Na passada segunda-feira a água circulava na embocadura da Lagoa e as dragagens já estavam a decorrer. No entanto, no dia 6 de Maio cerca de 60 pescadores reuniram-se em protesto junto ao cais da Foz do Arelho para alertar para a falta de qualidade da água da Lagoa de Óbidos e os problemas que poderiam surgir para os peixes e mariscos. A solução viria a ser encontrada nessa mesma tarde quando as quatro juntas ribeirinhas e as câmaras das Caldas e de Óbidos reuniram com os pescadores e decidiram que começariam nova intervenção na aberta com máquinas pesadas.
As máquinas das Câmaras das Caldas da Rainha e Óbidos terminaram, na passada segunda-feira (11 de Maio), mais uma intervenção na aberta de modo a aumentar o fluxo de água na ligação entre a Lagoa e o mar. Trata-se da terceira vez, nas últimas semanas, que as autarquias disponibilizam equipamentos para desassorear a “aberta” e aumentar o seu caudal.
“As máquinas retiraram um banco de areia que havia na embocadura, para o lado sul, de modo a aumentar a entrada e saída de água”, explicou o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques à Gazeta das Caldas.
Esta intervenção começou no passado dia 8 de Maio e foi a resposta das autarquias ao protesto dos pescadores pela má qualidade da água na Lagoa que já estava a prejudicar o peixe por não ter água do mar em abundância.
Os pescadores da lagoa reunidos dois dias antes no cais da Foz do Arelho, pediam que o plano de dragagens começasse junto à “aberta”, para evitar que esta vol
tasse fechar e para permitir que a água da Lagoa se fosse renovando, não pondo assim em perigo as espécies de peixes e mariscos que ali habitam. É que, quando a “aberta” fecha, os níveis de oxigénio e a temperatura da água são afectados, assim como os níveis de sal (visto que a Lagoa é composta por uma percentagem de água salgada e outra de água doce, num equilíbrio fundamental para o peixe e marisco).
Esta intenção esbarrou na Associação Portuguesa do Ambiente, que não quis fazer alterações ao projecto das dragagens, alegando que em altura e lugar próprio (quando o projecto foi apresentado publicamente) ninguém se opôs ou propôs alterações.
Durante a reunião as autoridades políticas salientaram várias vezes o facto de estarem todas em sintonia entre si e com as entidades ambientais, em defesa da lagoa. No entanto, e tendo em conta o tempo que uma draga demora a resolver o problema, pediram a quem melhor conhece a lagoa (os pescadores) para em conjunto encontrarem uma solução imediata para que a qualidade da água não fosse afectada.
A solução encontrada passou por nova intervenção com máquinas giratórias na aberta com o objectivo de aprofundar o canal.
Dragagens começaram na quinta-feira
Alguns pescadores queixaram-se da insistência neste tipo de intervenções, mesmo depois de as duas primeiras não terem tido o efeito esperado, lembrando ainda que vêm aí as marés de quarto (em que a Lagoa praticamente só perde água, não entrando nova). Os pescadores alertaram ainda para o facto de o plano de dragagens não estar a ser seguido, visto que na Lagoa trabalha, actualmente, apenas uma draga, quando, segundo os mesmos pescadores, deveriam estar duas. Para além disso, defendem que a “aberta” deveria ser aberta onde o mar quer e não onde o homem idealiza. É que, segundo os pescadores, o mar quer abrir o canal 200 metros mais para norte.
Na quinta-feira os técnicos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera estiveram na Lagoa a recolher amostras da água e do solo, mas nesse dia a água já apresentava uma cor mais saudável. Alberto Jacinto, da Associação dos Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos, explicou à Gazeta das Caldas que a cor da água no dia anterior se deveu às condições meteorológicas adversas, que com os ventos e chuvas e o aumento da temperatura da água, levaram a que os limos se soltassem do fundo e ficassem depositados nas margens, deixando a água com uma cor e um cheiro incaracterísticos.
O dirigente associativo explicou ainda que na própria tarde de quarta-feira, com a alteração dos ventos, a situação ficou resolvida por força da natureza, mas que, ainda assim, deveria ser feita uma intervenção para aprofundar o canal da aberta, por forma a tentar evitar que esta feche novamente.
Durante estes dois dias houve água a correr na “aberta” nos dois sentidos. No entanto, apresentava uma coroa de areia que, segundo os pescadores, não permite que a água, quando sai, tenha força para arrastar as areias, sendo assim a grande responsável pelo seu fecho.
Na quinta-feira, conforme planeado, começou o plano de dragagens, que prevêem a abertura e aprofundamento dos canais da zona inferior da Lagoa. Adjudicadas à empresa Irmãos Cavaco, SA, irão decorrer durante os próximos nove meses. Ao todo, serão retirados do interior da lagoa 650 metros cúbicos de areia que será aproveitada para reforçar o cordão dunar mas também o cordão à volta da lagoa.
A necessidade da segunda fase
O presidente da Câmara de Óbidos destaca que o problema só será resolvido com as duas fases das dragagens feitas. Considera que existe a probabilidade de nos próximos tempos a “aberta” voltar a fechar pois a Lagoa ainda não possui “peso e profundidade nas suas águas” para contrabalançar com o mar.
O autarca garante que o ecossistema (que garante a subsistência de várias famílias e vários investimentos) possa ser posto em causa, pelo que é necessário “que as Câmaras estejam disponíveis para voltar a intervir”. Realça, contudo, que também já sensibilizaram a Administração Central para avançar o mais depressa possível com a candidatura da segunda fase de dragagens, que compreende intervenções nos Braços da Barrosa e do Bom Sucesso.
Numa visita à Lagoa, a 23 de Março, o secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos disse que o concurso para essa intervenção deverá ser lançado ainda este ano e que prevê a retirada de 700 mil metros cúbicos de areia.






























