Punta Umbría foi o destino mais escolhido pelos finalistas caldenses nas férias da Páscoa

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Em Punta Umbría a maioria dos estudantes ficou hospedada num resort com tudo incluído: estadia, refeições, bar aberto e festas - Beatriz Raposo

Centenas de estudantes caldenses regressaram da sua viagem de finalistas no domingo, 8 de Abril. A maioria veio de Punta Umbría, localidade turística do sul de Espanha que fica a cerca de 60 quilómetros do Algarve. Este foi o destino escolhido por mais de 150 jovens que assinalaram com esta viagem a chegada ao último ano do ensino secundário. Gazeta das Caldas falou com alguns deles e conta-lhe a sua experiência: as festas, as novas amizades, a praia e o álcool, são os protagonistas desta semana que muitos descreveram como inesquecível.

A viagem de finalistas começa antes mesmo de chegar ao destino. Começa logo no autocarro. Os estudantes levam colunas para poder meter a música bem alta, jogam às cartas e é entre os lugares da camioneta que surgem as primeiras novas amizades. No mesmo autocarro em que ia a caldense Joana Luís (Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro) também iam jovens da Marinha Grande e Viseu, por exemplo. Só a euforia de saberem que estão prestes a viver uma semana de pura diversão é mais que suficiente para alimentar a festa durante a viagem.

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“O mesmo não acontece no regresso porque estamos tão cansados que vamos a maior parte do caminho a dormir”, diz a finalista, realçando que a viagem a Punta Umbría superou todas as expectativas (que só por si já eram altas).
Joana Luís e os amigos ficaram hospedados no Barceló Punta Umbría Beach Resort e aqui tinham tudo: quarto de hotel, refeições, bar aberto das 10h00 às 23h00, piscina e acesso a muitas das festas do cartaz. “Nunca pensei que fosse fazer tantas amizades, conhecer tanta gente, desde Viseu até Faro. Sem dúvida que foi uma experiência que me marcou, tornou-me numa pessoa mais sociável e se tudo correr bem volto a repeti-la para o ano”, acrescenta.
Para convencer os pais a fazer a viagem, Joana Luís teve várias conversas. E teve-as com bastante tempo de antecedência. Falou-lhes na agência promotora (XTravel), mostrou-lhes o hotel e muitos vídeos de anos anteriores. Eles aceitaram, mas à medida que a data se aproximava (já com a viagem toda paga), as preocupações vieram ao de cima. “A minha mãe chegou a pedir-me para não ir porque não ia aguentar o aperto no coração”, lembra a jovem, que manteve um contacto diário com os pais enquanto esteve em Espanha. E todos os dias, eles recordavam-lhe os cuidados a ter: “diziam-me que podia beber, mas não ao ponto de ficar inconsciente, para me divertir, mas sempre com noção daquilo que estava a fazer, caso contrário mais facilmente poderia dizer sim a coisas que no meu estado normal obviamente diria que não”. Conselhos como andar sempre em grupo e ter cuidado com o copo da bebida, também foram dados.

“TODA A GENTE GRITAVA PELO CALDAS”

E embora estivesse no país vizinho, a jovem sentiu-se sempre em casa. Não só porque os milhares de finalistas que escolheram Punta Umbría eram portugueses, mas principalmente porque parecia que toda a gente conhecia o Caldas Sport Clube. Tomás Silva, do mesmo grupo de amigos de Joana Luís, confirma o “fenómeno”. “Primeiro fomos nós, os caldenses, a gritar pelo Caldas, mas às tantas já eram os finalistas de outras cidades a começar os cânticos e a puxar por nós. Foi incrível e deu para ver como o Caldas Sport Clube está a mover o país”, conta o estudante à Gazeta das Caldas.
Tomás Silva já concluiu o ensino secundário no ano passado, mas decidiu esperar que a namorada Adriana Fonseca também fosse finalista para passarem juntos pela experiência. Até lá, juntou todo o dinheiro que ganhou na apanha da pêra para pagar a passagem (600 euros). “A viagem de finalistas faz parte do ciclo da nossa adolescência e acho que todos os meus colegas que decidiram não ir (e não por uma questão financeira) se vão arrepender um dia mais tarde”, afirma o ex-aluno que estudou no Colégio Rainha D. Leonor. Mas sim. Há muitos excessos.
Vêem-se jovens que abusam no álcool e não se podem ignorar os charros. No grupo mais próximo de Tomás e Adriana houve pessoas que acabaram a noite nos hospitais móveis da Cruz Vermelha porque já não se aguentavam de pé. “Eu não acho isso normal nem divertido, mas cabe a cada um divertir-se à sua maneira”, acrescenta o finalista, realçando que se é verdade que os excessos são visíveis verdade é também que a maioria dos estudantes não vai para a viagem com essa intenção e conhece os seus limites.
A namorada Adriana concorda e acredita que os diferentes comportamentos também são fruto das diferentes educações que partem de casa. Para a aluna da Escola Técnica e Empresarial do Oeste o álcool faz parte da festa, mas não é o “ingrediente” principal e muito menos deve ser o motivo para estragar uma noite.

“TROQUEI OS DIAS PELAS NOITES”

Durante uma semana, Adriana Fonseca trocou os dias pelas noites. Acordava por volta das 16h00 porque no dia anterior se tinha deitado só depois do sol nascer. Ia à praia e à piscina, às actividades que decorriam dentro do resort e a muitas festas que aconteciam mesmo durante a tarde. Depois jantava, tomava banho e arranjava-se para mais uma saída. Na tenda XSpot – com capacidade para 10.000 finalistas – era onde toda a magia acontecia: os concertos e as actuações dos DJs. Mas a noite só terminava em bares como a Maria dos Copos e o Mangu. Todos estes locais ficavam muito próximos uns dos outros, incluindo do hotel, por isso Adriana e os amigos deslocavam-se sempre a pé.
Este tipo de viagens dificilmente não deixa vestígios. Tomás Silva lembra-se de como o chão do exterior do resort ficou tão sujo e do seu grupo ter amolgado o caixote do lixo de um dos quartos. Já José Capinha – finalista da Bordalo Pinheiro que escolheu antes o destino de Gandia, em Valencia – conta que o elevador do seu hotel se avariou e que roubaram vários extintores.
“Acho que esse tipo de danos já são esperados, por isso é que pagamos uma caução que só nos é devolvida caso não estraguemos nada”, afirma José Capinha, que foi um dos 47 caldenses que escolheu Gandia em vez de Punta Umbría.
O motivo que o levou a optar por este destino foi a diversidade: enquanto em Punta Umbría a viagem é mais concentrada no espaço do resort, em Gandia os finalistas têm acesso aos bares e discotecas de toda a cidade. “É fácil divertirmo-nos num local que tem tudo pronto para nos receber, sem dúvida que a experiência superou as expectativas”, acrescenta o jovem, realçando que embora reconheça que há muita liberdade, diz também que “toda a gente se sente segura porque há equipas de segurança em todo o lado, 24 horas por dia”.

PULSEIRAS DIFERENTES PARA MENORES

Francisco Marcelino também é caldense e também foi à viagem de finalistas. Mas fê-lo enquanto membro do staff da XTravel que esteve no terreno em Punta Umbría. Actualmente, ele é o único representante da empresa nas Caldas e foi nele que os jovens caldenses confiaram quando compraram as viagens. “É muito gratificante chegar ao destino e ver o sorriso deles, mas antes da viagem terminar sinto uma grande responsabilidade pois sei que aqueles miúdos e os pais deles confiaram em mim”, conta à Gazeta das Caldas.
As 400 pessoas que compunham o staff da XTravel chegaram a Punta Umbría três dias antes para receber formação sobre que tarefas tinham que desempenhar e para saberem como actuar em situações concretas. Antes disso, já tinham passado por um processo de recrutamento que inclui várias entrevistas, embora a maioria dos colaboradores seja voluntário.
“No recinto, damos apoio dentro do hotel, no controlo das filas e acompanhamos os alunos dentro dos autocarros”, revela Francisco Marcelino, acrescentando que também o staff tem horas para se divertir, embora nunca “dispa” a camisola. A relação que se estabelece com os finalistas é fácil, desde logo porque a diferença de idades entre os colaboradores e os estudantes é pouca.
O caldense acredita que hoje estas viagens já são mais bem vistas pelo público. “Há mais informação, mais comunicação com os próprios pais e, sobretudo, mais segurança”. Há também menos casos de alcoolismo porque passou a ser atribuída uma pulseira diferente aos finalistas menores de idade, a quem é proibido vender bebidas alcoólicas.

[caption id="attachment_115446" align="alignnone" width="850"]Punta Umbría 2018 - Espanaha Durante o dia também houve festas para os jovens – Beatriz Raposo[/caption]

“Eu não quis ser igual aos outros”

Destinos como Punta Umbría, Gandia, Marina d’Or e Pas de La Casa são a opção para a maioria dos finalistas do país. Mas não para todos. Há dois anos, a caldense Carolina Ribeiro e cinco amigos decidiram poupar o dinheiro da viagem de finalistas para fazerem um interrail pela Europa no Verão. Visitaram nove países (Espanha, França, Mónaco, Itália, Eslovénia, Croácia, Hungria, Áustria e Suíça) em 22 dias e fizeram a maior parte das viagens de comboio.
“Não quisemos ser iguais aos outros. Achamos que aquilo que se faz nesses destinos se pode fazer no Algarve, por exemplo, e que seria muito mais interessante conhecer outras culturas do que estar uma semana no mesmo local e sempre rodeados de portugueses”, contou a ex-finalista.
Carolina Ribeiro e os amigos dormiram em hostels, em casa de pessoas que conheceram pelo caminho (incluindo na do conhecido jogador de futebol Ivan Cavalheiro) e em estações de comboios. Os pais apoiaram-na desde o início, precisamente porque “sabiam que a viagem me enriqueceria enquanto pessoa”.
Hoje, e graças ao Interrail, “sinto que sou capaz de ir para onde quiser quando quiser, que tenho essa autonomia, para não falar que melhorei em muito o meu inglês”, acrescentou a jovem à Gazeta das Caldas.

[caption id="attachment_115444" align="alignnone" width="850"]Carolina Ribeiro com os seus amigos Carolina Ribeiro (primeira à esquerda) preferiu fazer um InterRail com amigos – Beatriz Raposo[/caption]

Os excessos nestas viagens não são um fenómeno recente

Os excessos nas viagens de finalistas não são um fenómeno recente. Não é só agora que os jovens abusam no álcool, às vezes nas drogas. Também não é só de agora o sexo nestas viagens nem o registo de maus comportamentos (como os estragos nos hotéis). E sim: não se pode dizer que sempre foi assim, mas pode-se dizer que é assim há muito tempo. Nas crónicas “Desventuras de um estudante em Torremolinos – Excursão de 1980”, o caldense Paulo Caiado (escritor e autor do blogue adolescenciacaldasanos70e80.blogspot.pt) conta os pormenores da sua viagem. Estava ele no 11º ano e pertencia à Associação de Estudantes.
Os apartamentos dos alunos do Liceu ficavam no complexo Zodíaco, em Benalmadena (arredores de Torremolinos) e logo à chegada os finalistas tiveram uma pequena antevisão do que viria a ser aquela semana. “Uns estudantes do Maria Amália, mais acalorados, tinham decidido lançar um dos electrodomésticos da cozinha pela varanda, directamente para a piscina”, descreve Paulo Caiado, explicando que o patrulhamento da zona estava a cargo dos militares e não da Guardia Civil, devido à ameaça de atentados por parte da ETA. Por isso, “foram mesmo soldados em jeeps camuflados e armados de semi-automáticas que apanhámos logo pela frente”, recorda.
Paulo Caiado lembra-se ainda de como ficou com o bilhete de identidade retido no check-in – precisamente porque a administração queria salvaguardar-se em caso de estragos – e de como nunca o viria a recuperar. Devido a uma “luta de extintores” na última noite (na qual os estudantes das Caldas nem eram os principais envolvidos), Paulo Caiado não conseguiu que lhe devolvessem o BI. Apesar de na altura Portugal ainda não estar na CEE, acabou por conseguir atravessar a fronteira porque a Guardia Civil não controlou todos os autocarros carregados de estudantes ressacados.
A história foi mais ou menos assim: “Por todo o lado e em todos os pisos haviam rapazes e raparigas a degladiarem-se com extintores de incêndio. Era uma fumarada ou melhor uma polvilhada tal que parecia que os halls estavam imersos em nevoeiro!”. Acontece que a brincadeira acabou mal com a chegada dos seguranças e uma convocatória geral para o hall da recepção. A administração do empreendimento queria expulsar de imediato todos os alunos e depressa as raparigas mais assustadas ligaram aos pais, alguns já dispostos a meterem-se a caminho para resgatarem as suas filhas.
“Os que fazíamos parte da Associação de Estudantes começámos achar tudo aquilo um exagero e tanto mais que os estudantes das Caldas eram dos menos culpados da situação. Fizemos tudo em legitima defesa!”, conta Paulo Caiado.
Mas as crónicas deste caldense também dão conta de muitas coisas boas que se passaram na viagem. Falam do reencontro com uma paixoneta de Verão, do episódio com as fãs de Pedro Marin – “As miúdas espanholas estavam verdadeiramente histéricas, só tinha visto uma cena daquelas nos antigos documentários sobre os Beatles” –, das idas às praias do Lido, de Bajondillo e de La Carihuela, das tardes nas esplanadas da Calle de San Miguel e das discotecas que tinham uma dimensão e tecnologia como ainda não existia em Portugal. A Piper’s era a favorita.

[caption id="attachment_115445" align="alignnone" width="400"]A Piper’s  - Discoteca A Piper’s era uma das discotecas mais populares em Torremolinos nos anos 80 – Beatriz Raposo[/caption]

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