Professores de inglês sentem-se usados pelo Ministério da Educação para servir interesses privados

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Na semana passada, 2150 professores de inglês de todo o país estiveram em formação, convocada pelo IAVE (Instituto de Avaliação Educativa), a propósito do exame concebido pela Cambridge, o “Preliminary English Test for Schools” (PET), obrigatório para todos os alunos do 9º ano. 20 professores da zona oeste foram nomeados para a formação, que se realizou na Escola Secundária Josefa de Óbidos, entre os dias 19 e 20 de Março, mas nem todos estiveram presentes, registando-se quatro faltas. Dos 16 que compareceram, apenas metade realizou o teste que punha à prova a sua proficiência linguística.
Na última semana de aulas do segundo período, época de avaliações, alguns professores de inglês viram-se obrigados a interromper o seu trabalho para marcar presença na formação indicada pelo IAVE. Avisados com apenas 48 horas de antecedência, muitos faltaram às aulas que tinham para dar e não corrigiram os testes a tempo de serem entregues aos alunos. Tudo isto porque, ao contrário do ano lectivo passado em que os professores se voluntariaram para corrigir os exames PET, agora esta tarefa é obrigatória para os que forem indicados.
Paula Jales, da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, não faltou à formação, mas recusou-se a fazer o “Cambridge English Placement Test”, exame que testa a aptidão linguística dos docentes de inglês e que deve ser superado para que sejam aceites como classificadores. “Não consigo perceber como é que um professor que foi acreditado pela sua faculdade e que fez um estágio, provando assim que tem competências para leccionar, tenha que fazer uma certificação para avaliar alunos”, começou por dizer a professora à Gazeta das Caldas. Com 35 anos de serviço, Paula Jales diz sentir-se “triste, ofendida e revoltada” com a situação, tendo em conta que os professores de inglês já avaliam exames nacionais “há muito tempo” e o Ministério da Educação sempre lhes deu crédito para isso.
No comunicado de imprensa emitido a 16 de Março, o IAVE comentou a avaliação feita aos professores, afirmando que “intitular esta práctica como atentatória da dignidade dos professores é desconhecer que é comum a todos os países que aplicam o mesmo tipo de testes”.  Já sobre o facto dos professores classificadores não serem pagos pelo serviço prestado, Paula Jales afirmou que a decisão não a espanta, “porque os professores sempre foram a mão-de-obra barata”, embora não seja este o aspecto que mais motiva a sua indignação.
O IAVE, por sua vez, defende a realização do teste concebido pela Cambridge English Language Assessment, da Universidade de Cambridge, afirmando que este é uma mais valia para todos os alunos, pois permite que obtenham um certificado linguístico reconhecido internacionalmente, com um custo de 25 euros, preço muito inferior ao praticado nas escolas de línguas. Da escala estabelecida pelo Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas, que vai do pré-A1 ao C2, o PET está desenhado para a certificação do nível B1, sendo que os alunos que obtiverem classificação superior a 90% têm direito ao B2.
No entanto, para Teresa Figueiredo, também professora de inglês da ESRBP, “o certificado com a validade de dois anos de nada serve aos alunos”, já que estão no 9º ano, “e por isso não podem candidatar-se a nenhuma universidade ou empresa internacional”. Mas, a maior crítica da docente vai para o cariz da formação que foi dada aos professores, por “ser tão específica e apenas direcionada ao exame da Cambridge”, o que só comprova “como os professores de inglês estão a ser utilizados para servir uma instituição que não o Estado”. Aliás, Teresa Figueiredo até admitiu que gostaria que o governo organizasse formações para os professores de inglês com profissionais da Cambridge, “mas nunca para estes fins”.

 

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