Caldas da Rainha recebeu, no passado domingo (25 de Junho), perto de 200 pessoas que participaram no Cycling for Ataxias (Venha pedalar pelas Ataxias), inserido num movimento internacional que junta as bicicletas à problemática dos pacientes atáxicos e tenta promover a prática do exercício entre estes doentes. A ataxia é um transtorno neurológico caracterizado pela falta de coordenação de movimentos musculares voluntários e de equilíbrio.
“Não há nada pior do que estar preso no corpo e com a mente lúdica”. As palavras são de Maria José Santos, presidente da APAHE – Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias. Trata-se de uma doença rara causada por mutações genéticas herdadas dos progenitores e que em Portugal ainda não se sabe quantas pessoas afecta. Os sintomas mais frequentes são a falta coordenação motora e dificuldades na fala, o que leva a que muitos dos doentes sejam associados ao alcoolismo. É esse estigma que a associação e os portadores da doença pretendem combater, dando a conhecer os sintomas e a forma como vivem.
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Fátima d’Oliveira, à esquerda, apresentou o livro de contos “Tás com a mosca, ou cheira-te a palha” |DR[/caption]
O livro “Tás com a mosca, ou cheira-te a palha” de Fátima d’Oliveira, apresentado na tarde de domingo no Museu do Ciclismo, é um desses exemplos. A autora é portadora da doença e com esta obra, composta por pequenos contos, pretendeu fazer a desmistificação e sensibilizar para as ataxias, mas de uma forma original, através da ficção.
“Os livros sobre esta temática não têm grande aceitação pelo público, interessando sobretudo a quem já conhece este tipo de patologias”, disse, acrescentando que, por isso, esta temática aparece explicada apenas na introdução.
Já a presidente da APAHE, Maria José Santos, destacou a “audácia” do título do livro: “Tás com a mosca, ou cheira-te a palha”, que pretende também ser um chamariz à sua leitura. Maria José Santos é familiar de portadores de ataxias e cuidadora. Referiu que os sintomas são habitualmente diagnosticados a partir dos 30 anos, mas há casos, como o de um menino caldense, que aos três anos já lhe foi diagnosticada a doença.
A receita da obra agora apresentada reverte a favor da associação, que apoia os doentes, divulga a existência destas patologias e apoia a sua investigação.
Esta apresentação foi uma das actividades incluídas na iniciativa “Cycling for Ataxias” que decorreu nas Caldas, apoiada pelo Museu do Ciclismo. Os participantes chegaram logo de manhã e alguns foram de bicicleta até Salir do Porto, enquanto que outros fizeram a Rota Bordaliana pela cidade. Depois visitaram a exposição de cartoons no CCC e juntaram-se todos num almoço convívio, oferecido por um restaurante caldense, e que decorreu no Parque D. Carlos I.
António Figueiredo, médico ortopedista e organizador do passeio de bicicleta, explicou à Gazeta das Caldas que a iniciativa surgiu nos Estados Unidos, alastrando-se depois à Irlanda, Espanha e Portugal, que foi o quarto país a aderir ao movimento que junta as bicicletas à problemática dos pacientes atáxicos e ao mesmo tempo promove a prática do exercício.
“Há depoimentos de atáxicos que praticam regularmente o cicloturismo, com resultados que têm surpreendido os próprios médicos”, disse, acrescentando que também lhes permite uma maior autonomia e qualidade de vida.
O objectivo destas acções passa também por promover a visibilidade destes pacientes que, por serem poucos, estão esquecidos, realçou o médico.
Este ano, além dos amantes das bicicletas, juntaram-se à iniciativa os caminheiros do Louriçal e das Caldas e Óbidos, assim como elementos da associação e amigos, num total de perto de 200 pessoas.































