“Se nós chamamos a atenção das pessoas é para o bem de todos”

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Ricardo Carvalho

Aos 29 anos, Ricardo Carvalho conseguiu conciliar a sua actividade profissional com a de nadador-salvador no Verão. Como funcionário do Hotel Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort, em Óbidos, passa o ano a trabalhar no Departamento Financeiro e de Segurança. Durante os quatro meses do verão assume o papel de coordenador dos nadadores-salvadores, a cargo do hotel. Além das piscinas (interior e exterior), o Marriott tem a concessão de duas praias. No total são cinco nadadores-salvadores que vão rodando entre as praias e as piscinas.
Natural de Rio Maior, Ricardo Carvalho é nadador-salvador há sete anos, mas os primeiros três anos apenas trabalhou como substituto durante as folgas dos seus colegas nas praias de Peniche.

Em 2006 foi convidado para trabalhar no hotel de cinco estrelas de Óbidos, onde diz ter “condições magníficas” para exercer a sua actividade. Em Maio tirou o seu terceiro curso de nadador-salvador, com João Bilhau, nas piscinas de Rio Maior.
Entrevistado num dia de sol e calor, com muitos hóspedes do hotel a aproveitar a piscina exterior, Ricardo Carvalho não escondeu que lhe dá muito gozo ter este emprego.

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GAZETA DAS CALDAS: O que o que levou a querer ser nadador-salvador?
RICARDO CARVALHO: Por gostar do mar e de fazer desportos náuticos, como surf e windsurf. Gosto muito de nadar e desde miúdo que me habituei de estar numa piscina.

G.C.: Como surgiu a oportunidade de trabalhar neste hotel?
R.C.: Primeiro fui convidado para ser nadador-salvador e depois acabei por ficar como funcionário durante o resto do ano.

G.C.: O que distingue o trabalho de nadador-salvador de uma piscina?
R.C.: Aqui temos o trabalho mais facilitado. Só temos que ter mais atenção às crianças e aos saltos para a piscina. Como a piscina não tem muita profundidade (1m30), é preciso avisar as pessoas para terem cuidado com os mergulhos de cabeça.
No mar é bastante diferente. Principalmente este mar aqui à frente que tem muitos problemas. Às vezes os turistas estrangeiros não têm tantos cuidados ao entrar para o mar, como os portugueses que já sabem que o mar é perigoso. Muitos nem sabem o significado da bandeira estar verde, amarela ou vermelha.

G.C.: É difícil comunicar com os hóspedes estrangeiros?
R.C.: Eu falo inglês e “arranho” o espanhol, mas depois também temos a “linguagem gestual” que faz com que todos nos compreendam. O mais difícil será com os alemães, que só falam alemão. E os russos.
G.C.: Aqui nunca teve que fazer um salvamento?
R.C.: Salvamento não. Só tivemos alguns mergulhos mal dados e pessoas que torceram o pé.

G.C.: E histórias divertidas aconteceram?
R.C.: Ainda recentemente um colega nosso estava a recolher os colchões e deixou-os cair todos na piscina. Tivemos uma trabalheira a recolher cerca de 40 colchões da água.

G.C.: Também costumam avisar os hóspedes para terem cuidado com o sol?
R.C.: Sim, fazemos muita prevenção em relação a isso. Até porque há alguns clientes, especialmente dos países nórdicos, que estão menos sensibilizados para estas questões.
Alguns pensam que para ficarem bronzeados devem passar o dia inteiro a apanhar sol, sem protector, e quando não têm cuidado apanham grandes escaldões. Por isso, tentamos avisar a todos.

G.C.: As pessoas na piscina do hotel respeitam mais os nadadores-salvadores?
R.C.: Sim, são pessoas que aceitam melhor os nossos conselhos. Mas também aqui temos que chamar menos a atenção das pessoas porque não há zonas perigosas para quem toma banho.
Na praia onde temos mais problemas é fora das áreas concessionadas, para onde algumas pessoas vão mesmo para não terem que estar perto dos nadadores-salvadores. Mas se nós chamamos a atenção das pessoas é para o bem de todos.

G.C.: O balanço deste verão nas praias concessionadas do hotel é positivo?
R.C.: É muito positivo. Este ano ainda não tivemos que fazer nenhum salvamento. Nós aqui trabalhamos muito ao nível da prevenção e isso tem resultado muito bem. Embora o mar seja perigoso, a nossa equipa conseguiu tornar estas praias seguras com a prevenção que fazemos. Este ano nem sequer tivemos que ir buscar alguém dentro do mar.

G.C.: Não houve nenhuma situação negativa este ano?
R.C.: Só tivemos a lamentar a morte de uma turista eslovaca em Abril, fora da época balnear. A senhora entrou para dentro do mar e não conseguiu sair.
Os meus colegas ainda lá foram mas já não conseguiram salvá-la. Só a lancha da Polícia Marítima é que encontrou depois o corpo.

G.C.: Nestes seis anos nunca teve uma situação mais complicada?
R.C.: Não, nunca tive que avançar com o suporte básico de vida e reanimação. Só fiz salvamentos de pessoas que foram puxadas pela corrente do mar ou com cabeças partidas por pranchas de surf.

G.C.: As pessoas costumam agradecer?
R.C.: Algumas pessoas até agradecem, mas a maior parte não o faz. Eu também não ligo muito a isso. Só o facto de fazer um salvamento é muito reconfortante.

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