Cerca de 1500 pessoas assistiram, na noite de 25 de Outubro, a uma passagem de modelos, no mínimo, original. Tendo por cenário a entrada da vila de Óbidos, o evento contou com a presença de cerca de 40 modelos, vindos de todas as freguesias do concelho, que desfilaram com roupa, sapatos e acessórios onde foi aplicado o bordado de Óbidos.
O evento, denominado Linhas Cruzadas, foi organizado pela Associação Bordar Óbidos e Espaço Ó, e teve a coordenação técnica do Caxemira Project. Para o ano está prometido mais.
Ao longo de quase duas horas, cerca de 40 modelos representantes de todas as freguesias do concelho desfilaram ao longo de uma passerelle estendida à entrada da vila e perante os aplausos (e fotografias) de uma multidão que ladeou todo o cenário.
Acompanhados, primeiro pela Sinfonieta e depois pela Orquestra Ligeira de Óbidos, os modelos desfilaram peças de autor, da designer de moda obidense Paula Oliveira, e com roupas reutilizadas onde foi aplicado o bordado, como foi o caso de um fato de baptismo ou de um vestido de noiva.
Seguiu-se o desfile de um grupo cujas roupas foram inspiradas nas cores das barras de Óbidos, outro nas buganvílias, um desfile masculino e ainda a aplicação do bordado de Óbidos nos sapatos e acessórios, como malas ou bijutaria.
Juntar o saber fazer tradicional à contemporaneidade foi o objectivo do evento que teve na sua coordenação técnica a empresa Caxemira Project, da caldense Patrícia Oliveira, que acabou por mediar forças e articular os intervenientes no evento.
Coube à jovem todo o apoio de coordenação de bastidores, o trabalho de passerelle, o ensaio dos manequins, a articulação com a maquilhagem, assim como, a nível musical, com a orquestra. No que respeita ao resultado final, Patrícia Oliveira disse que a conjugação entre o tradicional e o contemporâneo funcionou muito bem, as peças eram muito apelativas e que a melhor maneira de as mostrar às pessoas é fazendo um desfile.
“As peças são vendáveis e vão vender-se de certeza”, disse, acrescentando que foi dado um novo ciclo de vida aos bordados de Óbidos.
Patrícia Oliveira acrescentou ainda que “não precisamos de ir a uma moda a Lisboa ou ao Porto para ver um bom desfile com qualidade”.
Aliar a tradição à contemporaneidade
O evento, que foi organizado e concretizado em pouco mais de dois meses, resulta do sonho da obidense Helena Paulo em mostrar o bordado de Óbidos e o trabalho do COLab (onde a associação agora está integrada) à população do concelho.
“Quando vimos os bordados percebemos que era preciso dar uma volta para se vender mais e tornar os produtos mais contemporâneos e surge esta ideia das roupas”, recorda Joana Rodrigues, que fez a mediação entre o trabalho dos artesãos e dos designers.
Até agora o bordado de Óbidos tem sido aplicado essencialmente em peças decorativas e de enxoval, mas os artesãos e criativos perceberam que, aplicado noutros produtos e tecidos, o resultado seria mais vendável.
Bordaram camisas, gravatas, saias e malas, entre outros produtos. Para Manuel Madureira, artesão da tapeçaria de Óbidos, foi uma experiência “nova e enriquecedora”, especialmente porque nunca tinha trabalho outro material para além da serapilheira. “Tem coisas fáceis e outras mais difíceis, é um caminho que ainda se tem que fazer para chegar ao ideal”, disse à Gazeta das Caldas.
O artesão destaca ainda que hoje em dia o produto para ser vendável deve ser utilitário e inovador.
Na opinião de Joana Rodrigues, a tradição está “cada vez mais na moda”, pois as pessoas têm necessidade de ir procurar as suas raízes. Este tipo de trabalho pode, assim, ter o seu nicho de mercado, associado à qualidade de algo único, com identidade e que reflicta a cultura desta terra.
A mesma responsável adiantou ainda que as pessoas ficaram tão motivadas com a iniciativa que não paravam de fazer chegar peças bordadas para o desfile, destacando que o resultado foi “excelente”.
Joana Rodrigues gostaria agora de fazer uma sessão fotográfica em estúdio com todas as peças apresentadas e que depois vai enviar para escolas de moda e designers, para atrair novas sinergias.
A associação Bordar Óbidos pretende também apostar na formação e trabalhar ao nível da empregabilidade com as camadas desempregadas. Entretanto, as peças podem ser compradas na associação que vai reabrir renovada e no Colab, no edifício junto à Porta da Vila.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























