
A segunda fase de dragagens na Lagoa de Óbidos, nos braços da Barrosa e do Bom Sucesso, apenas deverá ter início em Setembro ou Outubro de 2017. A informação foi avançada pelo presidente da APA, Nuno Lacasta, durante a reunião pública da Comissão de Acompanhamento da lagoa, realizada na Foz do Arelho no passado dia 25 de Maio.
Entretanto, os presentes mostraram a sua preocupação com a toxidade dos dragados nos braços da Lagoa, pelo que a APA vai criar uma comissão técnica de acompanhamento da qualidade dos sedimentos que vão ser retirados daqueles locais.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a preparar o projecto para as dragagens no corpo superior da Lagoa, que deverá estar concluído até Agosto, de modo a lançar o concurso internacional em Outubro. O início da obra “não deverá acontecer antes de Setembro ou Outubro de 2017”, afirmou o presidente da APA, Nuno Lacasta, acrescentando que esta deverá demorar mais de um ano. O custo total estimado anda na ordem dos 16,7 milhões de euros, apoiado por fundos comunitários.
Esta intervenção prevê a dragagem de 850 mil metros cúbicos, que incidirão sobre o canal central, um canal no braço do Bom Sucesso e outro na Barrosa, assim como de duas bacias, uma junto à Foz do Rio Real e outra junto ao Braço da Barrosa.
Está prevista também a valorização da zona a montante do rio Real numa área de 78 hectares, que no passado foi já utilizada na deposição de dragados.
Os trabalhos a realizar pretendem aumentar a quantidade e qualidade de água armazenada na Lagoa, evitar o isolamento dos braços da Barrosa e Bom Sucesso e contrariar a progressão da Foz do Rio Real, onde se têm acumulado os sedimentos.
“Não deixaremos de assegurar uma malha fina de análise, monitorização e de garantia de qualidade dos sedimentos que forem retirados”, garantiu Nuno Lacasta, acrescentando que manterão informados todos os intervenientes e a população.
O responsável justificou ainda o atraso da reunião com a espera dos resultados dos relatórios de verificação e monitorização da primeira fase de dragagens.
“A conclusão dos relatórios técnicos é a de que a obra conforma com o projecto”, disse Nuno Lacasta, destacando que actualmente entra mais água na Lagoa do que antes da intervenção. Contudo, o LNEC recomenda que se continue a monitorizar o assoreamento na área da embocadura e a APA está disponível para, se necessário, voltar a retirar areias naquele local.
O responsável disse ainda que estão a estudar a possibilidade de, juntamente com as câmaras das Caldas e de Óbidos, ver da viabilidade económica e técnica de adquirir uma draga de manutenção para a Lagoa.
A APA está também a trabalhar em conjunto com a autoridade marítima na colocação de placas de sinalização nos canais transversais e irá colocar vegetação autóctone para uniformizar a zona onde foram colocados dragados.
Dragados são preocupação
A reunião, que durou três horas, ficou marcada pela preocupação dos presentes com a toxidade dos dragados e o local da sua deposição.
Vítor Dinis, da Comissão Cívica das Linhas de Água e Ambiente, questionou a classificação dos dragados, que análises do projectista mostram ser de classe 1 e 2 (as mais baixas) e lembrou que naquele local estão sedimentos com mais de 40 anos.
Já José Carlos Faria (PCP) e Carla Pinelas referiram-se aos dragados que durante a intervenção foram colocados nas margens da lagoa e que destruíram a flora aí existente, sem que ainda tenha sido reposta.
Também presentes na reunião, o militante do CDS-PP, Rui Gonçalves, e o do BE, Lino Romão, questionaram a eficácia da dragagem já feita, pois aparentemente a Lagoa tem mais areia do que antes.
Para Vítor Fernandes, do PCP, a segunda fase de intervenção é fundamental para minorar os problemas da lagoa. Para além disso, acrescentou, é também importante acabar com a poluição que chega àquele ecossistema.
O presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, Fernando Sousa, mostrou a sua preocupação com a segunda fase de intervenção no que respeita à possível contaminação do marisco. Pediu ao presidente da APA para ter isso em consideração e, em caso de necessidade, que os pescadores tenham direito a um subsídio.
A APA “deve ter um plano B”
O presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, considera que é fundamental a criação de uma comissão técnica de acompanhamento da qualidade dos sedimentos. Defendeu um acompanhamento rigoroso e transparente da qualidade dos sedimentos e que o projecto de execução possa ser “de tal maneira desenhado e blindado que, na eventualidade de possível contaminação, não ponha em risco uma parte do ecossistema”.
O autarca defendeu ainda que é fundamental que a obra se inicie rapidamente para se evitar o assoreamento na parte inferior da Lagoa.
Já o seu homólogo caldense, Tinta Ferreira, referiu que a parte final da primeira fase ficou aquém das suas expectativas, que eram de um desassoreamento maior entre a cortina de estacas e a embocadura. Garante que vão insistir nessa retirada de areias e que está disponível para contribuir para a colocação de uma draga de manutenção.
Relativamente à segunda fase, o autarca considera que é importante fazer uma monitorização “mais fina sobre a classe dos dragados e confirmar as informações que o projectista deu”. Pediu que todos possam ter acesso às análises e em que locais é que foram feitas.
Apesar de, juntamente com Óbidos, já terem definido a colocação dos dragados, Tinta Ferreira está preocupado com o seu isolamento para secagem, assim como com os cheiros que possam emitir.
“É muito importante isolar bem as zonas a dragar da restante massa de água, de modo a que o efeito da dragagem seja o menor possível quer para efeito da zona balnear, quer dos bivalves”, acrescentou.
O autarca disse ainda que a APA “deve ter um plano B”, caso surjam problemas e tenha de ser alterado o projecto.
O presidente da APA assegurou que os dragados serão monitorizados “antes, durante e depois da obra”.
A próxima reunião pública ficou agendada para Setembro, altura em que o projecto de execução já estará pronto e poderá ser discutido. Vários participantes pediram para que esta não se realize durante o horário de trabalho, de modo a que mais pessoas possam estar presentes.






























