Primeiro dia de aulas nas escolas das Caldas da Rainha há um século

0
834

“Fazer do magistério sacerdócio”

Consultando as edições da Gazeta, entre 1925 e 1926, ou seja, precisamente há cem anos, constatamos que havia um número insignificante de escolas nas Caldas e algumas que nada dizem hoje ao leitor. O jornal referia em editorial de 7 de março de 1926 “num país como o nosso, onde a percentagem de analfabetos atinge 75%, e onde a ignorância marcha lado a lado com a falta de educação, as iniciativas destinadas a derramar a luz da instrução, devem merecer todo o nosso carinhoso aplauso.” E acrescentava: “Os números falam claro. Demonstra-se que somos dos países mais atrasados da Europa, em instrução, como afinal, em tudo!”. Concluindo dizia-se: “Trabalhemos, pois, nessa obra de regeneração moral. Ensinemos à mocidade como deve respeitar os seus mestres quando eles, principalmente com esse espírito culto a quem prestamos hoje homenagem – o Professor Agostinho de Sousa.

Há um século existiam algumas escolas primárias no concelho, também alguns colégios particulares, o Colégio-Lyceu D. Leonor, a Escola Agrícola Móvel, a Escola Comercial e Industrial Rafael Bordalo Pinheiro, e um outro tipo de escola, politicamente mais consistente, que o Estado Novo, depois do Golpe do 28 de Maio viria a encerrar sem apelo nem agravo e apesar dos protestos. Tinha o nome de Escola Primária Superior e destinava-se a receber, segundo é referido numa petição publicada na Gazeta, para “aperfeiçoamento das faculdades dos filhos das classes menos abastadas.” A 25 de outubro de 1925, referia-se que “a Escola Ind. e Com. Bordalo Pinheiro reabre amanhã as aulas com 250 alunos, “número altamente lisonjeiro para uma instituição que integrada no espírito popular, dispõe de um ensino incontestavelmente útil e prático”, ficando equiparado ao das Escola Preparatórias. “Os alunos saídos da escola poderiam no futuro ingressar nos Institutos Comerciais sem exame de admissão”, especificidade que se viria a perder depois.

- publicidade -

A 18 de novembro de 1925 noticiava-se que o Governo acabara de “aprovar os Estatutos da Caixa Escolar desta Escola” intitulada de D. Leonor, de que seriam sócios os professores e alunos e protetores estranhos à escola que contribuíssem com 1 escudo mensal ou os beneméritos que dessem 500 escudos. O objetivo da Caixa era “conceder salários de estímulo a favor dos alunos estudiosos até ao socorro aos alunos reconhecidamente pobres”. A 9 de maio de 1926, Gazeta refere uma conferência “notável, educativa e patriótica” do “sr. dr. Silvio Pélico, Filho” sobre o “Ensino técnico nas Democracias Modernas” na Escola B. Pinheiro. A 27 de junho de 1926 noticia-se que uma comissão de pais dos alunos da extinta Escola Primária Superior enviam um telegrama ao novo Ministro da Instrução, pedindo que próximo ano letivo seja “creado um Liceu Nacional afim de não prejudicar interesses população escolar caso não seja restabelecida a Escola Primária Superior embora convenientemente remodelado o seu ensino aproximando-o das vantagens liceais para os filhos das classes menos abastadas”. Assinaram o telegrama J. Saudade e Silva, Mário Mendes e Maldonado Freitas, personalidades de direita e da esquerda da época. Gazeta abordou a controvérsia desta extinção, que não foi revertida, mantendo-se a ausência de Liceu nas Caldas da Rainha quase até ao 25 de Abril de 1974.

 

 

- publicidade -