
Sempre que há greve ou manifestação, os números de sindicatos e Governo são muito distantes, e a Greve Geral do passado dia 24 de Novembro não foi excepção. UGT e CGTP, as duas centrais sindicais que se uniram para apelar à paralisação dos portugueses (o que já não acontecia desde 1988), falam em cerca de 3 milhões de grevistas em todo o país. O Governo, que prefere não adiantar um número de aderentes à greve, nega esses números e diz que a a adesão variou entre os 5% e os 95% consoante o sector.
A justificação: em Portugal há pouco mais de quatro milhões de trabalhadores, pelo que uma adesão à greve de três milhões de pessoas teria forçosamente um impacto maior do que aquele que foi sentido.
Na região, o cenário não é diferente e também aqui não há consenso nos números da Greve Geral. A União dos Sindicatos do Distrito de Leiria fala em “adesão histórica”, mas o certo é que no dia 24 a maior parte dos serviços funcionou sem problemas, e apenas no sector público se verificaram encerramentos, nomeadamente nas escolas e repartições de Finanças. No concelho das Caldas, até os líderes dos diferentes partidos políticos fazem uma leitura diferente da paralisação.
Apesar da greve, as Caldas da Rainha viveu um dia quase normal. Os habitualmente maltratados utentes da Segurança Social nas Caldas da Rainha, que costumam esperar longas horas para poderem ser atendidos, tiveram nesse dia a oportunidade de aceder a um serviço mais eficaz por via da greve. Os funcionários públicos daquele serviço não aderiram, mas, em contrapartida, também a procura de utentes era abaixo do normal.
Já os serviços municipalizados e a Repartição de Finanças das Caldas da Rainha estiveram fechadas, bem como parte dos serviços do tribunal judicial.
A estação de correios teve menos gente a atender e menos gente nas filas de espera (ao contrário do habitual). Nas Caldas e em Óbidos os carteiros tinham prevista mais dois dias de greve (quinta e sexta-feira), mas tal não se notou na distribuição da correspondência. Gazeta das Caldas tentou falar com a dirigente do Sindicato dos Carteiros, Dina Serrenho, e com o assessor de imprensa da administração dos CTT, Fernando Marante, mas nenhum respondeu.
Transportes
A estação ferroviária das Caldas esteve deserta e durante todo o dia só chegaram os comboios da linha do Oeste previstos para os serviços mínimos (dois entre Lisboa e Caldas em cada sentido e um para a Figueira da Foz). Os comboios de mercadorias não se realizaram.
A Rodoviária do Tejo, que tem sede em Torres Novas e opera em grande parte dos distritos de Santarém, Lisboa e Leiria, registou uma adesão à greve da ordem dos 24%, disse à Gazeta das Caldas uma fonte oficial da empresa.
Na direcção operacional de Torres Novas a adesão foi a mais elevada, com 75 trabalhadores em greve num total de 133 escalados para o dia de hoje. Em Santarém houve 33 adesões em 112 trabalhadores e em Leiria 11 trabalhadores fizeram greve num efectivo destacado para aquele dia de 135 pessoas. Nas Caldas da Rainha só fizeram greve três trabalhadores em 133.
A empresa assegurou a totalidade de serviços de carreiras rápidas, mas em Torres Novas e Santarém houve, contudo, carreiras interurbanas que não se realizaram por falta de motorista.
Saúde
Ao que a Gazeta das Caldas apurou, nas unidades do Centro Hospitalar Oeste Norte o impacto da greve foi sentida ao nível das consultas, cirurgias e serviços administrativos, mas foi assegurado o serviço de Urgência em todos os hospitais. Em Alcobaça e nas Caldas da Rainha foram canceladas todas as cirurgias e a maior parte das consultas externas não se realizou, sendo que em Peniche todas as consultas foram canceladas e encerraram muitos dos serviços que costumam estar fechados ao fim-de-semana.
No Hospital Termal das Caldas da Rainha foram cancelados os serviços de reumatologia, mas os serviços de hidrologia funcionaram normalmente.
Já nas unidades de cuidados básicos de saúde, a adesão à greve varia de concelho para concelho. Segundo dados do Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Norte, Alcobaça foi o concelho onde a adesão foi mais significativa (53%), seguida de Caldas da Rainha (51%), Óbidos (42%), Peniche (32%), Bombarral (12%) e Nazaré (10%). Do total de profissionais que aderiram à greve, 41% eram enfermeiros e 27% eram médicos.
Em todas as unidades do ACES Oeste Norte “os serviços de prestação a casos de doenças aguda foram salvaguardados” e “as consultas pré-marcadas para os profissionais que aderiram à greve foram transferidas para outros dias”, disse a administradora executiva Teresa Luciano à Gazeta das Caldas.
Educação
Vinte e um dos estabelecimentos escolares púbicos das Caldas da Rainha (incluindo escolas básicas e jardins-de-infância) estavam fechados ao meio-dia do dia 24 de Novembro, mantendo-se nove abertos. Entre as escolas encerradas encontravam-se as de maior dimensão como era o caso das duas secundárias da cidade – a Rafael Bordalo Pinheiro e a Raul Proença.
Em Óbidos a greve levou ao encerramento de oito escolas, havendo oito abertas e no Cadaval fecharam as nove escolas do concelho.
Em Peniche fecharam 11 escolas tendo ficado 12 abertas. No Bombarral a falta de professores e funcionários levou a que seis escolas (incluindo a Secundária Fernão do Pó) não abrissem portas, havendo apenas três a funcionar.
Dos 87 estabelecimentos de ensino dos concelhos de Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche, o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, diz que ao meio dia estavam fechadas 31. Em 13 escolas a adesão à greve foi de 100 por cento, rondando os 50 por cento em sete.
União de Sindicatos: “adesão histórica” no distrito de Leiria
De acordo com José Fernando, dirigente da União dos Sindicatos de Leiria, a adesão à greve a nível distrital foi “histórica”. Garantindo valores de adesão entre os 75% e os 80%, o dirigente diz que “esta foi sem dúvida a greve mais participada desde sempre”.
“Achamos que foi realmente uma grande Greve Geral. Se calhar até superou em parte as nossas expectativas”, diz José Fernando, afirmando que foi na administração pública que se verificou o maior número de grevistas, muito acima do verificado no sector privado, o que já era esperado. “Nós sabemos que o sector privado está mais retraído, as pessoas têm medo de perder os seus empregos e acabam por não fazer greve”, disse. Por esse motivo foi nas áreas da saúde, no ensino e nalgumas Câmaras Municipais, que se notou maior adesão.
“Os trabalhadores chegaram a um ponto em que têm que lutar pelos seus salários”, diz o sindicalista, que acredita que as medidas que o Governo tem vindo a adoptar e o trabalho levado a cabo pelas duas centrais sindicais estão na base da grande adesão à greve e explicam sobretudo os números de grevistas na função pública.
Para José Fernando, “a Greve Geral foi um abre olhos a este Governo”, que espera que comece a lidar com a população de forma diferente “e a tratar o défice com mais transparência”.
Para já fica o aviso: “se não se der voz aos trabalhadores, se continuar tudo igual, iremos de novo para a rua, continuaremos a lutar”.
Saúde e ensino foram sectores onde mais se sentiu a Greve Geral
“Houve chantagem no privado”
Para o BE, a Greve Geral “teve maior expressão que das outras vezes” no concelho das Caldas da Rainha, “onde foi sentido algum impacto”, sobretudo no funcionamento do Hospital, do Tribunal, da Câmara Municipal e na repartição de Finanças.
Para Fernando Rocha, um dos coordenadores da concelhia bloquista, a adesão só não foi maior por causa da “evidente chantagem, pois muitas pessoas não fazem greve com medo de perderem o emprego”.
Na opinião deste dirigente, ficou claro o “descontentamento dos trabalhadores com as políticas do PS e do PSD, que acabou por viabilizar o Orçamento de Estado”, numa adesão que era a que o Bloco de Esquerda esperava. O coordenador bloquista salienta ainda o facto de “muita gente, mesmo as pessoas que não fizeram greve, achar que são legítimos os motivos que levaram a esta paralisação”.
“Caldas não tem cultura de greve”
Por sua vez, Manuel Isaac, presidente da concelhia caldense do CDS/PP, não viu grande adesão das pessoas à greve geral. “Nas Caldas nunca houve grande cultura de greve”, disse, destacando que não deu conta que o sector privado tenha aderido.
“Impacto significativo”
Já a concelhia caldense do PCP considera que a greve teve um “impacto significativo” na cidade, onde aderiram centenas de pessoas. Os comunistas destacam a participação dos trabalhadores da Câmara e Serviços Municipalizados, Hospital, Centro de Saúde, Finanças, escolas, Correios, CP, Caixa Geral de Depósitos, Centro de Emprego, entre outros.
“Exigir mais moral aos governantes”
O presidente da concelhia do PS das Caldas da Rainha, Delfim Azevedo, diz que não sentiu o impacto da greve. Garantindo não ser contra esta forma de luta, e salvaguardando que enquanto professor aderiu a várias paralisações, Delfim Azevedo diz que “a adesão nas Caldas da Rainha foi a que era expectável” e que se justifica porque “as pessoas estão a sentir que não deviam ser apenas elas a pagarem a crise”, uma opinião que também partilha.
“Não é aceitável ouvir os empresários dizerem que têm que reduzir os ordenados quando depois os mesmos empresários não aceitam distribuir os dividendos de capital apenas no próximo ano”, o que, acredita, seria uma forma dos empresários poderem “exigir mais moral e mais rigor aos governantes”.
Nesta linha, Delfim Azevedo salienta que em reunião de executivo os vereadores do PS defenderam o fim da isenção de 2% de IRS dos munícipes caldenses, valor que deveria ser encaminhado para apoio a idosos, alimentação para crianças e apoio aos desempregados. Uma proposta que contou com o voto favorável do CDS-PP, mas que acabou por ser chumbada com os votos contra da maioria PSD.
“Seria tirar aos que mais têm para dar aos que mais precisam. Todos nós vamos ter problemas financeiros no próximo ano, mas uns vão senti-los mais que outros, e os que os vão sentir mais são aquele que já hoje têm que optar entre comprar comida e comprar medicação, por exemplo”, aponta.
Gazeta das Caldas tentou por diversas vezes contactar o líder da concelhia do PSD, mas não o conseguiu fazer em tempo útil.






























