O arquitecto caldense Gonçalo Pacheco viu um dos seus projectos, a Casa CR, nomeado para edifício do ano no concurso do site internacional de arquitectura ArchDaily. Trata-se da reabilitação de uma moradia com cerca de 90 anos situada no Bairro da Ponte.
A moradia foi construída na década de 1930 e encontrava-se em elevado grau de degradação, mas no final da intervenção ganhou um ar contemporâneo. Gonçalo Pacheco refere que optou por potenciar as suas valências mais características, nomeadamente “a existência de um pátio interior, rodeado por um muro de quatro metros de altura que constitui um prolongamento da sala de estar de forma intimista e isolada do resto da cidade”.
O jovem arquitecto caldense considera que a reabilitação constitui hoje um dos principais mercados para a arquitectura, “talvez porque as condições socio-económicas sejam mais favoráveis”. Esta foi a quarta reabilitação que realizou, num conjunto do qual destaca ainda uma Capela em A-dos-Negros e a renovação do Hotel Água d´Alma na Foz do Arelho.
Para Gonçalo Pacheco, este é um tipo de trabalho que tem um certo grau de imprevisibilidade na abordagem ao projecto e à sua concretização, o que o torna “muito interessante”, embora “menos autoral” em relação a um edifício novo.
Um dos principais desafios de renovar uma construção antiga é que estes não foram projectados para cumprir os parâmetros de conforto de hoje, nomeadamente o isolamento térmico e acústico. Os projectistas têm, depois, que lidar com três constrangimentos diferentes, que passam pelo orçamento disponível, a arquitectura da fachada e a organização do espaço interior. É nesta última vertente que se pode melhorar o conforto, através de implementação de novos materiais.
Apesar de ter estado dedicado a reabilitações, o novo também seduz Gonçalo Pacheco, de um modo diferente. “Qualquer arquitecto procura o paradigma do terreno imaculado, que nos confere maior autonomia de intervenção”, realça.
Tanto ao nível da construção como na reabilitação, o seu atelier “tenta responder de forma livre do ponto de vista da concepção” e implementar materiais autênticos, como a pedra, o betão, ou o pinho, “algo cada vez mais difícil nos dias que correm”, acrescenta.
A interacção entre a obra e o local onde esta se insere é um dos factores que seduz Gonçalo Pacheco na arquitectura.
Terminada que está a intervenção na Casa CR, Gonçalo Pacheco está envolvido em projectos habitacionais nas Caldas e Óbidos, e na renovação de um escritório em Lisboa e de um restaurante em Peniche. Sempre que há essa oportunidade, participa em concursos de arquitectura, algo que diz fazer falta na região.
Cidades precisam de construção e reconstrução
O arquitecto considera que a construção e a reconstrução têm que andar de mãos dadas e nesse aspecto Caldas e Óbidos não são diferentes.
Nas Caldas, realça que durante muito tempo se apostou no desenvolvimento através da nova construção, “conferindo novos centros e novos aglomerados urbanos à cidade”. No entanto, isso fez com que o desenvolvimento deixasse vários “vazios urbanos”, considera. Por isso, entende que continua a haver espaço para um trabalho de consolidação da cidade que falta fazer.
Já a reabilitação tem a particularidade de beneficiar os centros históricos. No entanto, há cuidados a ter para que a preservação deste património seja feita de forma correcta. “Verifica-se que existe algum desconhecimento dos aspectos essenciais a preservar, ou dos elementos característicos dos edifícios e das técnicas que permitiram a sua concepção, como os esgrafitos ou os fingidos”, observa.
Gonçalo Pacheco acrescenta que grande parte das reabilitações são “meros exercícios de cosmética”, que não conferem a consolidação física desejada da cidade.































