Passagem de modelos em chocolate junta moda e ambiente

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Kristine Kosta trouxe ao CCC a colecção Nomadz, inspirada nas guerreiras sacerdotisas | Fátima Ferreira

Perto de duas dezenas de manequins desfilaram com as colecções de três criadoras portuguesas com acessórios em chocolate. A passagem de modelos, que antecede o Festival Internacional de Chocolate, decorreu no passado dia 16 de Fevereiro, no CCC, e teve por temática as alterações climáticas.
No grande auditório transformado em passarela houve também música, dança e uma mensagem de alerta para o futuro do planeta.

Proteja o planeta Terra, que é o único com chocolate. A mensagem, que apareceu no vídeo sobre as alterações climáticas que antecedeu o desfile, pode sintetizar o objectivo desta edição do festival de Óbidos: aliar a sensibilização ambiental à arte e ao chocolate. O certame abre portas hoje, sexta-feira, mas foi precedido pela já tradicional passagem de modelos em chocolate, que decorreu pelo segundo ano consecutivo no CCC, afirmando o trabalho colaborativo entre os municípios das Caldas e de Óbidos.
A música de Rodrik com o seu hand pan (instrumento suíço) abriu o espectáculo que foi assistido por mais de 400 pessoas.
A designer de moda Mónica Gonçalves (Grigi) apresentou um desfile onde explorou a temática da mitologia e as suas contradições. Por exemplo, o corvo é para uns símbolo de sabedoria e princípio da criação, enquanto para outros está associado à degradação. As peças tiveram como acessórios detalhes em chocolate, que as modelos transportavam na cabeça, no caso do crânio e bico do corvo,  como máscara, e também pulseiras.
Uma tribo urbana minimal e andrógina, visões de um futuro imperfeito e um apelo à vida, definem a colecção que a estilista Cristina Neves apelidou de “nonmetallic”. O prateado, o preto e o branco são as cores predominantes e os acolchoados sintéticos “lançam um olhar irónico sobre esta época interglacial”, explicou a apresentadora, Sandrina Francisco.
O chocolate marcou presença em acessórios no corpo das manequins, assim como em objectos mais incomuns, como uma botija de oxigénio que era transportada num pequeno troley.
Já a designer de moda Kristine Kosta trouxe ao CCC uma colecção inspirada nas guerreiras sacerdotisas, denominadas Nomadz, que defendem o culto da mãe Natureza sobre a tecnologia, ajudando assim a garantir o futuro do planeta. Hastes na cabeça, penas no cabelo, asas nas costas, ou uma máscara de dragão, foram alguns dos apontamentos em chocolate que adornaram as peças de vestuário.
Todos os acessórios foram criados por uma equipa de quatro chefes pasteleiros chefiada por Paulo Santos. Na sua produção foram gastos mais de 50 quilos de chocolate branco, negro e de leite, e um mês de trabalho diário. “Foi um desafio grande mas também muito gratificante”, conta Paulo Santos, destacando a interacção que houve entre a sua equipa, os criadores, e as equipas de maquilhadores e cabeleireiros, esta última liderada pela caldense Ana Saramago.
O responsável, que é também licenciado em Artes Plásticas e sócio gerente do Forno do Beco, nas Caldas, já tem experiência nestas andanças. Costuma fazer os acessórios em chocolate para os desfiles e diz que este ano o facto de muitas das peças irem colocadas nos modelos veio dar mais complexidade ao trabalho. Isto porque têm que adaptar as formas do chocolate ao ser humano, tendo em conta aspectos como o peso do chocolate e o facto deste derreter em contacto com o calor do corpo.
Paulo Santos destacou o facto de o evento se realizar no CCC. “Vejo com muito bons olhos esta parceria entre as Caldas e Óbidos porque só unindo sinergias é que o Oeste pode ser maior”, disse no final do desfile.
A mesma opinião tem a vereadora caldense Maria João Domingos, para quem este trabalho colaborativo só valoriza os municípios e produz efeitos de escala. A autarca, que tem o pelouro do Ambiente, destacou também a pertinência da temática para despertar atitudes responsáveis e comportamentos que promovam a sustentabilidade do planeta. “Penso que a arte é um dos caminhos onde mais facilmente podemos vencer barreiras nesse sentido”, disse, destacando a beleza do espectáculo que decorreu no CCC.
Já o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, destacou as “condições extraordinárias” do centro cultural para acolher um evento como a passagem de modelos. O autarca considera que é a região quem ganha quando se realizam estas parcerias, tanto ao nível do chocolate, como no Folio, Semana Internacional do Piano de Óbidos (SIPO) ou no festival Caldas Nice Jazz, com espectáculos em ambos os municípios. Uma politica de proximidade que se estende, de acordo com Humberto Marques, a outras áreas além da cultura, ainda que os resultados não sejam tão visíveis. Deu como exemplo a atracção de investimento em que “há uma articulação entre os dois municípios em que a indústria pura e dura é mais direcionada para as Caldas, enquanto que as empresas de base tecnológica fixam-se em Óbidos”, concluiu.

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