Santuário do Senhor Jesus da Pedra é Monumento de Interesse Público e precisa de obras de recuperação

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Construído entre 1740 e 1747 sob um projecto do capitão Rodrigo Franco, o Santuário do Senhor da Pedra, no arrabalde de Óbidos foi recentemente classificado como monumento de interesse público.
Para assinalar a distinção foram convidados, no passado dia 31 de Agosto, diversos oradores para falar sobre este importante monumento arquitectónico nas suas variadas vertentes e ficou o alerta para a necessidade de obras de recuperação e para uma utilização cultural mais continuada.

“Óbidos é diferente das outras terras por ter um património impar. Enquanto cidadãos temos que insistir e envolvermo-nos mais com a necessidade de preservação desta herança”. O repto foi deixado por Sérgio Gorjão, actual director do Museu Grão Vasco (Viseu) e, na altura técnico da Câmara de Óbidos, que foi o autor da proposta de classificação, tendo em vista a preservação e salvaguarda daquele santuário.
O historiador defendeu que é preciso fazer um plano de contingência para salvaguardar este património e destacou o trabalho que a autarquia tem feito ao nível da recuperação de imóveis, como as igrejas de S. João do Mocharro ou de Santiago, que não sendo património seu foram intervencionadas.
Referindo-se ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra, o qual estudou pormenorizadamente e publicou uma obra, Sérgio Gorjão referiu que em finais da década de 90 foram feitas algumas melhorias e que o patriarcado voltou a dar-lhe funções, passando a acolher actividades de cariz religioso e cultural.
De forma a colmatar a lacuna deixada pelos festivais de música antiga que se realizam em Óbidos, foi criada a Temporada do Cravo e o Maio Barroco, este dedicado ao compositor  José Joaquim dos Santos, nascido nas proximidades do Senhor da Pedra.
E, por vezes, para a cultura “não é preciso muito dinheiro, mas algum que seja bem aplicado”, disse Sérgio Gorjão, sugerindo que fosse feito um projecto de recuperação daquele património através de apoio para o desenvolvimento turístico. O historiador deixou ainda a sugestão para que o bilhete de ingresse nos grandes eventos de Óbidos pudesse ser mais caro, revertendo essa parte directamente para obras de conservação e restauro a realizar na vila. “Sabendo qual a finalidade a que se destina, as pessoas vão compreender e ajudar”, disse, acrescentando que esta medida também mostra responsabilidade social.
O espaço poderá também vir a ser mais utilizado em eventos e, até, integrar a Rede Europeia de Música Antiga, sugeriu, mas para isso precisa de obras de melhoramento.
Também presente no evento, a vereadora com o pelouro da Conservação do Património Cultural, Rita Zina, disse que quando iniciou funções estranhou que um imóvel com aquele valor patrimonial não estivesse classificado e solicitou que fosse concretizada essa proposta que, em quatro anos, passou por todas as fases necessárias até à classificação.
A proposta inicial, feita pela autarquia, era mais abrangente integrando também o chafariz e a casa dos peregrinos, mas acabou por ser classificado apenas o santuário, constituído pelo templo, de planta hexagonal, e o adro.
“A classificação não era um fim em si mesmo, mas um passo para a salvaguarda deste imóvel, que carece de uma intervenção profunda”, disse a autarca, acrescentando que, com esta distinção, deixa de ser apenas de responsabilidade local, para ser algo que deve ser protegido por todos.
O projecto Óbidos Vila Literária também se associou ao encontro que pretendeu assinalar a classificação, levando para o local a mais recente obra de Carlos Querido, “A redenção das águas – As peregrinações de D. João V à vila das Caldas”, que foi apresentada pelo próprio autor.
Na sua apresentação fez uma síntese da figura de D. João V e abordou os conceito de redenção  e Quinto Império associado ao culto do Espírito Santo.
A livreira Isabel Castanheira associou-se falando sobre as termas e gentes das Caldas nos livros. Fez uma “viagem” pela história do burgo mais próximo de Óbidos, fazendo-se acompanhar por autores como Júlio César Machado, Pinheiro Chagas, Manuel Alegre, Fialho d’Almeida, Nicolau Tolentino de Almeida, Bordalo Pinheiro, entre muitos outros.
O jovem Cláudio Rodrigues abordou a temática do Santuário do Senhor Jesus da Pedra na poesia Barroca, ligando dois poemas deste período ao espaço.
O encontro terminou ao som ao Coral Alma Nova, que interpretou temas do compositor obidense José Joaquim dos Santos.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

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