Pedro Machado veste um uniforme de super-herói para fazer sorrir crianças

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O armazém da Refer na estação de São Martinho do Porto ganhou uma nova vida

Superheroes4kids é o nome do projecto de Pedro Machado, filho de emigrantes da região nos Estados Unidos da América, que se veste de super-herói para levar sorrisos e brinquedos a crianças em estado terminal. Já passou por hospitais de dez países

Pedro Machado tem 50 anos e constituiu uma associação sem fins lucrativos chamada Superheroes4kids, que tem um espaço no antigo (e outrora abandonado) armazém da Refer na estação ferroviária de São Martinho do Porto.
Filho de emigrantes da região nos Estados Unidos da América, veste os uniformes de vários super-heróis e visita crianças em fase terminal em hospitais, levando-lhes brinquedos e sorrisos e fazendo-os “esquecer” o mundo real.
A história começou em Agosto de 2015, quando um homem conhecido como “The Baltimore Batman” perdeu a vida nos Estados Unidos. Ele vestia-se de batman para levar sorrisos a crianças em hospitais e, quando faleceu, Pedro Machado entendeu que gostaria de o homenagear e de seguir-lhe as pisadas. Mas “ninguém ia conseguir calçar os sapatos dele”, refere metaforicamente, para explicar o porquê do seu primeiro fato.
Como até já tinha comprado uma mota do Capitão América, que tinha ganho num programa no Discovery Channel e, apesar de viver então em Inglaterra, possuía sotaque americano e decidiu vestir a pele do Capitão América. Tentou angariar fundos para comprar o fato, o escudo e outros materiais. Conseguiu 3000 libras, foi à Turquia comprar um fato e começou as suas idas a hospitais. “Fiz um negócio com uma loja de brinquedos que permitia devolver o que não entregássemos no hospital, porque não sabia quantos eram nem se eram meninos ou meninas”, explicou.
Enquanto dançarino profissional e professor de dança, este filho de emigrantes do Casal Velho e da Cela viajava por vários países, o que lhe permitia ter contactos em todo o mundo. Singapura, Malásia, Austrália e Holanda foram as viagens seguintes. Para tal, o benemérito tem angariado patrocínios e doações, além de gastar o seu dinheiro.
A certa altura descobriu um senhor que fazia fatos do Iron Man (Homem de Ferro) e acabou por adquirir mais um. “Não posso ser o Spider Man (Homem Aranha) porque não sou fininho, mas comprei o fato, porque tenho amigos que o podem vestir”, contou, antes de parar para cumprimentar uma família que acabou de visitar o espaço onde guarda os seus adereços. “Queria fazer um escudo do Capitão América e já sei fazer o desenho”, diz-lhe a criança, ao que responde, sempre sorridente e carinhoso: “tu podes fazer! Com a ajuda dos pais treinas com cartão”.
Em 2018 conheceu uma criança na Holanda que o marcou. “O Super Sam tinha cancro, mas tinha muita energia e quando saí de lá ele estava bem”, contou. Uma semana depois, enviou mais um presente, mas no mês seguinte a criança tinha perdido a vida. “Afectou-me muito e parei de visitar crianças”, conta este “herói”, que desde cedo teve de lidar com a morte na sua vida.
Nascido em Washington (EUA) e a viver em Leeds (Inglaterra), Pedro Machado decidiu em Junho do ano passado mudar-se para Portugal e foi aí que pensou voltar a visitar crianças. Trouxe uma ambulância Ford que adquiriu e que participou no socorro às vítimas durante o 11 de Setembro e lá dentro um fato do Hulk que adquiriu. E é esse o veículo que utiliza para as recolhas de brinquedos.
Actualmente encontra-se a angariar meios para ir a Espanha, França, Luxemburgo, Itália e Alemanha.

A recuperação de um espaço histórico

Durante oito meses, Pedro Machado esteve em conversações para lhe ser cedido o antigo armazém da Refer na estação ferroviária de São Martinho do Porto, o que aconteceu já em Fevereiro deste ano. A associação que fundou paga uma renda e teve de recuperar o espaço para ser a sede.
O antigo armazém estava ao abandono há décadas e “tinha buracos nas telhas, só tinha electricidade de um lado, não tinha ligação de água nem de esgoto e estava cheio de excreções de pombos e ratos mortos”.
Além da recuperação do armazém, que agora é a casa dos super-heróis (onde ficam expostos os fatos), Pedro Machado revelou que vão começar a tratar do jardim e das casas de banho, que estão ambos ao abandono. “É lamentável que uma estação que ganhou três prémios como a mais bem cuidada e tenha hoje pessoas a fumar droga nas casas de banho”, nota o “herói”, aludindo aos prémios conquistados no concurso das “Estações bem cuidadas” da região Centro, nos anos de 1970, 72 e 73.
Pedro Machado lamenta a falta de apoio do poder local e queixa-se da burocracia em Portugal. Por outro lado, ao nível dos patrocínios também não tem sido fácil encontrar. “Nos Estados Unidos da América e em Inglaterra é mais fácil”, compara. Ainda assim, olha orgulhoso para o espaço: “o que foi antes e o que é agora, é incrível o que fizemos com pouco dinheiro”.
Os fundos provêm do merchandising (t-shirts, camisolas, bonés, autocolantes e outros) e de donativos. Depois de recuperar o espaço este super-herói sem uniforme e de colete motard vestido, lembrou-se de abrir o espaço ao street food, criando o Ó Pit Stop, um agradável local de convívio. “São nossos patrocinadores, pelo que não pagam nada, mas ao fim do mês fazem um donativo”, explicou. Actualmente já ali trabalham quatro veículos: o Iogski, o Rock and Doll, o 7th Life e o Pit Stop Burguer, uma roulloute de um emigrante sueco que está reformado que a cedeu gratuitamente à associação.
“É um projecto que pode ser replicado noutros pontos do país, se existir essa vontade”, afirma Pedro Machado, que foi três vezes campeão mundial de line dancing.

O armazém da Refer na estação de São Martinho do Porto ganhou uma nova vida
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