Milhares de pessoas celebraram o Santo Antão em Óbidos no passado dia 17 de Janeiro. Uns por devoção, a maioria pelo convívio, concentram-se na romaria onde se divertiram em redor das fogueiras e do chouriço nelas assado.
A meio da tarde já tinham sido entregues as mais de 2000 fitas cor-de-rosa benzidas, que tradicionalmente os romeiros levam para casa para colocar nos animais.
“Este dia [17 de Janeiro] é o meu feriado de Óbidos”. Esta a forma como Daniel Mateus, do Arelho, vê a festa de Santo Antão. Chegou ao monte, juntamente com cerca de 20 amigos, às 7h00 da manhã e por ali permaneceu durante todo o dia “a comer, beber e conviver”.
Para o jovem, trata-se de uma festa importante, na qual participa todos os anos, independentemente do dia da semana em que decorre. “Se calhar a um dia da semana tiro férias para vir para cá”, disse à Gazeta das Caldas.
O grupo foi na véspera ao monte colocar cerca de uma tonelada de lenha que depois, no dia de festa garante fogo para as duas grelhas grandes que “trabalham” durante todo o dia, tanto para assar os seus chouriços, como os dos amigos, ou mesmo desconhecidos, que ali se encontram.
Mas há quem vá de véspera, à noite, para a ermida, e ali faça uma fogueira para cozer batatas com bacalhau. João Carlos Costa acompanhou este ano o grupo, composto essencialmente por pessoas do Pinhal de Óbidos e de A-da-Gorda, e garante que quer repetir a experiência. “A D. Augusta, uma das grandes obreiras desse jantar, convidou-me para trazer a neta [com menos de um ano] ao colo até ao monte e eu cumpri a promessa”, contou o radialista, natural de Óbidos, destacando também a forte componente comunitária que a festa acarreta.
E todos os anos faz questão de participar na festa. “Deixo de fazer muitas coisas, até mesmo viajar, pois bloqueio logo na minha agenda o dia 17 de Janeiro”, disse, acrescentando que “seja por devoção, tradição, ou pelo património que estamos a preservar, vale a pena vir ao Santo Antão”.
A romaria a cada ano vai atraindo mais romeiros. Muitos deles já ali tinham ido há muitos anos e agora regressam, como é o caso de Zulmira Silva, de Alvorninha, que voltou ao Santo Antão 43 anos depois.
“Gostei muito de voltar, mas encontrei grandes diferenças: o caminho é diferente e antes não havia barracas junto à capela, como as que lá estão agora”. Uma alteração que não lhe agrada pois “preferia ver ali as fogueiras acesas”.
Zulmira Silva chegou de manhã, juntamente com o marido, assistiu à missa, assou e comeu o chouriço que trouxe de casa e depois desceu o monte, a meio da tarde. “Foi um dia bem passado”, resumiu.
Também Maria João Melo, residente no Bom Sucesso, voltou a subir o monte, duas décadas depois de ali ter ido pela última vez. Foi de manhã com uma amiga e, no próximo ano, pretende ir de véspera e pernoitar no monte, “se não estiver muito frio”. De casa trouxeram o vinho e o chouriço que assaram nas fogueiras existentes no recinto. No regresso, Maria João Melo levava as tradicionais fitas cor-de-rosa, benzidas, destinadas a colocar nos animais para a sua protecção.
Para Ana Paula Guimarães, de Lisboa, tratou-se de uma estreia. A investigadora e professora universitária ligada à área da Cultura Tradicional, quis conhecer esta romaria que se conseguiu manter viva, e da qual “não houve desistência, como houve do Entrudo que foi substituído em nome de um carnaval brasileiro”.
A investigadora diz que esta tradição se mantém e “não é adulterada como é o caso da celebração do Dia das Bruxas, tida como uma tradição popular portuguesa, mas que não o é”.
Venda de enchidos duplicou
Na casa das esmolas, paredes meias com a capela, a azáfama era grande. Muitos visitantes aproveitavam para comprar os chouriços e o pão caseiro, enquanto que outros adquiriam as velas ou as figuras de cera, que depois depositavam na capela como pagamento da promessa ao santo numa hora de aflição. O facto de a romaria ter calhado ao sábado levou a que as pessoas começassem a chegar mais tarde, com uma maior concentração após a hora de almoço. Nem mesmo o frio e, ao fim da tarde a chuva, demoveram os convivas.
“Esta é prova de que este é o santo da devoção desta região”, comentava Raul Penha, elemento da Comissão de Festas do Santo Antão, que este ano praticamente duplicou a quantidade de enchidos para venda. Foram comprados 150 quilos de chouriço, 100 quilos de farinheira e 200 quilos de linguiça, que estava a “sair muito bem”. As fitas cor-de-rosa, uma tradição da romaria, a meio da tarde já estavam esgotadas. “Estou cá há muitos anos e foi a primeira vez que isto aconteceu”, explica o responsável, revelando que compraram cerca de 2000.
“As pessoas procuram mais as fitas e levam para si e para os que não puderam vir”, diz, adiantando que a comissão tem cada vez mais dificuldade em encontrá-las e que este ano tiveram que as comprar em Lisboa.
Entre os objectos de cera, o porco está a ser muito procurado, assim como as ovelhas, o que leva Raul Penha a pensar que as pessoas estão de novo a criar estes “animais para ajudar à sua economia familiar”.
Desde há uns anos que ali também são vendidas canecas personalizadas com o ano da romaria, que as pessoas levam de recordação e para colecção.






























