Lançado a 1 de junho, o projeto pioneiro de combate à iliteracia e isolamento social prevê a entrega semanal de 135 jornais em IPSS dos dois concelhos, que serão depois distribuídos pelos seus utentes
A tarde de quinta feira-feira foi de leitura no centro de dia da Associação “O Socorro” Gaeirense. A Gazeta chegou e, logo que lhes foi entregue, os utentes começaram a folhear o jornal e a procurar as temáticas que mais lhe interessam. Isabel Rebelo foi um desses casos. Já conhece a Gazeta há muitos anos e gosta de estar a par da atualidade da região, mas também do programa cultural e dos novos estabelecimentos que abrem.
Costumava comprar o jornal, ou lê-lo no café, mas com a Covid deixou de sair e perdeu esse hábito. Agora vê este projeto, que integra, como uma “ótima ideia. Gosto de estar a par do que se passa”, salienta. Também Lurdes Pereira conhece bem este semanário. “Tive durante muitos anos um café onde tínhamos a Gazeta das Caldas”, recorda, acrescentando que das primeiras coisas que vai ler é a necrologia, para ver se encontra algum conhecido. “Mas também gosto muito de saber o que se passa na nossa região”, realça.
Maria Luísa Damião conhece a Gazeta das Caldas há 54 anos. Uma data precisa que está associada ao facto de vir ajudar o marido, então tipógrafo neste jornal, numa altura em que as notícias eram feitas com carateres de chumbo. “Eu ia levar-lhe o almoço e às vezes ajudava-o. E lia sempre a Gazeta”, recorda, acrescentando que depois foi residir para Lisboa e deixou de o fazer. Retoma agora a leitura com o projeto que foi “abraçado” pela instituição que frequenta. Sentada na cadeira ao lado, Maria Alice Ramos folheia a Gazeta e, quando há assunto que lhe desperta a atenção, pára para ler. “Gosto de saber o que se passa em Óbidos e nas Caldas e vou-me entretendo”, conta a utente, que encontra na leitura uma forma de passar o tempo.
Maria Clementina Mondim já tinha guardado o jornal. “Costumo ler à noite”, conta, acrescentando que tem especial gosto pela política, mas também por saber o que se passa na região. “É uma maneira de estar informada. Dantes havia o Obidense, que também gostava de ler”, recorda. Já Maria Felismina Ramos gosta “muito” de ler e aproveita todos os bocadinhos para o fazer. Mas há também quem tenha assuntos que lhe despertam mais a atenção, como é o caso de José Simão, que se interessa particularmente pelas notícias que dizem respeito à Lagoa e praia da Foz do Arelho.
À mesmo hora que nas Gaeiras os utentes do centro de dia da Associação “O Socorro” Gaeirense recebiam a Gazeta, o mesmo acontecia no centro de dia do Centro Social Paroquial Nossa Senhora das Mercês, no Carvalhal Benfeito.
António Silva é dos primeiros a pegar e a folhear o jornal, que se habituou a ler “há muitos anos”. Chegou a ser assinante, mas teve que cancelar a assinatura quando os rendimentos deixaram de acompanhar o custo de vida. “Gosto de ler os títulos e depois vou ao Zé Povinho”, diz, enquanto passa as páginas. “Não posso ler muito seguido, porque tenho dificuldades com a vista, mas gosto de ler um bocado”, completa.
Do jornal absorve um pouco de tudo. “Gosto de ver as novidades do concelho e da freguesia, gosto de ver a política e os resultados no desporto”, completa acrescentando que a iniciativa “é uma boa ideia”.
Manuel do Coito Querido concorda com António Silva e diz que, de outra forma, não iria ler o jornal. “Em casa era raro ter jornais”, diz. Mas, desta forma, e apesar de também ter dificuldades de visão, acaba por dar uma vista de olhos. “Gosto de ver o que se vai passando no concelho e também a necrologia, para ver os velhotes que vão morrendo”, refere.
Para além do centro de dia e de convívio, os 31 jornais que vão semanalmente para esta instituição serão também distribuídos, de forma gratuita, pelos utentes do serviço de apoio domiciliário. “É uma forma de lerem as notícias e estarem atualizados”, refere a animadora Ana Carvalho, lembrando que a grande maioria não tem acesso às redes sociais, onde muita da informação é distribuída. A responsável destaca ainda a importância do projeto ao nível cognitivo, permitindo-lhes praticar a leitura em casa, ao invés de passarem o dia a ver televisão. “Por vezes, as pessoas mais velhas ao terem pouco contato com a leitura depois têm muita dificuldade em fazer a interpretação das cartas que lhe chegam a casa. Este projeto é uma lufada de ar fresco porque além de importante a nível cultural é um treino cognitivo”, conclui.
No Centro Social Paroquial Nossa Senhora das Mercês, são seis os jornais que serão distribuídos. A instituição tem uma assinatura do jornal e, além desse exemplar, parte dos jornais fornecidos através do programa ficará no centro de dia para ser consultado por mais pessoas, e outra parte chegará igualmente a utentes do serviço de apoio domiciliário.
Maria Trindade Pedro, diretora da instituição, considera que esta iniciativa tem vários pontos positivos. Por um lado, “dinamiza a leitura”, por outro permite fazer chegar a informação “a pessoas com rendimentos baixos, até porque as notícias de cá não passam na televisão e é isso que ele veem mais”, aponta. Além disso, o programa permite “criar o hábito da leitura em pessoas dos meios mais rurais, que faziam a sua vida no campo e não foram tão incentivadas a ler como as pessoas dos meios mais urbanos”, acrescenta. ■































