Plano de reabilitação das linhas de água das Caldas começa no Rio da Cal

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O Rancho Folclórico “As Ceifeiras” da Fanadia recriou a lavagem da roupa junto ao Rio da Cal

O objetivo passa por reabilitar os rios utilizando técnicas de engenharia natural. Troço de 200 metros será o primeiro a ser intervencionado num concelho que possui cerca de 90 quilómetros lineares de linhas de água. No passado sábado, o espaço junto ao Rio da Cal, recebeu a Festa da Água, que pretendeu promover a literacia de natureza

A problemática linha de água, que há uns anos era um grande foco de poluição, está “muitíssimo melhor” e parte dela – cerca de 200 metros entre as antigas instalações da EDP e a zona junto ao Pinhal de Santo Isidoro – marcará o início do plano de reabilitação das linhas de água do concelho das Caldas. O objetivo passa por reabilitar os rios, mas de acordo com um novo paradigma, da utilização de técnicas de engenharia natural, ao invés do uso do cimento e betão, que aumenta o risco de cheias e inundações. “É também preciso mostrar às pessoas que aquilo que se fazia há 20, 40 anos está totalmente errado e teremos que mudar a nossa forma de atuar sobre os rios”, explica Carla Santos, bióloga, do Gabinete do Ambiente da Câmara das Caldas, que organizou a primeira Festa da Água, na tarde de 8 de novembro, exatamente naquele espaço (em frente à ESAD.CR).

A reabilitação que agora se pretende levar a efeito passa pelo corte da vegetação invasora e exótica e o replantar de espécies de árvores autóctones, nomeadamente salgueiros, freios, sabugueiros, ao mesmo tempo que se consolidam as margens para que estas não sejam erodidas nos caudais de inverno e haver alguns trilhos informais para que as pessoas possam passear ao longo das linhas de água.

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Estas práticas serão ajustadas às especificidades de cada um dos troços das outras linhas de água do concelho que, no total, ascendem a cerca de 90 quilómetros lineares.

Estas intervenções pretendem também adaptar o território no contexto das alterações climáticas, na mitigação do risco de cheias e inundações e também para que, no Verão, a água não escasseie, explica Carla Santos.

No caso deste troço, por se tratar em zona urbana será a autarquia a intervir, enquanto que nos locais não urbanos, a reabilitação e manutenção será responsabilidade dos particulares que confinam com as linhas de água. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) tem um manual de boas práticas para particulares e, de acordo com Carlos Castro, desta entidade, numa primeira fase o objetivo passa por não impor multas, mas procurar que as pessoas entendam como fazer, numa perspetiva pedagógica.

“É uma mudança de práticas que deve ser executada pelo município e pelos particulares para que todos possamos ter linhas de água que sejam mais seguras e que preservem todos os serviços de ecossistema prestados pelos rios”, conclui Carla Santos.

Também para a União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, responsável pela manutenção do espaço, esta recuperação ambiental é muito importante. Pedro Brás recorda que já foi feita a catalogação das árvores ali existentes, por técnicos do município, e têm decorrido diversas iniciativas de cariz ambiental, numa parceria com a Ágora.
O troço que atravessa o Pinhal de Santo Isidoro esteve em foco na Festa da Água, uma iniciativa que pretende ser um momento de partilha de informação e uma oportunidade para promover a literacia de natureza. A primeira edição teve por mote “passado, presente e futuro do rio da Cal” e convidou a população a visitar aquele espaço natural, participando em ateliers lúdicos e artísticos, exposição de memórias passadas e partilha de reflexões para o futuro. Organizada pela autarquia e União de Freguesias de Nossas Sra do Pópulo, Coto e S. Gregório, em parceria com a ESAD.CR, a Festa da Água contou com a participação de diversas instituições e associações ambientais e do Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro.

O tratamento das águas
O saneamento é responsabilidade dos SMAS. De acordo com Rute Henriques, atualmente 90,9% do concelho está coberto pela rede de saneamento e os restantes quase 10% usam tratamentos individuais, tipo fossa. Em 2024, os serviços municipalizados trataram mais de três milhões de metros cúbicos de águas residuais, sendo que mais de 2,7 milhões foram encaminhados para o emissário submarino e 560 mil metros cúbicos despejados em linhas de água do concelho.

A ampliação da ETAR das Águas Santas é uma urgência, mas também está prevista a construção e remodelação da rede de drenagem, a instalação de sistemas de controlo e o reforço de ações de fiscalização para minimizar as ligações indevidas e descargas ilegais.

De acordo com o presidente da Câmara, Vítor Marques, o Estado demorou três anos para reconhecer como ação de Relevante Interesse Público a viabilização da ampliação da ETAR, através da alteração ao PDM caldense, infraestruturas de saneamento e abastecimento de águas em espaços agrícolas e espaços florestais, o que levou a que tivessem de fazer uma revisão do projeto inicial. Esse trabalho deverá ficar concluído ainda este mês, “para podermos lançar o procedimento concursal para realmente fazer essa ampliação e reabilitação”, informou o autarca, admitindo que o investimento ascenda a mais de seis milhões de euros. Nesta altura apenas está assegurado um milhão de euros a fundo perdido, através da OesteCIM, mas a autarquia irá procurar mais financiamento comunitário para suportar uma obra que irá demorar quase dois anos a ser concretizada, uma vez que a ETAR nunca deixará de funcionar.

Vítor Marques destaca que esta intervenção na ETAR permitirá o aproveitamento das águas tratadas, para lavagens, jardins e agricultura, podendo repercutir-se numa receita para a autarquia, ao mesmo tempo que reduz os custos com a quantidade de água que é enviada para o emissário submarino.

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