
Eleita personalidade do ano de 2022 pela redação da Gazeta, Dóris Santos enfrenta um novo desafio na carreira, numa estrutura de âmbito nacional.
Eleita personalidade do ano de 2022 pela redação da Gazeta, a bombarralense Dóris Santos passa em revista o período em que está à frente do Museu Nacional do Traje e as ligações que mantém ao Oeste.
Há um ano que lidera o Museu do Traje, tendo sido escolhida em concurso internacional. Que objetivos tem para este museu nacional?
Fui escolhida em concurso internacional que teve a participação de profissionais espanhóis e também brasileiros. Nestes concursos cada candidato apresenta um projeto, norteado por objetivos. Gostaria de tornar o Museu do Traje num espaço mais acessível e inclusivo e atento à multiculturalidade. Pretendo trazer novos públicos, sem esquecer as questões da sustentabilidade. Os museus de hoje devem estar atentos a realidades como a emigração, os refugiados e a problemas sociais como a violência contra as mulheres. Pretendo divulgar e ampliar o museu a nivel nacional e internacional, para além do trabalho que já estava em curso.
Quais são as prioridades? Apoiam investigadores?
Tentar dar a conhecer o que se faz a nível interno usando uma linguagem mais acessível. Fazemos muito trabalho ligado à investigação, aos pareceres técnicos e aos empréstimos de peças que é desconhecido do público e que é vai muito além da exposição permanente. Pretende-se igualmente apostar nas relações de proximidade com a comunidade local. Respeito sempre o trabalho de quem cá esteve e, neste museu, houve uma série de diretores de referência. A primeira pessoa que me deu os parabéns pelo cargo foi Natália Correia Guedes, ligada às Caldas, e que foi primeira diretora deste espaço. Temos projetos conjuntos de colaboração relacionados com a história do próprio espaço museológico. Temos connosco vários estudantes de mestrado e doutoramento. Um deles é um verdadeiro desafio, pois relaciona-se com a área da acessibilidade e visa criar recursos acessíveis para visitantes cegos. A própria aluna é invisual e está a realizar o seu estudo com o apoio das Belas Artes de Lisboa.
Este é um museu peculiar pois inclui um grande parque. Como se trabalha esta realidade?
Sim, este é um museu diferente, pois tem também o parque do Monteiro-mor que tem 11 hectares e é uma das maiores áreas verdes à saída (ou entrada) de Lisboa. E tem tido uma procura crescente neste contexto pós-Covid pelas famílias, além de que é uma referência na área da botânica. São duas realidades que temos que gerir e até é necessário estabelecer relações entre o parque e o museu.
Houve uma diminuição de visitantes por causa da pandemia? Em dezembro tiveram que encerrar portas. Porquê?
Não sofremos uma descida nos visitantes, pois não somos tão procurados como os museus do circuito de Belém que têm mais turistas internacionais. [Segundo os últimos dados, em 2021 o Museu foi visitado por 19.634 pessoas mais 9,9% do que em 2020, com 17.873]. Em dezembro tivémos de encerrar portas, pois sofremos com as cheias. É um problema recorrente, pois confinamos com a Estrada do Lumiar e, quando chove muito, afeta o palácio e também o parque. Já não acontecia há alguns anos só que, em dezembro último, houve dois picos de chuva que afetaram a zona e toda a água entrou no museu – de 7 para 8 e de 13 para 14 de dezembro. Só reabrimos a 27 de dezembro. É algo que nos preocupa, pois as obras feitas no exterior não resolveram o problema…
E que exposição destaca, realizada neste primeiro ano?
Destaco a exposição “Viver a sua Vida, Georges Dambier e a Moda” que vinha a ser preparada anteriormente e que teve curadoria de historiadora de moda Anabela Becho. Georges Dambier foi o primeiro fotógrafo-turista que tirou as modelos do estúdio e que, em 1957, veio a Portugal mais especificamente à Nazaré fazer campanhas publicitárias ligadas à moda, vinda esta que eu conhecia por causa do doutoramento. Foi uma coincidência feliz. Esta mostra permitu-nos alcançar um público ligado à moda e à fotografia, nacional e internacional. Foi, de facto, a exposição de referência de 2022.
A grande intervenção do PRR irá condicionar a programação? O museu terá que encerrar?
Sim, vai condicionar a programação e forçará o encerramento do museu e do parque. Serão feitas obras estruturais no edifício. Esta intervenção (que terá o valor de 6,2 milhões de euros) é esperada há muitos anos pois desde que abriu portas, nunca houve obras profundas. Pretendemos, também, inovar a exposição permanente e introduzir uma linguagem contemporânea, além da apresentação histórica e cronológica. Este é já o terceiro museu onde estou e onde acompanharei obras. Estive envolvida na requalificação do Museu Malhoa entre 2006 e 2008 e, no Museu da Nazaré, preparei vários projetos de requalificação e de ampliação. Sei que entretanto entrará em obras. É uma oportunidade que temos de aproveitar, pois vai melhorar muito o próprio espaço, no edifício e também no parque.






























