
Habituado a actuar mais no campo da educação, o Rotary Club das Caldas optou este ano por intervir também no combate à pobreza, que está a crescer devido à crise que o país atravessa.
Na passada segunda-feira, realizou mais um jantar–palestra, com a presença de Ana Bessa, presidente do Banco Alimentar do Oeste (BAO), em que metade do custo da refeição foi atribuído a esta entidade. No total, foram entregues 320 euros e o presidente do clube, Nuno Ribeiro, destacou o apoio da “Lareira” que, com a redução do custo do jantar, também prestou um apoio ao Banco Alimentar.
Ana Bessa começou por explicar que a pobreza muda e, como tal, nunca será erradicada. “Portugal deixou de ser um país pobre, mas a pobreza permanece e cresce”, disse a presidente do BAO, fazendo notar que actualmente as pensões mínimas, rendimentos de inserção e subsídios de desemprego são, frequentemente, formas de “mascarar, alimentar e perpetuar a pobreza”. A este tipo de pobreza junta-se a que é consequência de acidentes e da crise económica e a que o “próprio desenvolvimento da sociedade impõe”, disse, exemplificando com a quebra dos laços familiares, droga, imigração, exploração, prostituição e solidão.
De acordo com Ana Bessa, grande parte da miséria mais recente acontece em famílias da classe média, que viram os seus empregos nos serviços desaparecer, sem grandes possibilidades de regresso. “Estão presos numa terrível miséria, por vezes com casa e carro, mas sem comida”, disse, realçando tratar-se de uma pobreza urbana e escolarizada, a qual os mecanismos de solidariedade social têm dificuldade em reconhecer e, sobretudo, em apoiar.
Portugal é um dos países da Europa com maior taxa de pobreza com cera de dois milhões de pobres, o que equivale a 20% da população, isto é, um em cada cinco portugueses é pobre.
Os dados veiculados pela oradora referem ainda que 200 mil pessoas têm apenas uma refeição completa por dia e 35 mil não têm nenhuma refeição diária completa.
Ana Bessa realçou que a sociedade não pode reagir impávida a este flagelo e exortou ao empenhamento no bem comum. Referindo-se concretamente ao Banco Alimentar, disse que este é um bom exemplo de união das vontades de empresas, doadores financeiros, voluntários e instituições de solidariedade social que, de forma coordenada, geram resultados muito superiores aos que seriam obtidos se cada um resolvesse agir isoladamente.
Mais de 4400 pessoas apoiadas mensalmente na região
Actualmente existem 18 estruturas por todo o país, que contribuem para a alimentação de mais de 280 mil pessoas carenciadas, através de mais de 1800 instituições de solidariedade social. Em 2009 distribuíram mais de 23 mil toneladas de alimentos, a maioria dos quais condenados à destruição dado que provinham de grandes superfícies e de produtores que não os escoavam. Estas 23 mil toneladas equivalem a 36 milhões de euros.
Outro grande contributo são as recolhas que são feitas duas vezes por ano (Maio e Novembro) nos supermercados de todo o país.
O desenvolvimento da rede de Bancos Alimentares na Europa demonstra a sua utilidade como proposta alternativa de acção de combate à pobreza e são, no seu entender, “uma resposta providencial a angústias das nossas sociedades no que se refere à perda de valores”.
Foram também revelados dados do BAO, que abarca oito concelhos e em 2010 apoiou 52 instituições, na sua maioria das Caldas. Entregou 518 toneladas de alimentos a instituições que os canalizaram para as mais de 4400 pessoas apoiadas mensalmente.
Para além da entrega dos alimentos, os representantes do BAO vão também às escolas lançar “sementes de cidadania”, propondo visitas à instituição e tentando mobilizar os mais novos para a solidariedade para com os mais carenciados.
Este ano, além desta iniciativa, o Rotary Club das Caldas já tinha entregue um donativo de 120 euros ao BAO e propõe-se a continuar a parceria, com a finalidade de angariar fundos, víveres e outras formas de ajudar a comunidade.
Nuno Ribeiro destacou a seriedade do trabalho do Banco Alimentar e adiantou que é no contacto com estes agentes que verificam que as Caldas tem pobreza efectiva. “É aí que queremos radicar o campo de acção do rotary. Não o podendo fazer sozinhos, preferimos aliar-nos aos profissionais de solidariedade para contribuirmos”, concluiu.
Os rotários neste dia prepararam uma surpresa ao advogado Mário de Carvalho, que assinalava o 75º aniversário. O companheiro Francisco Vogado leu um texto, que apelidou “Não sei”, onde realçou as qualidades do amigo.
Estudante de Saúde recebe bolsa de 750 euros
Ivânia Santos, de 20 anos, a frequentar o segundo ano de Saúde, na área de Terapia da Fala, em Leiria, recebeu uma bolsa de 750 euros. O clube rotário caldense contribuiu com 500 euros e a Fundação Rotária Portuguesa com 250 euros.
A jovem estudante, natural do Carvalhal (Bombarral), entrou em contacto com o clube depois de uma colega falar da sua existência, e destaca a receptividade que teve desde o início. “Se não tivesse este apoio seria difícil continuar os estudos”, reconhece a jovem, que considera que a frequência no ensino superior está muito cara.
O curso está a correr bem e a jovem tem a certeza que é isso que quer para o futuro. Idealmente gostaria de trabalhar com pessoas portadoras de deficiência, diz Ivânia Santos, que já se vai habituando à profissão com pequenos estágios que vai realizando no decorrer do curso.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt































quantas pessoas estao enscritas no banco alimentar