Reclusos assistiram a concerto de jazz no Estabelecimento Prisional

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O concerto foi realizado por professores do Conservatório das Caldas

Iniciativa inserida nos Dias do Jazz decorreu durante a manhã de 3 de outubro

A sala onde os reclusos têm aulas do primeiro ciclo acolheu, na manhã da passada sexta-feira, uma atividade diferente. Ao invés da professora, em frente ao quatro estavam quatro músicos do Conservatório das Caldas da Rainha que deram um concerto de jazz para uma sala repleta. “Blue Bossa”, “All The Things you Are”, “Michelle”, “My Favorite Things” ou “Yesterday”, foram alguns dos êxitos musicais tocados Bernardo Mendes (piano), Luís Coelho (saxofone), Luís Pereira (bateria) e Cristiana Moreira (flauta) que, face ao entusiasmo do público, ainda tocaram um encore: Take Five.

A iniciativa, integrada nos Dias do Jazz, já vai na sua segunda edição, mas para Bernardo Mendes foi uma estreia tocar no estabelecimento prisional. “É um lugar um bocadinho diferente do habitual, mas fomos igualmente bem recebidos e, enquanto músicos, é sempre interessante tocarmos para públicos diferentes”, destacou o também professor.
Também Helena Cardoso, diretora do Estabelecimento Prisional das Caldas da Rainha, destaca a importância da iniciativa para quem está confinado. “A música transporta-nos para outros locais, tem essa capacidade, portanto, estes são momentos em que se consegue atenuar o mal que o confinamento provoca, principalmente quando é mais prolongado”, referiu, acrescentando que estas iniciativas são vantajosas também para os funcionários, que têm “uma vida complicada”.

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Helena Cardoso reconhece que o jazz é um tipo especial de música, que não será aquele que eles habitualmente ouviriam “lá fora”, mas que não deixa de atrair a sua atenção, como ficou comprovado pela sala cheia. “Também é uma forma de lhes mostrar outros aspectos para os quais podem estar menos despertos”, referiu, destacando que estão abertos a todos os estilos musicais, como foi o caso de um concerto de heavy metal que ali decorreu no Verão.

Mário Branquinho, diretor do CCC, explica que esta iniciativa é uma forma de descentralizar os Dias do Jazz do CCC e, no caso do estabelecimento prisional, é “um modesto contributo também para a socialização dos reclusos e para criar momentos diferentes do seu dia-a-dia”. Por outro lado, é também uma forma de aprendizagem e de desmistificação deste género musical. “Por vezes, há pessoas que dizem que não gostam de jazz, ou que não gostam de música clássica, mas ou não ouviram ou não tiveram oportunidade de uma iniciativa como esta, mais didática, que lhes permita uma oportunidade”, realça.

Atualmente o estabelecimento prisional das Caldas da Rainha acolhe cerca de 100 reclusos, um terço deles em prisão preventiva (a aguardar julgamento) e os restantes, já condenados, com penas até um máximo de cinco, seis anos.

Os reclusos também têm aulas, desde o ensino básico ao ensino secundário, lecionadas por professores do Ministério da Educação, numa parceria com os agrupamentos de escolas D. João II e Rafael Bordalo Pinheiro. Numa outra sala funciona uma oficina onde 22 reclusos montam peças, e recebem pelo trabalho que fazem, pela empresa. Neste momento há também sete reclusos, na modalidade de regime aberto ao exterior, que se encontram a trabalhar na Câmara e junta de freguesia das Caldas.

Os Dias do Jazz, organizado pelo CCC, incluem espetáculos em outubro e novembro, com a presença de nomes de referência do jazz nacional e internacional. No âmbito da iniciativa decorre também o Jazz vai às Escolas, em colaboração com o Conservatório das Caldas da Rainha, numa vertente mais pedagógica e com o objetivo de criar novos públicos.

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