Com o aproximar da quadra natalícia começam a aparecer os pais natais. Cada evento tem de ter um e o sucesso é garantido, com crianças, e pais, a fazer filas para visitar o velhinho das barbas brancas a quem querem pedir um presente.
Mas quem são os pais Natais da região? Gazeta das Caldas falou com quatro “descendentes” de S. Nicolau e partilha as suas histórias.
Avô de 14 netos, foi com naturalidade que a filha, que trabalha na Óbidos Criativa sugeriu Francisco Salvador para Pai Natal durante a Vila Natal. Foi há nove anos que abraçou, pela primeira vez esta “missão” de fazer as crianças felizes e não vai parar… a contar pelas filas enormes que se formam à frente da sua “casa”.
“Eu sou um Pai Natal muito amigo dos pais, as crianças fazem o pedido e respondo-lhes aquilo que um avô responde: tens a certeza que queres isso? É caríssimo, não preferes outra coisa?”, conta Francisco Salvador, que assim tenta adequar os pedidos à realidade. Além das perguntas tradicionais, relacionadas com as prendas, quando olha para para os miúdos também percebe se é traquinas, desobediente ou refilão e depois faz um bocadinho de “chantagem” para que se porte bem para receber as prendas. Numa vertente mais pedagógica, conta que é um Pai Natal “muito S. Nicolau” e explica que o que se comemora a 25 de dezembro é o nascimento de Jesus e que foi ele quem lhe pediu para entregar os presentes. “Mas devíamos também entregar uma prenda ao menino Jesus e sabes o que podias fazer? Portares-te muito bem!”, recomenda-lhes o Pai Natal.
Francisco Salvador usa normalmente barba, mas para se preparar para a personagem começa a deixá-la crescer a partir de outubro. Depois faz uma pesquisa na internet e nos canais televisivos infantis, também aproveitando a presença dos netos em casa, sobre os brinquedos que estão na moda e procura saber os preços. Ainda assim, por vezes pedem-lhe coisas que não sabe o que são, mas “nunca me desfaço”, garante. E pedidos exagerados, também os tem, como o caso de crianças de cinco anos a pedir um telemóvel ou uma trotinete, às quais diz que são muito novas e que têm de esperar até terem a idade certa para os ter. Mas há outros que deixam marca, como os pedidos para que os avós não tivessem morrido ou que o pai não bata na mãe.
Este Pai Natal especial até tem um clube de fãs e famílias que vêm ao evento há nove anos para estar com ele, em Óbidos. Na semana passada houve uma família que levou dois álbuns com fotos dos seus natais, em que ele está sempre presente. Aos 73 anos, mas com uma energia característica da juventude, Francisco Salvador também acredita no Pai Natal. “Digo sempre às crianças que moro na cabeça de todos quantos acreditam em mim e quando digo isto os pais percebem qual o sentido da magia do Natal”.
O autarca
Aos 44 anos, João Lourenço vestiu o fato vermelho, colocou as barbas brancas postiças e o barrete, desfilou pela cidade e animou as crianças. Esta foi a segunda vez que o presidente da União de Freguesias de Tornada e Salir do Porto (e não presidente da junta de Tornada como por lapso foi publicado na edição anterior), “encarnou” a personagem. Tinha-o feito o ano passado na IPSS do Chão da Parada, local para onde também voltou a ser convidado este ano.
“É sempre uma responsabilidade estar diante das crianças”, reconhece João Lourenço, que não faz qualquer preparação para estes encontros. “É um momento tão verdadeiro que acho que não tem de ter preparação nenhuma”, conta o autarca que acredita que a figura do Pai Natal é mais importante para si do que para as próprias crianças, pois vive num stress diário e poder estar um bocadinho a falar com elas “é muito bom”.
O psicoterapeuta
Apaixonado pela figura do druída, João Viola interpreta esta personagem em feiras medievais, onde tenta passar os valores de cuidado com a natureza, proteção dos animais e respeito por todos os humanos. Num desses eventos um elemento da Óbidos Criativa reparou nele e achou que tinha características para ser convidado para Pai Natal na Vila Natal. O desafio era grande e João Viola impôs uma condição: não queria ser um Pai Natal convencional, mas ter a possibilidade de passar uma mensagem pedagógica às crianças. Condição aceite, começou a preparar-se para dar “vida” ao velhinho das barbas brancas, tendo deixado as suas crescer desde agosto.
Psicoterapeuta de profissão, João Viola usa o seu conhecimento com os mais novos. Normalmente os pais dizem para os filhos dizerem a prenda que querem ao Pai Natal, mas avançam logo que estes portaram-se mal. “Não sei se o pai Natal te vai dar prendas, isso é padrão”, refere, acrescentando que os pais não se apercebem mas estão a rebaixar os filhos e que isso não é saudável, contrapondo que “portar mal também faz parte do processo e que o importante é aprender com os erros”.
Mas não são só as crianças que procuram o Pai Natal, há também muitos adultos. Há casais que procuram conselhos, um rapaz próximo dos 40 anos, sozinho, que lhe pediu para conversar e confidenciou que tinha problemas de relacionamentos, ou ainda uma sextagenária que apareceu muito triste porque o marido tinha morrido e queria aproveitar a vida, mas tinha medo de andar de avião. “Dei-lhe uns conselhos e ela saiu de lá mais aliviada”, conta João Viola, que utiliza a sua experiência e formação para também ali ajudar as pessoas.
O ator e palhaço
À pergunta como se chama, a resposta é imediata: Pai Natal… Mas, por debaixo das barbas brancas e o fato vermelho “esconde-se” Basile Pujebet, de 45 anos. Trabalha como ator e palhaço, nos hospitais em Lisboa, na Operação Nariz Vermelho há mais de 20 anos e agora aceitou um novo desafio, o de dar vida ao Pai Natal que, por estes dias “mora” na antiga Casa da Cultura, paredes meias com o Céu de Vidro, integrado no Natal no Parque. A única experiência que tinha como “velhinho das barbas brancas” era a de entregar as prendas aos filhos na noite de Natal.
A experiência está a correr bem e Basile Pujebet destaca a simpatia de quem o procura. “Pergunto às crianças o que querem para o Natal e há uma ou outra que pede Amor”, destaca o Pai Natal que, curioso, questiona-se também sobre como irão passar a quadra e como querem estar.
Interpretar o Pai Natal é especial para o ator, que reconhece a parte afetuosa de se estar em família e da envolvência da quadra, que leva a que as pessoas queiram tirar muitas fotografias, dêem abraços e que acabem por brincar um pouco. Conta que se preparou para falar com as crianças e pergunta-lhes, muitas vezes, como é que os pais se têm portado. “Não gosto daquela chantagem que fazem, do porta-te bem para teres uma prenda. Interessa-me mais o que pensam as crianças”, conta o também pai, que se interessa pela Educação Positiva e Consciente. Natural da França, Basile Pujebet está em Portugal há 22 anos, grande parte do tempo a residir na região. Desde outubro que dá aulas de circo, palhaço e magia nas Caldas, uma vez por semana. ■






























