Seminaristas falaram de fé nas ruas da Benedita

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Quem passou pelo centro da vila da Benedita entre os dias 9 e 24 de Junho deve ter reparado num grupo de jovens que abordavam os transeuntes e lhes falavam de fé. A paróquia foi escolhida para o “Campo de Evangelização” dos 21 rapazes que estão no primeiro ano do Seminário Patriarcal de São José de Caparide, em Cascais.
Durante duas semanas, nas quais foram acolhidos por diversas famílias beneditenses, os jovens seminaristas saíram às ruas e andaram de porta em porta a falar de Jesus Cristo a quem lhes dava um pouco do seu tempo. Desafiaram ainda a comunidade a escrever à mão o Evangelho de São Marcos. E de acordo com o padre Nuno Amador, vice-reitor do Seminário de Caparide que os acompanhou nesta estadia na Benedita, foram “muito bem recebidos”.
Numa altura em que são conhecidas as dificuldades por que passam muitas famílias, os jovens encontraram uma “sede diferente” nas pessoas que abordam, deparando-se com “uma abertura maior, que não existe quando todas as necessidades estão satisfeitas”. Por isso, o padre Nuno Amador diz que “talvez não seja mais difícil evangelizar” em tempos difíceis, em que as pessoas se colocam “novas questões quanto ao sentido das coisas”.
Na sua passagem pela Benedita, os seminaristas levaram a cabo um vasto programa de actividades, muitas delas direccionadas para os jovens.
A adesão da comunidade superou as expectativas. As duas conferências realizadas, que tiveram sala cheia, são a prova disso. “As pessoas não estavam preparadas mas mostraram-se abertas e receberam bem”, diz o pároco da Benedita, Armindo Reis, acrescentando que “os rapazes estão contentes e nós também ficamos satisfeitos”.
Mas nem só de evangelização se fez esta estadia na Benedita. Os 21 seminaristas passaram grande parte do tempo em contacto com os utentes da Santa Casa da Misericórdia e com as crianças que frequentam as Actividades de Tempos Livres do Centro Social Paroquial da Benedita. Viram os jogos da selecção portuguesa no Campeonato Europeu de Futebol, participaram em torneios e alguns deles deram ainda algum do seu tempo para ajudar pessoas necessitadas da freguesia, nomeadamente na limpeza de habitações.
O Campo de Evangelização marca o encerramento do ano lectivo do primeiro dos sete anos que os jovens vão passar no seminário, antes de serem ordenados padres. Neste ano, denominado propedêutico, os jovens passaram já algumas semanas em trabalho no Hospital de Santa Maria e na Casa de Saúde do Telhal, que é um hospital psiquiátrico.
No que diz respeito aos seminaristas, estes tempos de trabalho são uma forma de os jovens perceberem parte do trabalho de um padre e a importância do contacto com as pessoas. Nos locais por onde passam, o impacto é ainda maior. No caso da Benedita, havia crianças que diziam que quando fossem grandes queriam ser seminaristas e os idosos do lar da Misericórdia não escondiam a satisfação por verem as instalações animadas por gente mais nova.
A comunidade também não fica incólume à passagem dos seminaristas. “Olhar para estes rapazes e ver neles a vontade de serem padres e seguir a Igreja, tem tocado muito as pessoas, quer os jovens, quer adultos e até crianças”, afiança o padre Armindo Reis.
O pároco da Benedita salienta ainda a importância de dar a conhecer os seminários dos dias de hoje. “A Benedita tem muitos ex-seminaristas, mas de um tempo em que o seminário era diferente e era visto por muitos apenas como uma casa que lhes dava a oportunidade de estudar”, diz.
O grupo que esteve na Benedita é a prova de que hoje a fé tem muito mais peso na decisão dos jovens em ingressar no seminário. Alguns dos rapazes que estiveram na Benedita vinham do Seminário Menor (onde os menores recebem formação para o Seminário Maior), mas muitos deles estavam a frequentar o ensino superior e alguns estavam já integrados no mundo do trabalho. Agora têm pela frente um percurso que dura, no mínimo, sete anos: um para o ano propedêutico que está a acabar, cinco anos para tirarem o curso de Teologia e um ano pastoral.

“Como seminaristas aprendemos a servir”
Foi com 18 anos que Tiago Esteves ingressou no Seminário de Caparide. Natural das Caldas da Rainha, de onde saiu com 15 anos, Tiago não se lembra bem como nasceu a ideia de ser padre. “A partir dos 13 comecei a pensar em entrar no seminário e a falar com alguns padres sobre isso”, diz o jovem. “Lembro-me que a minha catequista me punha a dar catequese e eu gostava. E depois o meu prior chamou-me para ser acólito e eu também gostava”, acrescenta.
Na Benedita, Tiago Esteves diz ter ficado muito impressionado com o elevado número de jovens da freguesia. “É uma vila cheia de jovens e eu não estava à espera, diz, satisfeito por neste Campo de Evangelização se ter conseguido equilibrar o contacto entre jovens e idosos.
“É curioso ver como se toca o mais novo e o mais velho. Aquilo que damos, a alegria que mostramos, tem que ser a mesma, sempre”, defendeu.
“Estas experiências mostram que o padre tem sobretudo que ser um homem muito humano, o padre está para servir e nós, como seminaristas, aprendemos a servir. Este é um ano de aprender a servir, o que é muito importante”, salienta o jovem no balanço do seu primeiro ano de Seminário.

“Passei a ver a figura de um padre como alguém que dá a vida aos homens”
O percurso de Luís Trocado, de 23 anos, é bem diferente. Quando decidiu ir para o seminário, o jovem já estava a tirar Engenharia de Gestão Industrial.
Esta decisão não foi imediata. “Foi uma coisa bastante prolongada até. Há alguns anos a minha imagem do seminário era de uma coisa muito horrível e muito negativa, de pessoas frustradas da vida que iam parar ao seminário porque já não tinham mais nada que fazer, porque onde eles estavam corria mal”, conta. O que mudou? “Foi a minha experiência de Igreja, o que fui vivendo na Igreja, na paróquia, o que fui crescendo na fé”, conta o jovem.
Luís Trocado diz ter percebido que “ser padre não é assim uma coisa tão horrível e tão para gente estranha, muito pelo contrário. Passei a ver a figura de um padre como alguém que dá a vida aos homens e como isso tem tanto valor e há pouca gente a arriscar isso. Percebi que isto da vida tinha sentido quando se dava aos outros”.
Nesta “grande inversão” da sua maneira de pensar houve ainda um aspecto fundamental. Luís tem um irmão gémeo que já entrou para o seminário há dois anos. “Ajudou-me vê-lo a crescer e vê-lo verdadeiramente feliz como eu nunca o vira”.

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Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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