O projeto vermicompostagem na escola e no espaço foi entregue ao “Hubble Repair Man”, como ficou conhecido o astronauta Jeffrey Hoffman
Apaixonada pelo cosmos, a antiga professora de Biologia da Escola Secundária Raul Proença, Maria das Mercês Matos, foi assistir à palestra do astronauta Jeffrey A. Hoffman, famoso por ter ido ao Espaço em 1993 para consertar uma avaria no telescópio espacial Hubble, que decorreu no Pavilhão do Conhecimento, a 5 de julho. No final do encontro dirigiu-se ao palco para cumprimentar a amiga Ana Noronha, da Ciência Viva (que organizou o evento) e partilhou com ela o seu projeto de vermicompostagem, revelando que, com as experiências bem sucedidas da NASA, de conversão de dióxido de carbono da atmosfera em oxigénio, este poderia ser aplicado naquele planeta. Como resposta recebeu o convite para apresentar diretamente o projeto ao astronauta da NASA, que o recebeu, para ser estudado. Mas esta já não é a primeira vez que o documento chega à agência norte-americana responsável por projetos de exploração espacial, pois o primo, docente universitário em Boston, depois de ter conhecimento da vermicompostagem pediu-lhe que redigisse o projeto em inglês para o fazer chegar a um amigo investigador. Este gostou do que viu, mas “como não é a área dele, encaminhou-o para o departamento correspondente”, explica Maria das Mercês Matos à Gazeta das Caldas.
Composto fértil para Marte
Dinamizadora na região das iniciativas da Ciência Viva no Verão, desde 2002 até 2018, Maria das Mercês Matos promovia também, anualmente, o projeto Vermicompostagem nas Escolas, em diversos estabelecimentos de ensino da região e com vários níveis de ensino. Este consiste no uso da minhoca vermelha da Califórnia para decomposição da matéria orgânica que não é aproveitada nas cantinas escolares, produzindo um composto rico e fértil. É feita uma estação de compostagem na escola e recolhidos dados. Já o composto formado era aproveitado para usar na sementeira de plantas, utilizadas nas próprias cantinas, explica a autora do projeto, que foi depois adaptado ao espaço. Nesta nova vertente passou a testar-se também o comportamento das minhocas nas condições existentes no espaço, sem gravidade, e a compará-lo com os resultados obtidos pelos alunos. O objetivo foi o de verificar até que ponto as minhocas são afetadas na sua atividade vital e, utilizando o vermicomposto obtido das escolas, comparar a germinação das sementes e crescimento das plantas, em diferentes situações. “A minha ideia foi contribuir para a ligação entre escola, espaço e ciência”, conta Maria das Mercês Matos, explicando que o projeto pode, por exemplo, trazer benefícios ao solo árido de Marte.
Licenciada em Biologia, ramo de formação educacional, Maria das Mercês Matos, de 70 anos, foi docente durante 47 anos. Descendente de caldenses, nasceu em Lisboa e, com 10 anos mudou-se, juntamente com a família, para as Caldas. O seu percurso profissional começa em Angola em 1973 e, dois anos depois, regressa à cidade termal, para dar aulas no então liceu no Parque, mantendo-se na Escola Raul Proença até à reforma, em 2020. Colaborou em vários projetos internacionais, tendo sido premiada em alguns deles.■































