que foi um trabalho interessantíssimo da Gazeta, que fica para memória futura. Também achei o espectáculo muito bom, foi uma noite muito agradável. É importante que a comunidade saiba a realidade destes grupos que representam a nossa cultura.”
Ana Maria Pereira, Fanadia
“Divulgar e preservar as tradições”

“Um exemplo que costumo dar nos ensaios do nosso rancho é que o nosso trabalho não é só o espectáculo em si, que damos para agradar as pessoas. Em qualquer lado que vamos é levar o nome e a cultura da terra a um ponto diferente daquele em que moramos, divulgar e preservar essas tradições que são importantes para a nossa região e também para o país. Esta iniciativa da Gazeta é um contributo para que essa divulgação seja também feita, da cultura, dos valores, e também de todo o trabalho e esforço que estes grupos, os seus elementos, direcções e mesmo os pais desenvolvem.”
Bruno Fernandes, Capeleira (Óbidos)
“Apreciar a beleza de cada cultura”

“Acho que é sempre muito interessante quando o concelho coloca em relevo todas as suas associações e colectividades, nomeadamente aquelas que fazem prevalecer a cultura como é o caso das bandas, numa cultura mais erudita, e os ranchos, numa cultura mais popular. Apesar de serem aspectos de cultura diferentes, a sinergia da colectividade é a mesma e consegue haver um certo mutualismo entre elas.
Conseguir apreciar a beleza de cada cultura é muito interessante, assim como a troca de experiências”.
Joana Filipe, Fanadia
F.F. / J.R.






























