
Desde a década de 50 do século passado, altura em que pertenceu à direcção do Caldas SC como encarregado da secção juvenil, que José Ferreira Faria é leitor da Gazeta das Caldas. A admiração pelo jornal gerou-se, inicialmente, pela cobertura dada aos eventos desportivos da região. Mas não só. Natural da Atouguia da Baleia, este nosso assinante, que trabalhou em farmácias no Bombarral, Vila Franca das Naves (Trancoso), sanatório do Caramulo (quando a tuberculose era ainda um flagelo), Óbidos e por fim Caldas da Rainha, apreciava a forma como a Gazeta transpunha a informação necessária da região.
A fase de assinante veio depois, no início dos anos 60. Mais tarde, tornou-se, como próprio se auto-intitula, “um fraco accionista”, quando o jornal atravessou uma fase económica instável e deixou de ter verba suficiente para pagar aos funcionários que trabalhavam na impressão. “Então, houve um grupo de pessoas, no qual eu também entrei, em que demos mil escudos [cinco euros] para garantir o funcionamento do jornal”, contou José Ferreira Faria. “É de enaltecer aquilo que a Gazeta fez. Não mandou embora o seu pessoal e arranjou processo para que continuasse a ser editada, pagando às pessoas desta maneira. Foi aí que notou-se que uma parte da população gostava da Gazeta ao ponto de dispor-se a financiá-la”, acrescentou.
O certo é que os anos passaram e para este leitor, “a Gazeta não se tornou outra coisa senão a referência desta cidade”. E vai mais longe no elogio: “a realidade é que alguns diários nacionais estão aquém daquilo que é presentemente a Gazeta”.
José Ferreira Faria lê sempre o jornal de trás para a frente, mas garante que lê tudo. “Ao lermos as notícias das primeiras páginas vamos deixando as outras para traz. Desta forma vai havendo sempre interesse até chegar à página principal”, justificou. Por isso, quando à sexta-feira a Gazeta chega a sua casa, começa por ler a rubrica a semana do Zé Povinho. “Não passa uma Gazeta em que não leia o Zé Povinho. É a primeira coisa a ver”, assegurou. “Depois vejo aqueles que infelizmente deixaram de ter ‘anginas e calos’ e vou por aí fora. Às vezes vejo anúncios para ver quais são as profissões com mais necessidade de emprego”, disse o assinante, confessando que também gosta bastante do editorial.
Quanto a rubricas temporárias, José Ferreira Faria afirmou que “foi bem-criada”, a Uma Empresa, Várias Gerações “porque põe em claro aquilo que os empresários fazem a favor do local onde vivem”. Porém, o assinante tornou-se “fã” dos “Recortes de jornal”, no qual guardou religiosamente todos os “recortes” desta iniciativa. “Era uma rubrica muito interessante porque relata os passos que já demos para chegarmos até aqui. Guardei-os para deixar aos meus netos, caso algum dia tenham interesse em ver”, disse.
Já noutras secções, o leitor disse admirar as notícias que “dão voz aos problemas do concelho”. “De vez em quando tenho notado que existe uma ‘luta’ entre a Câmara das Caldas com a administração da Gazeta. Mas nem sempre a autarquia tem razão. Dou razão a quem apresenta os problemas que são absolutamente necessários para que o desenvolvimento das Caldas possa ser uma verdade”, afirmou José Ferreira Faria.
E quais os artigos de que não gosta? “Fiquei arrependido de ter lido a morte de um cão à fome. Comoveu-me. É um ser vivo e para além disso é o animal mais amigo do homem, e o homem retribui de uma maneira negativa”, respondeu.
Para além da Gazeta, José Ferreira Faria só partilha leituras com A Bola e o Público. “Compro A Bola com muita frequência porque nalguns dias traz uma página cultural e só isso vale o dinheiro do jornal. Também vou quase diariamente à biblioteca e agarro nos jornais que lá tem. Normalmente leio o Público porque gosto daquelas páginas do interior [P2]”, afirmou. Porém, “o Público também é tendencioso, sobretudo para o capitalista daquilo. Os outros jornais têm que agradar àquele que lhes paga, não é?”.
Hoje, e com os seus 86 anos, este assinante não conseguiu adaptar-se ao uso da internet e, como tal, não lê a Gazeta no suporte online. “Admiro-me como presentemente ainda há jornais porque a internet, depois de dois segundos do acontecimento já sabemos da notícia. Eu ainda sou do tempo do código Morse”, declarou.
Mas mesmo tendo conhecimento das dificuldades que as vendas dos jornais têm hoje em dia, José Ferreira Faria afirmou que a Gazeta das Caldas “tem tido um percurso feliz”.
“Gosto da Gazeta exactamente por aquilo que ela é. É daqueles jornais que têm artigos essenciais para darem impulso ao desenvolvimento da sociedade local. Acreditem que há mais gente a pensar da mesma forma do que eu”, concluiu.
Tânia Marques






























