
Pedro Bernardo e João Belga vão percorrer o país durante 25 dias, recriando a histórica e épica vitória de José Tanganho na prova realizada há 100 anos a cavalo e projetando-a na atualidade
Na tarde de quinta-feira, 3 de outubro, o Centro de Artes das Caldas da Rainha foi palco da apresentação oficial da iniciativa que recria a histórica Volta a Portugal a Cavalo, 100 anos após a surpreendente vitória de José Tanganho. Pedro Bernardo, bisneto do lendário cavaleiro caldense, apresentou a Carrinha Tanganho, o veículo com o qual, durante 25 dias, percorrerá, junto do artista João Belga, o mesmo trajeto que o seu antepassado fez em 1925, com uma exposição móvel dedicada ao feito histórico e que vai promover também as Caldas da Rainha e a região.
A carrinha recebeu uma decoração exterior alusiva à iniciativa, num trabalho gráfico da artista Maria Slenzak. No interior, foram criadas condições para Pedro Bernardo e João Belga, os protagonistas desta recriação, realizarem o seu trabalho artístico e mostrarem a exposição itinerante com fotografias da época alusivas à prova e ao feito de José Tanganho.
Desta exposição faz parte um conjunto de fotografias escolhidas e proporcionadas por Mário Lino, diretor do Museu de Ciclismo que já editou dois livros sobre o cavaleiro e o seu feito único.
Pedro Bernardo fez questão de destacar o papel fundamental de Mário Lino na preservação da memória do seu bisavô. “É graças ao trabalho do Mário, à sua curiosidade, que a figura de José Tanganho é mais conhecida hoje”, declarou, referindo que há 20 anos Mário Lino lançou o primeiro livro sobre esta temática e agora prestou nova homenagem pelos 100 anos.
Mário Lino revelou que as imagens provieram de “um envelope pequenino” que encontrou após anos de pesquisa, contendo fotografias oferecidas pelo coronel Rogério Tavares, o principal rival de José Tanganho na Volta, ao senhor Paulino Montês. Apesar de terem sido os grandes rivais na prova, “a amizade era tão forte que perdurou, mesmo depois da morte do José Tanganho. E, então, o senhor Capitão Rogério Tavares, então já coronel, veio às Caldas da Rainha oferecer ao senhor Paulino Montês as fotos que tinha com ele da Volta a Portugal a cavalo”, explicou.
Pedro Bernardo salientou que estas fotografias são muito importantes para a reconstituição histórica e lembrou que os materiais originais, que estão na Biblioteca Municipal, estarão disponíveis na exposição que decorrerá no Centro Cultural e de Congressos em novembro.
O bisneto de José Tanganho fez questão de destacar a dimensão coletiva do projeto, sublinhando que “tudo isto não seria possível” sem o contributo de várias pessoas e instituições fundamentais.
Uma dessas instituições é a Gazeta das Caldas, assinalou, agradecendo “todo o empenho que tiveram a receber esta iniciativa”. Destacou ainda o papel determinante de Teresa Perdigão e Carlos Querido na organização, bem como outras colaborações essenciais, desde o design de Maria Slenzak, aos apoios logísticos, incluindo José Mota, da Transwhite, empresa que cedeu o veículo para a recriação da Volta.
O artista não esqueceu João Belga, seu companheiro de viagem, agradecendo não só por “ter aceite vir fazer a volta”, mas também por tê-lo ajudado “a pensar da maneira como a fazer” e na preparação da exposição de 15 de novembro, no CCC. Pedro Bernardo reservou ainda palavras especiais para a família.
Apesar de não estar “propriamente ansioso” para o início da aventura, Pedro Bernardo reconhece tratar-se de trabalho com “uma grande responsabilidade”. “Para um artista o trabalho é sempre a sua responsabilidade. Claro, mas aqui temos uma responsabilidade acrescida”, admite, referindo-se aos compromissos assumidos com os apoios e parceiros.
José Luís Almeida, administrador da Cooperativa Editorial Caldense, manifestou a satisfação da Gazeta das Caldas por estar associada a esta iniciativa no ano do seu centenário. “Este evento é muito significativo, e é significativo também que aconteça no ano que a Gazeta faz 100 anos”, destacou.
O dirigente destacou o trabalho de Teresa Perdigão e Carlos Querido na organização da iniciativa, comparando o seu empenho ao espírito do próprio Tanganho. “Penso que eles têm um bocadinho daquilo que foi a alma do Tanganho quando fez a sua volta. Foi um ato de generosidade, foi um ato de integração com a própria natureza, a forma de relação com o cavalo. Foi pensar que o seu mundo era um mundo aberto.”
José Luís Almeida salientou também a cadeia de solidariedade que se criou em torno desta iniciativa. “De vez em quando, o Carlos Querido telefonava-me e partilhava atos de generosidade de algumas pessoas, e não podia deixar de me sentir algo emocionado”, disse. O administrador da Gazeta desejou que, agora, os protagonistas desta nova história “tenham 25 dias memoráveis, que se sintam satisfeitos, e nós, como há 100 anos, vamos ficar expectantes pelas notícias”.
O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vítor Marques, enalteceu a importância da iniciativa para a projeção da cidade e dos caldenses. “O facto de José Tanganho ter conseguido ganhar esta Volta a Portugal a cavalo, que mais tarde vem a dar lugar aquilo que é a Volta a Portugal em Bicicleta é, para nós, muito gratificante”, referiu o autarca. “Temos de ter orgulho dos caldenses, que são tão ilustres em tantas modalidades, em tantas áreas, e José Tanganho também o foi”, assinalou.
O autarca destacou também Pedro Bernardo e João Belga. “Eles têm sido referências em diversas ações, nomeadamente nas áreas culturais, e agora, numa forma também de cultura, vão poder levar esta Volta a tantas outras localidades e elevar também o nome das Caldas da Rainha”, acrescentou.
Vítor Marques aproveitou também para destacar a importância da Gazeta das Caldas, parceira da iniciativa, no panorama do jornalismo regional, pelas comemorações do centenário. “Sabemos as dificuldades que hoje existem nesta área dos jornais regionais e locais, mas salientamos esta capacidade de resiliência que tem demonstrado”.
Outra entidade que este ano assinala do seu centenário e que se alia à iniciativa é a Casa do Pão de Ló de Alfeizerão. “Naquela época, quando abriu a casa, estávamos na Rua Principal de Alfeizerão, que fazia parte da estrada de ligação de Lisboa ao Porto. Portanto, o percurso do José Tanganho obrigatoriamente passou à nossa casa”, referiu Helena Monteiro de Castro, sublinhando a ligação histórica entre o percurso original e a casa centenária.
A empresária revelou que já tinha planeado fazer uma pequena exposição sobre José Tanganho na sala de entrada remodelada da casa, mas que a proposta de colaboração tornou tudo “muito mais interessante e faz todo o sentido”. Helena Monteiro de Castro explicou ainda que a participação vai muito além da promoção comercial, destacando a ligação sentimental com as famílias tradicionais do Ribatejo e Alentejo que frequentam o estabelecimento há gerações, muitas delas ligadas à tauromaquia e ao mundo equestre.
“Nós temos famílias tradicionais dessa área, famílias que são nossas clientes há gerações. Aliás, a Casa do Pão de Ló foi fundada por Alentejanos, ali da zona de Porto Alegre, da Comenda. Há toda essa ligação, o que também é curioso”, acrescentou.
A logística da participação representa um desafio considerável, como reconheceu a própria Helena Monteiro de Castro. “Será desafiante porque o nosso produto é muito sensível e, portanto, temos de fazer a gestão logística do transporte ao longo de todo o percurso e destes dias que vai durar, precisamente para conseguirmos levar e ter a representação do Pão de Ló e um miminho para as pessoas que vão estar na receção da volta”, referiu.
O Pão de Ló irá integrar o kit que será entregue nas 70 localidades do percurso, incluindo que vai incluir outros produtos identitários das Caldas da Rainha e da região.

































