São Pedro não ajudou o Santo Antão

0
823

A chuva que caiu em abundância no dia 17 de Janeiro desencorajou uma participação massiva nos festejos do Santo Antão em Óbidos.
Erguida num monte, a capela do santo protector dos animais é de difícil acesso. Para lá chegar é preciso percorrer 150 degraus em pedra tosca ou, no caso dos veículos, subir uma estrada de terra, que por estes dias se converteu em lama, restringindo o acesso só aos condutores mais hábeis e a tractores e a veículos de todo o terreno.
Ainda assim, houve centenas de pessoas que não quiseram deixar de participar numa das festas mais tradicionais da região Oeste. A jovem Joana Santos, da Ponte Seca, (Gaeiras) foi pela primeira vez ao Santo Antão, acompanhada pela tia e uma amiga. Confessa que lhe custou subir ao monte, mas que a chegada aos 80 metros de altitude valeu a pena. “É uma festa típica, diferente de todas as outras que conheço”, disse, acrescentando que também foi colocar um porco em cera no altar da capela de Santo Antão, uma promessa que a mãe lhe tinha pedido para pagar.
Joana Santos comprou chouriço no recinto da feira, que levou para casa para assar e comer com os familiares. A tia, Maria Costa, há nove anos que não ia aquela romaria, mas também não notou diferenças. “Antes costumava vir porque a minha mãe pagava muitas promessas pelos animais que tínhamos”, contou à Gazeta das Caldas, acrescentando que esta é uma festa de que gosta particularmente por se manter tradicional.
Já Edite Pereira, do Pinhal de Óbidos, festeja o Santo Antão há várias décadas e, juntamente com outras pessoas da terra, vai jantar ao cimo do monte na véspera, a 16 de Janeiro. “É uma tradição da aldeia do Pinhal de Óbidos”, afirma, especificando que chegam pela hora do jantar e acendem a fogueira, onde depois cozem as batatas e assam o bacalhau, que comem em convívio, junto à ermida. Depois voltam para as suas casas e regressam ao monte no dia seguinte de manhã para preparar as mesas e comer o chouriço assado.
“Há 20 anos que fazemos este ritual”, conta Edite Pereira que faz questão de todos os anos repetir a experiência. Foi também no Santo Antão que conheceu o seu marido.
No passado dia 16, como estava mau tempo, o grupo de cerca de 30 convidas subiu ao monte apenas para colocar algumas das coisas necessárias para o dia seguinte e regressaram à aldeia onde jantaram.
“Esta é uma festa especial pelo convívio e o encontro de pessoas que cá vêm todos os anos”, disse Edite Pereira, realçando que o evento é muito genuíno e é importante que assim continue. Não se importa com a lama no chão, com a dificuldade do acesso nem em molhar-se e garante que se “começa a ter modernices já não tem graça”.
O grupo traz os mantimentos de casa e depois assa em fogueiras feitas no recinto com lenha que os funcionários da Câmara colocam no local. Também fazem bolos e nem o café da avó é esquecido, e que é depois partilhado por todos os convivas que se juntam ao grupo.
Do lado das vendas o optimismo não era grande, mas ainda assim os feirantes querem continuar a apostar naquela festa. Ana Paula Mendes, do Bombarral, já ali comercializa os seus enchidos e queijos há nove anos. Inicialmente começou a vender no sopé do monte, mas depois “desafiaram-nos a vir para o recinto da feira e é melhor para as vendas e também possibilita um maior convívio”, contou.
O problema são as acessibilidades, que são em terra batida. No primeiro ano Ana Paula Mendes levou o seu carro, mas apanhou um valente susto quando este começou a escorregar para a ribanceira. Desde então é o filho que transporta a venda para o cimo do monte, enquanto que a feirante vem a pé pelas escadas.
O preço dos chouriços foi mantido e o que ajudou a sua venda foi o facto de ter clientes fixos.
Na casa das esmolas, paredes meias com a capela, também se vendem chouriços, pão de trigo e broa de milho. Este ano compraram cerca de 150 quilos de chouriço e a meio da tarde restavam perto de 30 quilos por vender, a 10 euros, tal como tem acontecido nos anos anteriores.
Para Raul Penha, da Comissão de Festas do Santo Antão, “tirando o facto de estar a chover, está uma festa normalíssima para um dia de semana, com muitos romeiros e conviver e a divertir-se”. O responsável referiu que houve muitas pessoas a pagar promessas de amigos ou familiares que não vieram. “A devoção mantém-se e no final levam o garante da promessa paga, que são as velas e as fitas cor de rosa”, conta.
Se há uns anos atrás a procura em cera por animais domésticos estava a sobrepor-se aos animais da economia familiar, ultimamente têm pedido muitas figuras de animais de pequeno porte como o porco, a ovelha e a cabra. “Acho que as pessoas, por necessidade, estão a apostar outra vez na criação desses animais”, explicou Raul Penha, adiantando que também são pagas promessas por doenças físicas de pessoas e as provas disso mesmo são as peças em cera que estão junto da imagem do santo na capela.
Desde há três anos que o artesão Vítor Palatino, do Bairro da Senhora da Luz, faz canecas alusivas ao evento. “Há romeiros que todos os anos vêm à procura da caneca, pois são datadas e fazem colecção”, revelou Raul Penha.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

Santo Antão nos Baraçais

- publicidade -

O parque de merendas da aldeia dos Baraçais, no Bombarral, voltou a receber os festejos em honra de Santo Antão, protector dos animais, a 17 de Janeiro, num almoço convívio com a presença de dezenas de pessoas.
Apesar das condições climatéricas não serem as melhores para um almoço ao ar livre, a tradição voltou a ser cumprida por um grupo de amigos residentes nesta localidade bombarralense.
Os festejos são organizados há 10 anos por uma comissão que logo a partir das 8H00 preparam tudo. Este ano a organização voltou a escolher para prato principal o tradicional sarrabulho, seguindo-se porco no espeto. Tudo acompanhado por vinho da região.

P.A.

- publicidade -