Pedro Pereira, criador de perdigueiros portugueses, viu uma cadela nascida no seu canil chegar ao topo do mundo. É o primeiro cão nascido em Portugal a conquistar este título
A paixão de Pedro Pereira pelos cães de caça começou há mais de três décadas, quando um amigo lhe ofereceu o primeiro perdigueiro português. “Foi em 1989. Essa cadela fez-me apaixonar pela raça e, como na altura era pouco divulgada, achei interessante criar e melhorar as qualidades do nosso perdigueiro”, recorda. Desde então, dedicou grande parte da vida a criar, treinar e aperfeiçoar o perdigueiro português, raça que considera “um verdadeiro símbolo nacional, tão nosso como o cavalo lusitano”. Este ano, o trabalho foi recompensado com um feito histórico: uma cadela nascida no seu canil foi campeã do mundo.
A Sexta-feira das Águas Mornas, com 5 anos, criada por Pedro Pereira e apresentada em competição pelo condutor José António Correia da Silva, sagrou-se campeã mundial de cães de parar, no Campeonato do Mundo realizado na Polónia. Foi a primeira vez que um cão nascido em Portugal alcançou esse título, e, ainda por cima, sendo um perdigueiro português. “É o máximo a que podemos aspirar. Criamos uma ninhada com tanto carinho, vemos os cães crescer e, quando um deles chega a campeão do mundo, é o culminar de tudo o que fazemos com paixão”, confessa.
Na competição, os cães são avaliados pela forma como procuram e apontam a caça – faisões, perdizes ou codornizes -, simulando as condições de caça prática, mas sem abate. É um exercício de precisão, obediência e instinto, onde o entendimento entre cão e condutor é essencial. A Sexta-feira destacou-se. O campeonato tem competições separadas para cães continentais e cães britânicos. Além de ter ganho entre os continentais, a Sexta-feira superou também a pontuação no melhor entre os britânicos. “Tornou-se o cão com mais resultados em Portugal. É o cão do momento”, diz Pedro Pereira, com orgulho.
Além de criador, Pedro Pereira é também caçador e competidor. Soma cinco títulos de campeão nacional de Santo Huberto, uma modalidade que, segundo explica, “promove o caçador moderno, aquele que caça com respeito pelo ambiente, pela propriedade e pelos animais”. Foi nessa vertente que representou Portugal em vários campeonatos internacionais, chegando mesmo a ser vice-campeão do mundo há alguns anos. “Faltou-me um bocadinho de sorte. Uma perdiz levantou-se na direção dos júris e não pude disparar, por segurança. Mas ficou atravessado…”, recorda com humor. Na competição deste ano, foi campeão nacional nesta disciplina e foi também competir à Polónia, com a Pipa, outra perdigueira que, curiosamente, é filha do Halan do Solar do Jamor, com o qual foi vice-campeão do mundo, em 2018. Desta vez trouxe um terceiro lugar na sua série.
Criador desde 1992, Pedro Pereira continua fiel à ideia de que o perdigueiro português deve ser um cão funcional, capaz de caçar com instinto, inteligência e elegância. “O cão deve ser bonito, claro, mas sobretudo funcional. Deve poder fazer aquilo para que foi criado, porque é isso que mais prazer lhe dá.” As ninhadas que cria — uma ou duas por ano — não são comerciais, resultam de combinações pensadas para melhorar a raça. “Idealizamos sempre: se este cão tivesse o nariz daquele, a valentia do outro… É essa procura pela perfeição que nos move”, conta.
Hoje, na sua propriedade nas Gaeiras, mantém 27 cães, entre perdigueiros, setters, pointers e épagneuls bretons. Treina-os com paciência e método, por vezes recorrendo a terrenos de caça em Espanha, onde a cultura de caça e a densidade de espécies permite ensinos mais intensivos. “Um cão de competição exige treino quase diário, boa alimentação e cuidados constantes. É um trabalho que dá despesa, mas dá também uma satisfação enorme”, refere.
A atividade profissional de Pedro Pereira centra-se na gestão de zonas de caça turística e na criação de aves para repovoamento, nomeadamente perdizes e faisões. Explora duas zonas, uma na Parreira, concelho da Chamusca, e outra em Montemor-o-Novo, onde promove uma gestão ambiental equilibrada. “As pessoas muitas vezes não sabem, mas os terrenos geridos por caçadores são os que têm mais biodiversidade. Há investimento, alimentação, pontos de água, controlo populacional. Tudo isso beneficia o ecossistema”, aponta.
Entre cães, aves e caçadores, Pedro Pereira vive o campo e vê na caça não apenas um desporto, mas uma forma de estar em harmonia com a natureza e com os animais. “Hoje em dia, o caçador moderno tem de ser alguém que respeita o meio. E é isso que tento mostrar nas competições e no trabalho que faço todos os dias”, conclui.



































