Semana Santa não adiou iniciativas, apesar do mau tempo

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Um dos momentos do Auto

Iniciativas da Semana Santa de Óbidos realizaram-se nos dias previstos apesar da chuva. Na sexta-feira, 29 de março, decorreu o Auto do Descimento da Cruz que é representado em Óbidos há 100 anos. Evento integra, pelo segundo ano consecutivo, coloridos tapetes feitos de sal que aludem à quadra

Ao final da tarde de sexta-feira, 29 de março, chovia copiosamente na vila de Óbidos. Ainda assim, a organização da Semana Santa decidiu avançar com a representação do Auto do Descimento da Cruz com dezenas de pessoas a tentar abrigar-se debaixo de alpendres, telheiros e chapéus de chuva para assistir à “teatralização religiosa” representando a retirada do Senhor da Cruz. A última vez que esta celebração aconteceu em Óbidos foi em 2014. Dela fazem parte 30 personagens, entre os quais soldados romanos, amigos de Jesus, as Marias, São João e Nossa Senhora.
“Não cancelamos nenhuma iniciativa ao contrário de Braga que optou por não realizar as atividades”, disse no final da representação, a vereadora da Cultura, Margarida Reis, que deu a conhecer que essa decisão foi consensual com as Paróquias e a Misericórdia local.
Depois da imagem de Cristo ter “descido” da Cruz, é carregada em procissão até à Igreja da Misericórdia. À noite, da mesma Igreja, saiu a Procissão do Enterro do Senhor que, à luz de archotes, percorreu a vila, levando o Senhor até ao sepulcro. A cerimónia foi presidida pelo cardeal patriarca, Rui Valério.
“Mesmo a chover, as pessoas estavam ansiosas para representar o auto e mesmo a imagem de Cristo estava protegida para não se estragar com a chuva”, referiu Carlos Orlando, provedor da Misericórdia e presidente da Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos.

Tapetes de Sal sobre a época
Pelo segundo ano consecutivo, os colaboradores da biblioteca municipal em conjunto com um grupo de voluntários , dedicaram-se à realização dos tapetes de Sal há alguns meses. Na fase de concretização, a comunidade foi convidada a participar nesta iniciativa que foi ensinada a vários obidenses, no ano transato, por pessoas de localidades do Norte do país onde esta tradição se encontra enraizada.
Inicialmente os tapetes seriam colocados na rua mas, por causa do mau tempo, optou-se pelo interior da Igreja de Sta. Maria que acolhe 12 painéis coloridos com símbolos religiosos, associados à Páscoa. Têm início com referências ao Domingo de Ramos e terminam no Domingo de Páscoa, com detalhes dos Bordados de Óbidos.
Para a execução dos 12 painéis foram usadas 22 cores e mais de 800 kg de sal. E as cores também têm significado: nos primeiros painéis, referentes ao Domingo de Ramos, são escolhidas cores claras que transmitem harmonia, paz e tranquilidade. A partir do painel que simboliza a Quinta-Feira Santa, as cores mudam, tornando-se mais escuras e intensas. O painel da Sexta-Feira Santa representa o auge de dramatismo e do sofrimento e, como tal, foram usados tons mais escuros e pesados, como azul escuro e vários tons de roxo, consonantes com a tristeza e melancolia. Os trabalhos que simbolizam o Sábado voltam às cores mais claras e vivas. Já os três últimos painéis, que simbolizam o Domingo de Páscoa e a Ressurreição, foram feitos em tons claros e vivos pois aludem à alegria, à vida e esperança.

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Bordados celebram 70 anos
No topo da construção dos painéis, encontram-se motivos que compõem o Bordado de Óbidos, que foram retirados do teto da Igreja de Sta. Maria.
Segundo a vereadora da Cultura, Margarida Reis, os bordados de Óbidos assinalam este ano o seu 70º aniversário. As cores usadas nos painéis são as mesmas do Bordado de Óbidos (azuis, verdes, amarelos, castanhos e rosas fortes).
“Fruto de um grande esforço por parte da comunidade, a quem o município agradece a dedicação dispensada, o resultado foi extraordinário e enaltece os símbolos religiosos”, resumiu a vereadora acrescentando que a execução de painéis de sal poderá inclusivamente estender-se às freguesias de Óbidos, na próxima Páscoa.
“Há mais turistas durante a Semana Santa a visitar a vila e com estadias de mais dias”, disse Carlos Orlando, provedor da Misericórdia. O padre Valter Malaquias, da Paróquias de Óbidos, relembrou que este foi o primeiro ano que Óbidos já integra a Rede Europeia das Celebrações da Semana Santa e da Páscoa. Esta possui 22 membros – como Espanha, Portugal, Itália, Malta, Sérvia – e pretende alargar a mais membros. Inclui Braga, Ovar, Idanha, Óbidos e Vila da Feira. Durante a quadra pascal realizaram-se concertos de música clássica, e de teor religioso, no Santuário do Senhor da Pedra. Decorreram os concertos “Vetera Vox”e “Noturnos in Sabbato Sancto”, ambos pela Academia de Música de Óbidos. O concerto “In Memoriam Christi” juntou os grupos Coral Alma Nova e Sinfonietta D’Óbidos. ■

 

Auto do Descimento da Cruz

Auto foi representado na Praça de Sta. Maria, mesmo sem tréguas da chuva

As manifestações realizadas no âmbito da Quaresma e Solenidades da Semana Santa foram generalizadas à Misericórdia, não só em Óbidos, como a todas as suas congéneres.
Assim, foi encontrado no arquivo documental da nossa Santa Casa, um escrito datado de 20 de Fevereiro de 1604, no qual o Arcebispo D. Miguel de Castro que também exerceu o cargo de vice-rei de Portugal por nomeação de Filipe II, nos dá a conhecer da autorização de “continuação da realização da procissão dos Santos Passos…” .
Os quatrocentos anos foram assinalados por ideia da Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos (ADPCO) ao município de Óbidos, que de imediato, também apoiou a publicação duma segunda edição da “Semana Santa em Óbidos”.
No presente ano, faz um século que se encontrou o primeiro registo da realização da representação do “Auto do Descimento da Cruz”, um dos pontos altos e mais dramáticos das “Celebrações da Semana Santa e Páscoa”.
O registo foi encontrado, aquando do primeiro restauro dos azulejos da igreja da Santa Casa, por um obidense da comissão das cerimónias de então.
Um pormenor curioso, encontram-se ainda registos na cimalha, além de 1924, 1928, 1931, ?, 1934, 1938 e 1945, em que se assinala a realização do “Descimento da Cruz” dentro daquele templo, onde “já não cabia a décima parte dos que desejavam assistir”.
Quando o espaço se tornou reduzido, passou para a Praça de Santa Maria, antes Cândido Avelar, onde vai ser este ano, se o tempo permitir, mantendo-se a versão atual que nos foi transmitida por Albino Manuel de Castro e Sousa e realizado, essencialmente, pela Juventude do Concelho de Óbidos, sem a quais se tornava impossível, continuar a tradição desta fé, que já vem do tempo em que a nossa Vila pertencia à Casa das Rainhas. ■ Carlos Rodrigues da ADPCO

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