Refood precisa do apoio da comunidade para dar resposta ao novo confinamento

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Alcançar a sustentabilidade financeira e assegurar a continuidade é o objetivo do núcleo das Caldas da Rainha do Refood, que, a braços com mais um confinamento e encerramento dos estabelecimentos comerciais, procura apoios junto da comunidade. A estrutura apoia atualmente mais de 50 famílias

A funcionar há cinco anos (sopraram as velas a 9 de janeiro) o núcleo caldense do Refood debate-se nesta fase para manter a sua sustentabilidade. E se à porta da sede uma fila de beneficiários aguardava pela refeição que lhes fará a diferença, no interior os voluntários defrontavam-se com as consequências do primeiro dia de confinamento (15 de janeiro) – das suas 22 fontes de alimentos (a maioria restaurantes, cafés, padarias e supermercados) apenas 10 mantinham as portas abertas.
“Hoje ainda está mais ou menos normal em termos de comida que nos chegou dos restaurantes em funcionamento, mas a partir de segunda-feira é que vamos ver como será afetado o funcionamento do núcleo”, conta Carla Jesus, que partilha a coordenação provisória do núcleo, desde agosto, com Maria da Luz Bilro, Antónia Pinto e Maria João Pinheiro. As responsáveis antevêem que o número de refeições que cada família apoiada leva irá diminuir, situação que irão tentar compensar com a entrega de alimentos não cozinhados. No entanto, também nesses casos estão dependentes da ajuda que lhes chegar por parte da comunidade.
Por outro lado, o fato das escolas se manterem abertas, e muitas delas serem parceiras, também ajuda ao nível de refeições.
Aquando do confinamento de março a situação foi um pouco diferente porque, além da comida que chegava dos supermercados (serviço de take away) também contaram com refeições que eram confecionadas pelas associações que trabalhavam com as escolas, e que nessa altura estavam encerradas. Esse custo era suportado pelo município caldense.
O primeiro confinamento deixou marcas no núcleo, com a saída de muitos dos seus voluntários, sobretudo os de mais idade, e o encerramento de várias das fontes de alimentação. Conseguiram manter-se sempre abertos e, em finais de agosto, a estrutura nacional nomeou uma coordenação provisória. “Fomos um dos poucos grupos, a nível nacional, que não fechou durante o primeiro confinamento”, lembra Carla Jesus, que integra o grupo que coordena 10 equipas, cada uma com uma tarefa diferente, desde a recolha dos alimentos, a sua preparação e distribuição pelos beneficiados.
Com a dupla missão de combater o desperdício e matar a fome de quem precisa, o Refood tem também parcerias com outras associações que, no fim de cada turno, por volta das 21h00, ali vão buscar o pão, bolos ou outros alimentos perecíveis, que sobraram. Já os alimentos que não estão em condições de entregar aos beneficiários, são entregues aos voluntários que têm animais.

Mais 50 famílias apoiadas

A azáfama é sempre grande no centro de operações do núcleo, na preparação das refeições para os beneficiados
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No mês de dezembro o núcleo do Movimento Refood apoiou 53 famílias, entregando-lhes um total de 1294 refeições. “Isto tudo comida resgatada, que não foi para o lixo”, alerta Maria da Luz Bilro, mostrando-se preocupada com o futuro, pois as dádivas dos parceiros não serão suficientes. A voluntária lembra que, no confinamento de março tiveram um “movimento brutal” da comunidade. “Havia senhoras que faziam panelas de sopa, feijoada, ervilhas com ovos, salgados, arroz, e depois vinham trazer e isso também nos permitiu chegar a todos”, conta, apelando a uma nova onda solidária.
“Vamos voltar a precisar de toda a ajuda, seja com enlatados, produtos cozinhados ou por cozinhar”, disse, acrescentando que gostariam de continuar e não ter de fechar a posta a estas dezenas de famílias com necessidade. Tanto mais que, nas últimas semanas têm aumentado o número de pedidos de ajuda. E são, de acordo com Carla Jesus, de pessoas que ficaram sem emprego, e com elevados encargos que não lhes deixa dinheiro para comida, ou que tiveram de fechar os estabelecimentos, e não o sem abrigo como muitas vezes se pensa, desmistifica.
Outra dificuldade que a associação atravessa é a da sustentabilidade financeira, tendo em conta que tem despesas fixas mensais, com eletricidade e combustível (na ordem dos 500 euros) e que este ano não pôde dinamizar nenhuma das suas atividades de angariação de fundos. Entre os parceiros que a apoiam estão o município, que garante o pagamento da renda e isentou a fatura da água, e duas farmácias da cidade. Têm tido como mecenas o Clube de Golf da Praia d’el Rey, que já contribuiu com uma camara frigorifica, frigorifico, ar condicionado, donativos em dinheiro.

Os voluntários recolhem as sobras das refeições de diversos estabelecimentos parceiros

“Precisamos de apoio em géneros, mas também monetário, que pode ser de um euro por mês”, diz a voluntária, acrescentando que só assim poderão subsistir.
Os interessados em contribuir com bens alimentares podem dirigir-se diretamente ao centro de operações nos dias de funcionamento: segunda, quarta e sexta-feira, entre as 15 e as 21h00, ou contatar o núcleo caldense através das páginas nas redes sociais.
Por outro lado, “é muito gratificante quando um beneficiário nos chega à porta e diz que vem entregar as caixas e agradecer a ajuda, mas que já arranjou trabalho ou já consegue pagar a comida”, disse Maria da Luz Bilro, acrescentando que “quando isso acontece vou para casa muito mais leve!”
O grupo tem tido o apoio de uma assistente social e até tinha, entre os seus projetos futuros, a criação de uma bolsa de emprego para ajudar quem os procura. ■

Núcleo caldense conta com 112 voluntários ativos

A brasileira Teresa Barreto reside atualmente na Espinheira, Serra do Bouro, e é a mais recente voluntária do núcleo caldense da Refood. Começou a trabalhar no centro de operações ao final da tarde de 15 de janeiro e não escondia a emoção por participar neste pojeto solidário. “Tive a orientação da minha colega da tarde e o que não sei peço indicações às outras voluntárias”, contou à Gazeta das Caldas.
Teresa Barreto já era voluntária no Brasil, numa Organização Não Governativa (ONG) que apoiava mulheres com cancro em fase terminar e, com a vinda para Portugal não quis deixar de parte este apoio ao próximo.
O núcleo caldense conta atualmente com 112 voluntários ativos, muitos deles recentes, que aderiram ao núcleo desde março do ano passado. A maioria trabalha e tem idade compreendida entre os 30 e os 40 anos, mas também há jovens estudantes, que estão fora e regressam ao fim-de-semana, ou outros que estando nas Caldas têm nesses dias mais disponibilidade para colaborar. “Acho que as pessoas estão mais sensíveis ao fato de haver mais gente a precisar e por isso querem ajudar”, considera Carla Jesus, que integra a equipa dos voluntários. Atualmente o núcleo tem três turnos a funcionar por dia (cada um com 6 ou 7 pessoas) no cento de operações, enquanto que dezenas de outris voluntários andam na rua a recolher os alimentos.
Entre os voluntários estão os elementos da coordenação provisória. Maria da Luz Bilro e Maria João Pinheiro estão no projeto desde o seu início, enquanto que Carla Jesus e a Antónia Pinto entraram no ano seguinte. “Ainda me lembro que, nos primeiros dias, ficámos de véspera até às 3 horas da madrugada para confirmar se a comida chegava para as pessoas e a preparar a coisas para que tudo corresse bem”, recorda Maria da Luz, acrescentando que as muitas experiências que tem vivenciado ao longo destes cinco anos a modificaram como pessoa. Também Antónia Pinto partilha deste crescimento pessoal e destaca a “fantástica” equipa que têm. “Estamos todos muito empenhados e valorizamos a nossa missão”, concluem as voluntárias.
O núcleo caldense do Refood começou a funcionar em dezembro de 2015 e foi oficialmente inaugurado em janeiro do ano seguinte. Atualmente as suas instalações estão situadas na Rua Teixeira Lopes, nº 1, no Bairro das Morenas.■

O fundador da Refood, Hunter Halder, numa das iniciativas promovidas pelo núcleo caldense
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