
Na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro está instalada uma das 30 salas da rede de Salas de Aula do Futuro já existentes em Portugal. Pertence ao Centro de Formação de Associação de Escolas (CFAE) Centro-Oeste e está destinada a preparar os professores para um futuro em que as tecnologias de informação serão um aliado privilegiado na transmissão de conhecimento aos alunos. A partir do próximo ano lectivo a sala estará também ao serviço dos alunos do 1º ciclo do concelho.
Na Secundária Josefa de Óbidos o plano curricular já incluiu uma disciplina, a CriArte, que estimula os alunos a desenvolverem conhecimentos multidisciplinares de forma autónoma através de projectos multimédia.
A sala de formação de professores do CFAE Centro-Oeste, na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, foi convertida numa das 30 “Salas de Aula do Futuro” existentes em Portugal. Estas salas integram a rede Future Classroom Laboratory da European Schoolnet, uma organização com sede em Bruxelas, que integra 30 ministérios da educação que está a pensar as salas de aula do futuro.
Problemas com a rede de internet da escola caldense, fornecida pelo Ministério da Educação, impediram que a sala do CFAE-Centro-Oeste tivesse uma utilização mais intensa no ano lectivo que agora chegou ao fim, mas na parte final foram realizadas algumas experiências piloto.
Nesta sala da Bordalo Pinheiro ainda não existe o mobiliário que caracteriza a maior parte dos laboratórios da rede – com puffs e outro mobiliário de conforto e cores vivas –, mas todo o restante equipamento é comum às restantes salas da rede. Há um ecrã táctil gigante que funciona como um computador para toda a sala, um quadro interactivo e também uma mesa interactiva que funciona como se fosse um tablet gigante. Existem ainda 20 tablets e 32 dispositivos portáteis active expression, que permitem aos alunos responder em tempo real às questões do professor. Do material fazem parte ainda equipamentos didáticos Lego de Matemática, Ciências e mind storm e ainda uma série de sensores para Física e Química, que medem por exemplo força e movimento.
Com estas ferramentas, os professores recebem formação de forma a “implementar novas estratégias de acção, recorrendo às tecnologias digitais a fim de melhorar a motivação dos alunos” para a aprendizagem curricular, explica Nicolau Borges, director do CFAE-Centro Oeste.
“O facto de a sala estar bem equipada pode fazer com que os professores saiam motivados das formações”, disse Carla Jesus, coordenadora da sala. A docente, que é pelo segundo ano consecutivo membro do grupo de professores inovadores da Microsoft, teme porém que os professores se possam desmotivar a usar as tecnologias nas aulas por falta de equipamentos nas salas comuns. É por isso importante que no contexto de formação se passe a mensagem que “há muito que se pode fazer sem este tipo de equipamento”, substituindo-o pelos smartphones, acrescenta.
Montar esta sala, inaugurada em Maio de 2015, representou um investimento na ordem dos 30 mil euros, “suportados em grande parte pela Câmara das Caldas”, adiantou Nicolau Borges.
Mystery Skype
Das várias acções já realizadas na sala, Gazeta das Caldas teve oportunidade de acompanhar uma – o Mystery Skype. Como o próprio nome indica, a turma do primeiro ano do curso de profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva teve uma aula diferente de inglês através da ferramenta de comunicação online Skype.
O conceito desta actividade explica de forma sucinta o que uma webcam, um projector interactivo, uma mesa interactiva e um conjunto de tablets podem fazer por uma aula de inglês. De cada lado dos ecrãs estão duas turmas desconhecidas, de países diferentes, que ao longo da sessão vão fazer perguntas e dar respostas exclusivamente em inglês para tentarem adivinhar de que país são oriundas. A preparação do evento obriga a uma pesquisa prévia para a elaboração das perguntas. As respostas obtidas conduzem a uma pesquisa imediata para eliminar opções até chegar à resposta correcta.
Quando as duas turmas adivinham a nacionalidade da interlocutora, o resto do tempo de aula é preenchida com trocas de ideias e experiências. Os alunos contactam com a língua de forma descontraída e divertida.
Neste caso específico, a turma caldense esteve em contacto com uma de Moscovo e ambas chegaram à resposta certa em cerca de 10 minutos, o que deixou cerca de meia de hora para os estudantes se conhecerem, apresentarem as suas escolas e aspectos socio-culturais das cidades e dos países onde vivem.
Devido sobretudo às dificuldades com o sinal da internet, indispensável ao bom funcionamento destes sistemas, este foi o ano experimental para a sala do futuro do CFAE-Centro Oeste, que deverá estar a funcionar em pleno no próximo ano lectivo.
Apesar de ser dedicada à formação de docentes, esta sala não vai ficar fechada aos alunos. No próximo ano lectivo “será também colocada ao dispor dos primeiros ciclos do concelho das Caldas da Rainha”, refere Nicolau Borges.
O director do CFAE-Centro Oeste considera “incontornável a mudança de práticas e de metodologias” dentro e fora da sala de aula, que passa precisamente pela utilização dos recursos informáticos como um aliado.
É por isso que um laboratório digital de formação de professores faz sentido.
Nicolau Borges acredita que a utilização das tecnologias deve criar uma lógica de trabalho colaborativo, na qual os alunos aprendem com base na sua própria criatividade, potenciando o desenvolvimento da sua autonomia. O processo não deve ser, porém, disruptivo com o ensino tradicional, mas sim uma “revolução tranquila”, acrescenta.
Em Óbidos o futuro já começou
Em Óbidos, as recentes obras de remodelação da Escola Básica 2, 3 e Secundária Josefa D’ Óbidos, inauguradas no início do ano lectivo, dotaram todas as aulas de equipamento electrónico, como quadros interactivos. Foi também criada uma sala multimédia, que dispõe do mesmo tipo de equipamento das salas de aula do futuro e cuja integração na rede está em andamento.
As escolas do concelho de Óbidos já vêm a desenvolver há algum tempo projectos da Fábrica da Criatividade, em projectos em rede, por exemplo, com o Parque Tecnológico e outras entidades nacionais e internacionais, nos quais o aluno é o autor do seu processo de aprendizagem. Mas no ano lectivo de 2015/16 foi dado um passo ainda mais efectivo para o enraizamento da utilização das tecnologias digitais no ensino com a criação da disciplina CriArte para todos os alunos do 7º e do 8º ano.
Esta disciplina semestral promove a criatividade através da utilização das tecnologias de informação. Paulo Alves, um dos professores desta disciplina, conta que no primeiro semestre os alunos do 8º ano fizeram um vídeo promocional sobre a vila medieval, com vídeos obtidos com as câmaras dos telemóveis dos alunos. “Conseguem-se bons trabalhos com as ferramentas que os alunos já conhecem”, disse.
Esta disciplina representa uma mudança do paradigma em relação ao ensino tradicional. “Os alunos estão habituados a recolher do professor e expressam o que aprenderam num teste, aqui são eles a dar a informação, a estudar e a conhecer o território”, explica.
O trabalho é desenvolvido em equipa, o que também potencia o desenvolvimento competências sociais. “Tínhamos alunos que não queriam trabalhar em grupo e não se integravam, outros os colegas não os queriam, e depois a integração foi boa”, observa Paulo Alves.
No segundo semestre, os alunos do 7º ano beneficiaram de um trabalho mais planificado e que envolveu mais as matérias dadas nas restantes disciplinas. No projecto Sherlock Óbidos, os estudantes construíram enigmas, através da pesquisa de textos, imagens e sons. As pesquisas foram realizadas nos tablets e a produção dos programas interactivos foi desenvolvida de raiz nos computadores da sala de Tecnologias de Informação e Comunicação.
Marta Catarino, que também lecciona a disciplina, nota que os alunos “não se desviaram dos trabalhos no uso dos tablets, o que nem sempre acontece noutros contextos”. Por outro lado, esta disciplina também permitiu “revelar alunos que nas outras aulas não são tão bons”, acrescenta. Os trabalhos vão ficar à disposição da comunidade.
A aposta das escolas de Óbidos no processo autoral dos alunos tem ainda outros projectos, como foi o caso este ano do Kinesis. Também este foi um trabalho desenvolvido em grupo e resultou do cruzamento das disciplinas de Desenho e Geometria Descritiva A, Ballet e Dança Contemporânea e ainda o Ateliê Criativo. Do trabalho resultou uma exposição com todo o processo criativo e um espectáculo de música, dança e luz em que todos os aspectos foram trabalhados pelos alunos. A apresentação decorreu na Casa da Música, mas vai voltar a ser apresentado, por exemplo, no encerramento do festival literário Folio.































