A procissão do Enterro, que percorre as ruas da vila apenas iluminada por archotes, foi um dos pontos altos das celebrações, que este ano voltaram a ser presenciais e levaram milhares de pessoas a Óbidos
As celebrações com a presença de público estão de volta e em Óbidos foram muitas centenas os fiéis e turistas que acompanharam as várias cerimónias da Semana Santa. Entre elas, a mais emblemática será a procissão do Enterro, que decorreu na noite de Sexta-feira Santa, pela vila, às escuras, apenas iluminada pelos archotes transportados pelos escuteiros.
Daniel Sousa participa na organização destas cerimónias há 28 anos. Tudo começou com a retoma da procissão da Ordem Terceira, que desde os anos 60 do século XX não se realizava, e desde então nunca mais deixou a equipa. Natural de Óbidos, lembra-se de presenciar as cerimónias em criança, acompanhado pela mãe, e do avô materno lhe contar “como era levar” o andor do Senhor dos Passos. “Sou católico e sinto que, enquanto membro desta comunidade viva, devo colaborar num dos pontos altos do Ano Litúrgico”, refere o obidense, de 45 anos, para quem a Semana Santa faz parte de Óbidos e das pessoas de Óbidos.
Em 28 anos as tarefas realizadas já foram muitas, desde ajudar na preparação, e depois participar, na Procissão da Ordem Terceira, à preparação das cerimónias religiosas, ou como funcionário da empresa municipal, participar na dinamização das atividades culturais que também compõem o programa. Desde 2017 que Daniel Sousa integra a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e apoia diretamente o provedor nas tarefas de preparação de tudo quanto é necessário para a realização das procissões e outras cerimónias como o Auto do Descimento da Cruz.
A Misericórdia de Óbidos é detentora de todo o património que desfila nas procissões e é esta entidade, juntamente com a Paróquia e a autarquia, que compõem a Comissão da Semana Santa. Carlos Orlando, provedor desta instituição e elemento da comissão, destaca a elevada afluência às cerimónias, apesar da organização estar apreensiva relativamente às pessoas a contatar para participar nos cortejos. Esta adesão é também uma “motivação para a Misericórdia continuar o restauro e a aquisição de novas alfaias para utilizar nas cerimónias”, explica à Gazeta das Caldas.
E, se inicialmente o também provedor da Misericórdia, estava apreensivo se o número de pessoas para desfilar nas procissões seria suficiente para colocar os cortejos na rua, a resposta entusiasta que registou, leva-o a dizer que, nos próximos anos, as cerimónias são para repetir ou mesmo aumentar.
“As pessoas tinham saudades das cerimónias da Semana Santa, que é o mais antigo cartaz turístico de Óbidos”, salienta Carlos Orlando, acrescentando que a comissão está empenhada em juntar as “forças vivas” nestas celebrações que são de todo o concelho.
Estas celebrações “são a prova de que os dois anos de pandemia e de regras sanitárias muito rigorosas não fizeram as pessoas perder a sua fé, antes pelo contrário, voltámos a sair com as nossas procissões mais emblemáticas, que tiveram a presença de muitos fiéis”, complementa Daniel Sousa.
Também o pároco de Óbidos, Ricardo Figueiredo, considera que a participação nestas celebrações superaram as expetativas. “Depois deste tempo de pandemia foi extraordinário ver a adesão das pessoas, tanto dos obidenses como dos turistas”, salientou, dando nota do elevado número de presenças tanto nas celebrações litúrgicas como nas procissões. “A altura da Páscoa foi o momento para regressar à vida cristã”, salientou o pároco que, na quarta-feira Santa, esteve 12 horas a confessar fiéis.
A nível cultural, o município apostou este ano, principalmente, em grupos do concelho de Óbidos. De acordo com o presidente da Câmara, Filipe Daniel, “são projetos de excelência que depois de dois anos de pandemia, finalmente, voltaram a atuar”. No próximo ano, a autarquia pretende um ainda maior envolvimento de toda a comunidade do concelho numa perspetiva de ganhar maior destaque neste evento, concretiza o autarca, destacando que as celebrações constituem-se como um “património de grande valor”. ■































