“Contos Arrepiantes da História de Portugal” é o primeiro livro da autoria de Rui Correia, o Professor do Ano, que convidou outro docente, seu amigo, para escrever histórias horríveis e mal-cheirosas que sucederam em território nacional durante a Idade Média. A ideia foi tão boa que ao primeiro volume, lançado on-line, ontem, vão suceder outros. O segundo volume, escrito também em parceria com António Nabais, vai ser publicado depois do Verão
“Contos Arrepiantes da História de Portugal”, da Nuvem de Tinta, chancela da Penguin Random House, é como se designa o livro, escrito pelo melhor Professor do Ano de 2019, o caldense Rui Correia. Para o realizar, o docente convidou o seu amigo, também professor de Português, António Nabais e contam que escreveram os textos a quatro mãos . A obra dirige-se a leitores com idades entre os 10 e os 14 anos mas, na verdade, o retorno que os autores têm tido é que gente de todas as idades está a gostar desta obra que se dedica a episódios repelentes, desgraçados, tenebrosos, viscosos, nojentos, horripilantes, imundos, malcheirosos, formidolosos, enlameados, brutais, asquerosos e que chegam mesmo, por vezes, a ser desagradáveis da História de Portugal. “Este era aliás o primeiro título que pensámos para a obra, mas a editora decidiu abreviar”, contou Rui Correia que correspondeu ao desafio da editora que o convidou por causa deste docente caldense defender, em várias entrevistas, a importância do humor na aprendizagem e na sala de aula. Aliá-lo a aspectos horríveis da História de Portugal soou muito bem àquele que foi distinguido como o melhor docente de 2019. E a ideia correu tão bem logo no primeiro volume, que reúne um total de 40 histórias, que vai surgir uma colecção que terá seguimento com novo livro, dedicado aos Descobrimentos e que será lançado no segundo semestre deste ano.
Os docentes não deixaram de usar palavras consideradas difíceis para a faixa etária dos leitores a quem o livro se dirige. “Simplesmente explicamos o que são”, salientam, dando como exemplo almocreve. Neste livro, ilustrado por Hélio Falcão, as história têm cerca de uma página. Conta-se, por exemplo, a história de Sisnando, “um moçárabe que vive em zona de fronteira e que, enquanto viveu conseguiu manter a paz entre cristãos e muçulmanos”, disseram.
As Caldas da Rainha do século XII também surge, pois já na época as termas tratavam leprosos que vinham de localidades como Santarém. É também contada a história do rei D Sancho I, que foi considerado “inútil” pelo Papa (dada a sua incapcidade de manter a ordem no Reino) ou a do rei D. Pedro, o Cruel, que mandou desenterrar a sua amada, D. Inês, para a cerimónia do beija-mão.
No total são 40 histórias que prometem interessar miúdos e graúdos, pois tratam-se temas a bravura, a cobardia ou também da falta de higiene que existia. “Somos capazes de tudo, do melhor e do pior e isso é comovente”, dizem os autores, que se aperceberam que nas histórias seleccionadas é possível obter leituras de “como se vivia o amor, a violência ou a crueldade”. Rui Correia recordou inclusivamente que na Idade Média, em várias zonas da Europa, as crianças não tinham nome nos primeiros anos de vida, “pois a probabilidade de morrerem era muito elevada”. Os docentes escreveram a quatro mãos as histórias, que se passaram antes da fundação do país até 1385, altura do episódio da padeira de Aljubarrota.
Estão previstas várias sessões de apresentação no Porto, Lamego, Lousada e Figueira da Foz, em locais como castelos e centros de interpretação. A obra serão igualmente apresentada nas Feiras do Livro de Lisboa e do Porto.
Rui Correia gosta da ideia de que os “Contos Arrepiantes” possam ser lidos pelos pais aos filhos, enquanto que António Nabais referiu que duas professoras de História, suas amigas, já lhe disseram que vão usar este livro no decorrer das suas aulas.
No final deste primeiro volume ainda surgem as personagens Manuel e Teresa, duas crianças que têm os nomes dos filhos de António Nabais, mas a sua compleição física corresponde aos filhos de Rui Correia. “Foi uma decisão salomónica”, contou o caldense, explicando que se seguirá um terceiro volume, que está a ser escrito, dedicado às histórias horríveis, passadas nos séculos XVII e XVIII.
Professor tem novos livros e recusa convites de universidades
“Tem sido um ano fascinante, onde tive a oportunidade de falar para milhares de pessoas”, disse à Gazeta das Caldas, Rui Correia acrescentando que já recusou vários convites, para leccionar no ensino superior.
“Gosto muitos dos meus alunos e daquilo que faço e não estou disponível para prescindir disso”, disse o professor, que não concorda com a ideia de que, “quando um docente é bom deve ir para outros graus de ensino e sair do básico ou do secundário para subir na hierarquia da Educação”. Entre as distinções que tem recebido, destaca um simples frasco de vidro, oferecido uma das suas turmas, e que guarda o que os alunos escreveram sobre ele. “Não precisava de ter sido distinguido com o prémio de melhor professor para saber a estima que os meus alunos têm por mim”, disse o docente que integrou a direcção da sua escola, a EBI de Sto. Onofre e que foi vereador, pelo PS, na autarquia caldense. “Sei que sou bom no que faço e o que importa é poder continuar a fazer o que gostamos e que haja alguém que nos pague por isso”, disse o docente que vai lançar mais livros. Um deles de Educação e “que reúne depoimentos de vários jovens caldenses sobre o que representa, para eles, a escola”. É um texto “confessional” sobre a aprendizagem que, na sua opinião é, sem dúvida, “uma experiência interior e próxima”. Ainda este ano, o docente vai lançar uma outra obra “Salazar em New Bedford”, resultante do seu mestrado, dedicado ao único jornal diário, em língua portuguesa, publicado nos EUA, durante o Estado Novo e que era “livre e democrático e livre”, rematou.































