Muita emoção e manifestações de carinho marcaram a saída das irmãs Conceição Olival, Maria Rosa Gil e Josefina Pinto, da Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, da Misericórdia das Caldas da Rainha. A falta de vocações e o número diminuto de freiras justifica o seu regresso às instituições da congregação.
É a primeira vez, em 71 anos, que a Santa Casa da Misericórdia das Caldas fica sem a colaboração de religiosas. Actualmente ocupavam-se da enfermagem e apoio aos idosos e eram as responsáveis pela casa a partir das 18h00, altura em que fecha a parte administrativa.
Conceição Olival e Maria Rosa Gil, de 79 e 75 anos respectivamente, conhecem-se há 56 anos, altura em que entraram para a Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo e fizeram o noviciado. “Ela conhece os meus defeitos e eu conheço os dela”, conta Rosa Gil, referindo-se a Conceição Olival com quem tem estado na Santa Casa da Misericórdia das Caldas.
A irmã Conceição Olival, natural da Ponta de Sol, na Madeira, já conhece a instituição caldense há mais de 40 anos. Chegou às Caldas depois de uma primeira experiência a cuidar de leprosos no Hospital Rovisco Pais, mais conhecido por Leprosaria Nacional, na Tocha, onde permaneceu 11 anos.
“Gostei logo da cidade quando cheguei, não tenho muitas dificuldades de adaptação”, conta, lembrando que na altura havia muitas religiosas a trabalhar na Santa Casa e eram elas que faziam praticamente todo o trabalho, desde a lavandaria, à cozinha, passando pelo ensino das meninas que estavam na instituição. Das Caldas, Conceição Olival foi para o lar da Misericórdia de Alenquer, onde esteve durante vários anos, voltando depois à cidade termal por mais 11 anos.
Seguiria depois para Águeda, onde esteve durante dois anos, e regressou outra vez às Caldas onde permaneceu até ao passado dia 17 de Dezembro, ajudando a servir as refeições e dando apoio e aconselhamento espiritual aos utentes. Segue agora para Vendas Novas, no Alentejo, depois de passar o período do Natal em Fátima.
A irmã Conceição passou a vida a ajudar os pobres e necessitados e diz-se feliz com a escolha que fez. “Não tenho palavras para agradecer tanto a minha vocação, sinto-me feliz e realizada”, conta à Gazeta das Caldas.
A vocação surgiu em casa, na Madeira, pois a mãe rezava o terço com os filhos e foi crescendo naquele ambiente religioso. “Comecei a ver que as coisas de Deus me sorriam mais do que aos outros”, conta a religiosa, que decidiu então falar com o padre da sua terra sobre a sua vocação e, aos 19 anos, deixou a Madeira rumo a Lisboa, para uma casa da congregação, onde se pôde habituar à vida consagrada.
Falta de vocações justifica saída
A irmã Maria Rosa Gil nasceu e cresceu em Fátima. Tinha seis anos quando percebeu que queria ser religiosa, sonho que acalentou até aos 18, altura em que entrou para a Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo. Começou por ter seis meses de postulado, a que se seguiram 16 meses de noviciado. Quando saiu foi para a Serra da Estrela com um grupo de crianças em colónia de férias e, pouco tempo depois, ingressa na escola de enfermagem, onde fez o curso. Depois de um estágio em Cirurgia no Hospital de Santa Maria, a religiosa foi para Anadia, depois Vendas Novas e a seguir novamente para Lisboa, desta vez para o Hospital de S. Luís.
Daí partiu para França onde trabalhou na sede da congregação em Paris, a fazer traduções e trabalho administrativo. Oito anos depois regressa a Portugal e é enviada para a Obra Social do Pousal, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (situada na Malveira), onde trabalhou com deficientes físicos e profundos e doentes politraumatizados provenientes de Alcoitão.
Da Malveira regressa a Lisboa, onde ocupou as funções de Mestre de Noviças durante cinco anos. Ainda na capital, Maria Rosa Gil tomou conta de um lar de idosos.
Em 2008 chega às Caldas, onde gosta muito de estar e é com pena que deixa a instituição que tão bem a acolheu. “Integrei-me bem, só para conduzir o carro é que foi mais difícil porque não conhecia a cidade”, reconhece.
A religiosa segue agora o seu trabalho de enfermagem na Misericórdia de Alenquer.
“Nos últimos tempos não temos vocações e a nossa congregação neste momento não tem capacidade para dar resposta”, explica a irmã Rosa. Quando entrou para a congregação havia 247 religiosas, mas agora são pouco mais de 100 e quase todas com bastante idade.
Por norma, estão sempre três religiosas em cada instituição. Com as irmãs Conceição e Rosa estava há sete anos Josefina Pinto, natural de Timor. Com 50 anos de idade, é religiosa há 10 e segue agora para Lisboa, onde permanecerá até a congregação a colocar noutra instituição.
As três religiosas pertencem à Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, criada em França em 1633, por S. Vicente de Paulo e Luísa de Marillac, numa altura em que havia muitas crianças pobres e abandonadas. Actualmente está presente em 95 países.































