“Segunda vaga” da contestação dos docentes iniciada nas Caldas

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Dezenas de professores juntaram-se nas Caldas da Rainha e prometem retomar a luta iniciada em 2008

Apesar das baixas temperaturas que se faziam sentir na noite da passada sexta-feira, 28 de Janeiro, dezenas de professores estiveram concentrados na Praça da Fruta das Caldas da Rainha. A iniciativa foi convocada pela Associação Professores e Educadores em Defesa do Ensino (APEDE), que a baptizou de “2ª vaga”, porque o que se pretende é reacender a luta contra as medidas do Ministério da Educação iniciadas há três anos.
Em causa está “o inferno burocrático da avaliação que se mantém”, bem como “a destruição da carreira docente que tem vindo a ocorrer paulatinamente”, explicou à Gazeta das Caldas um representante do núcleo local da APEDE, António Ferreira. “Hoje há uma medida, amanhã há outra, e como as pessoas não reagem, vão caindo medidas em cima de medidas”, apontou.
Entre as mudanças que acredita que vão ter um grande impacto na profissão estão, por exemplo, o final da Área de Projecto e do Estudo Acompanhado, o que vai implicar reduções de horários.
Embora os primeiros afectados devam ser os professores contratados, António Ferreira diz que deve ser acautelado o facto de poderem a vir a ser atingidos muitos dos professores efectivos “e poderá começar a aparecer um número crescente de horários zero”, situação que obriga os docentes a terem que ir trabalhar para escolas mais longe de casa.
“Nas escolas, a resistência das pessoas esmoreceu um pouco, mas nota-se que as pessoas vão ruminando um certo desalento e um certo desespero com tudo isto”, aponta. É por isso que o movimento está empenhado em mobilizar uma nova unidade entre a classe profissional.
A concentração das Caldas contou, não só com professores do concelho, mas também com docentes vindos de outros pontos do país, como Porto e Rio Maior. De Sintra deslocou-se o presidente da APEDE, Ricardo Silva, que garantiu existirem “razões muito fortes para a contestação e para que os professores voltem à rua”.

“Uma luta que foi descapitalizada e desbaratada”

Para Ricardo Silva, “é preciso recomeçar uma luta que foi enterrada, desmobilizada, por parte das direcções sindicais, que não souberam conduzir correctamente a contestação dos professores”. E a acção nas Caldas tinha como objectivo primordial “acender uma faísca que possa propagar-se”.
Quando perguntamos a Ricardo Silva se os professores se sentem mal representados nos sindicatos, a resposta não se faz tardar. “Falando como membro da APEDE, claramente”. Porquê? Porque a grande mobilização e a união da classe conseguida em 2008 permitiu uma “posição negocial forte que foi sendo sucessivamente comprometida com as assinaturas dos memorandos, de acordos”. O resultado é que “as pessoas ficam com a sensação que não vale a pena lutar porque à última hora há acordos e entendimentos entre sindicatos e Ministério que realmente não dão corpo àquelas que são as reivindicações das bases”.
Garantindo que as condições de trabalho dos professores se têm vindo a degradar ao longo de todo este tempo, Ricardo Silva diz que a luta iniciada há três anos foi “descapitalizada e desbaratada”. Mas garante que não está contra os sindicatos. “Ao contrário do que se possa pensar, nós queremos mais sindicato, melhor sindicato e mais acção”, seja em contestação às medidas do Ministério, seja “junto dos professores e em respeito pela sua opinião”.

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Mudou a ministra, mas as coisas continuam na mesma

O presidente da APEDE lamenta que os sindicatos teimem em não se associar às iniciativas do movimento de professores, e a iniciativa de dia 28 não foi excepção. Defendendo que apenas com união se consegue recuperar a força dos protestos de há três anos, Ricardo Silva diz que “isso só se consegue se a unidade for construída com os professores e os sindicatos, e não só quando os sindicatos entendem”.
Envolver os pais e encarregados de educação na luta da classe docente também não tem sido fácil. Ainda que “a degradação das condições de trabalho dos professores e do ensino possam efectivamente afectar os alunos”, Ricardo Silva diz que “os pais ainda não sentiram na pele a desmotivação que grassa entre os professores”. E isto porque “os professores têm sido extremamente profissionais e extremamente sérios, sabendo separar as suas reivindicações profissionais do trabalho em sala de aula e com os alunos”.
Para já, o movimento ainda não tem previstas outras iniciativas de contestação e mobilização da classe profissional. Mas o responsável defende que deveriam ser equacionadas formas de luta mais radicalizadas, como “um período de greve por tempo indeterminado ou até aos exames”. Tudo porque “os professores estão a ficar completamente fartos da situação em que estão a ser colocados por parte do Ministério”. E a Internet será, como tem sido, a principal aposta para a divulgação de tudo o que se possa vir a fazer.
O que é preciso é que os professores não se deixem vencer pelo cansaço, como acredita António Ferreira. Afinal, mudou a ministra, “mas as coisas continuam na mesma”, um facto que o professor atribui à falta de autonomia da tutela. “Nós sabemos que há um espartilho financeiro imposto pelo Ministério das Finanças, e por outro lado há uma posição que eu diria obsessiva do primeiro-ministro em relação aos professores”.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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