
Em 2015/16 dos 112.338 professores que leccionavam no ensino público apenas 399 tinham menos de 30 anos. Um cenário que muda completamente de figura quando se olha para os professores com mais de 50 anos: 51.649, ou seja, praticamente 46% dos docentes.
Dados que preocupam Manuel Micaelo, professor das Caldas da Rainha e dirigente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL), que defende medidas legislativas mais favoráveis para a classe, com o combate à precariedade e uma redução da carga horária dos professores em fim de carreira, para acompanhar os docentes jovens na adaptação à escola.
“Às vezes pedem-nos [ao sindicato] professores mais novos para representarem a classe em encontros de jovens e nós não temos, a não ser que os consideremos jovens até aos 40 anos”, ironiza Manuel Micaelo, tendo por base os dados da OCDE, que dizem que apenas 1% dos docentes portugueses tem menos de 30 anos.
De acordo com os números do documento, entre 2005 e 2016 a percentagem de docentes com mais de 50 anos aumentou 16% em Portugal, enquanto no espaço da OCDE a subida foi de apenas 3%. Representavam, ao todo, 38% de todos os que estavam a dar aulas no ensino básico e secundário. Por outro lado, apenas 1% tinha menos de 30 anos, contra uma média na OCDE de 11%.
“Praticamente não há professores novos e isso acarreta uma série de problemas”, diz Manuel Micaelo, acrescentando que a situação irá rebentar na próxima década. Entende que não se criam condições para ingresso e, por outro lado, há precariedade. “Pessoas mal pagas, a irem para muito longe e sem estabilidade nenhuma, com contratos precários e horários incompletos”, explica, acrescentando que nos últimos anos cerca de 21 mil jovens docentes abandonaram a profissão – uns foram para o estrangeiro e outros estão a trabalhar até como caixas nos supermercados.
O dirigente sindical ainda não conhece os dados das colocações deste ano, mas diz que é provável que haja grupos disciplinares que não tenham professores para garantir as aulas. “Há locais, como Lisboa e Porto, onde as pessoas gastam mais no alojamento do que ganham. Ninguém aceita um horário incompleto num sítio onde vai gastar mais para alugar um quarto do que o seu ordenado”, denuncia, fazendo notar que existe um desrespeito pelos professores que põe em causa a escola pública.
Menos procura pelos cursos de ensino
O dirigente sindical refere que actualmente a docência é uma área que não é atractiva para os jovens e isso vê-se no número de candidatos ao ensino superior. Dados divulgados recentemente pela Direcção Geral do Ensino Superior mostram que as áreas de formação de professores colocaram apenas 693 estudantes na primeira fase, deixando por preencher quase metade das vagas. Estes cursos foram a primeira opção para 519 candidatos, “uma quebra acentuada face a 2017”, revela o dirigente sindical, acrescentando que os “os alunos não querem ir para os cursos e a idade da reforma tem vindo a aumentar todos os anos”.
De acordo com Manuel Micaelo, enquanto que até 2005 os professores do 1º ciclo e educadores de infância não podiam aposentar-se depois dos 65 anos, agora só podem fazê-lo a partir dos 66 anos e uns meses, caso contrário sofrem penalizações nas pensões.
O dirigente do SPGL considera que nos próximos anos haverá um número muito elevado de professores a aposentar-se e, “não havendo este passar do testemunho, haverá uma altura em que teremos sérios problemas”. Defende, por isso, medidas legislativas para que os professores possam ter uma carga horária mais leve nos últimos anos, ao mesmo tempo que acompanham os docentes jovens na adaptação à escola. Por outro lado, entende que os mais novos devem ir tomando conta de cargos de coordenação, que normalmente são sempre entregues aos docentes com mais anos de serviço.
Manuel Micaelo acrescenta ainda que um docente com 65 anos, apesar de possuir todas as competências, tem limitações físicas que lhe dificultam o trabalho, dando os exemplos das educadoras de infância e professoras primárias.
Trata-se, na sua opinião, de um desrespeito do governo para com a classe dos professores, mas que não encontra correspondência junto dos pais e alunos, tendo em conta um inquérito feito recentemente e que mostra que esta é uma das mais respeitadas.
A universidade da avó
A história passou-se na semana passada, à porta de uma escola secundária das Caldas da Rainha, em dia de reunião geral de professores. Uma criança de 13 anos passava no local com a mãe e pergunta-lhe que ajuntamento era aquele.
“Deve ser uma reunião de professores, filha”, explica a mãe.
“Ah! Pensava que era uma excursão da universidade [sénior] da avó”.






























