É na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche, que está sediada a Associação David Melgueiro, que pretende em 2018 realizar uma volta ao mundo num veleiro com o objectivo de fazer investigação científica nos oceanos.
O projecto é liderado por José Mesquita, comandante da Marinha Mercante, agora reformado, que quer levar consigo jovens cientistas e jornalistas que farão algumas partes da viagem.
Marborealis, assim se designa a expedição científica que se pretende realizar no próximo ano, num projecto da Associação David Melgueiro. A viagem deverá durar dois anos e inclui a passagem por 50 portos de 27 países numa circum-navegação através do Atlântico, Índico, Pacífico e Ártico.
Servirá para fazer recolha de informação e pesquisa que permitirá aos cientistas, por exemplo, antecipar os fenómenos extremos. Isto porque é necessário cada vez mais tentar prever os ciclones, tsunamis, tufões e as trombas de água, tudo fenómenos que estão relacionados com o clima. “É inegável que os oceanos estão doentes e é preciso diagnosticá-los”, disse à Gazeta das Caldas o comandante José Mesquita, líder desta missão.
Inspirada nos Descobrimentos
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Mas para se fazerem ao mar, primeiro é preciso adquirir o navio “que já foi identificado e que neste momento se encontra à venda em Espanha”, contou José Mesquita. Trata-se de um veleiro, de 24 metros, que custa 400 mil euros e será ainda adaptado para se transformar num navio de investigação oceanográfico.
Em 2014, data em que foi constituída a Associação David Melgueiro, estimava-se que o projecto iria custar cerca de três milhões de euros, mas passados três anos esse valor terá de ser revisto. Ainda assim, José Mesquita considera que esta viagem “ficará muito mais barata do que qualquer expedição feita num barco oceanográfico convencional”.
E por onde irá passar este veleiro? “Primeiro vamos ao Brasil depois Maputo e Calcutá”, disse o comandante, explicando que irão zarpar de Lisboa. Depois da Índia, o veleiro navegará com destino a Macau, seguindo a Rota da Seda. Posteriormente a viagem segue pelo Sudoeste Asiático até chegar ao Japão. Esta epopeia pretende unir as rotas de Pedro Álvares Cabral (Brasil), de Vasco da Gama, repetindo também a viagem que David Melgueiro fez pelo Ártico.
David Melgueiro, que dá nome à associação, foi um navegador e explorador português que, entre 1660 e 1662, ao serviço da Marinha Holandesa, levou a cabo a primeira travessia da passagem do Nordeste, no Ártico, no sentido Oriente – Ocidente, ligando o Japão a Portugal.
Este navegador inspirou José Mesquita, que diz que a viagem que ele próprio está a preparar “será a maior epopeia náutica feita por um barco à vela até hoje”.
O comandante contou que os responsáveis ligados ao projecto Marborealis trabalham em regime de voluntariado pois todos querem dar futuro à Humanidade, aos filhos e aos netos. “É para isso que aqui estamos”, referiu o comandante, que terá quatro tripulantes marinheiros, três cientistas e um jornalista. Os convidados, porém, serão renovados de dois em dois meses.
Os investigadores trazem as amostras e os resultados das suas experiências científicas para estudar nas suas universidades. Pretende-se efectuar estudos sobre a ocorrência de fenómenos como a subidas das águas, as tempestades, ou a erosão costeira.
O comandante diz que esta viagem vai ajudar a criar “empregos azuis” e que a expedição contará com 30 jovens investigadores, sendo que, obviamente, nenhum fará a viagem completa.
José Mesquita considera ainda que é “fundamental” manter o projecto português na sua concepção e concretização, apesar de estar aberto a cooperar com entidades e universidades estrangeiras ao longo das várias etapas.
Artes apoiam a expedição
A apoiar a expedição está também um conjunto de 19 artistas que fazem parte da Tertúlia de Arte da Associação David Melgueiro. Pintores e escultores colaboraram com obras para a exposição colectiva “Oceano – Mar e Vida”, que já passou por Oeiras e no Centro de Estudos Ambientais de Torres Vedras. Esta mostra seguirá depois para Leiria, Figueira da Foz, devendo seguir-se outros destinos por forma a percorrer o país.
Um dos artistas ligado à epopeia científica é o caldense Carlos Oliveira, que tem uma obra na exposição. “Transpusemos para as peças como se sente o mar e o que se passa actualmente nos oceanos”, disse o artista, que está envolvido na divulgação do projecto Marborealis.
A Associação David Melgueiro foi criada com o objectivo de prestar apoio operacional e logístico a actividades científicas e técnicas, designadamente, nas áreas da preservação ambiental, das ciências do mar, biológicas, atmosféricas e da Terra, da oceanografia, da arqueologia submarina e do mergulho.
Actualmente está a decorrer uma campanha de angariação de fundos online que visa apoiar a concretização da expedição científica.
José Mesquita e Carlos Oliveira estão empenhados em concretizar uma expedição científica em 2018 |Natacha Narciso
José Mesquita
José Mesquita, 65 anos, foi comandante da Marinha Mercante. A paixão pelo mar começou em menino e desde tenra idade que queria ser pescador.
Foi para o mar aos 19 anos tendo começado a sua vida náutica nos pesqueiros da Terra Nova, na pesca do bacalhau.
José Mesquita é natural de Runa (Torres Vedras), mas vive em Peniche desde 1983. Comandou navios e dirigiu escolas e lotas. Trabalhou na Direcção Geral das Pescas entre 1988 e 2012. Foi o primeiro português que chegou a inspector comunitário de Pescas em Bruxelas.
O comandante reformou-se aos 60 anos, após quatro décadas de actividade profissional ligada ao mar. Agora quer concretizar a viagem Marborealis, para ajudar a salvar os oceanos.