
O ar é seco e espesso porque ainda não há ventilação. O ruído não é traumático, mas não ajuda a compreender as explicações dos engenheiros da empresa construtora e as declarações do presidente da Câmara, Tinta Ferreira. Esta é a primeira visita de um grupo de jornalistas aos dois pisos do parque de estacionamento subterrâneo: o piso -1, que será pintado de azul, e o piso -2 que já está a ser pintado de amarelo. Um e outro oferecem um total de 293 lugares de estacionamento, alguns dos quais para pessoas com mobilidade reduzida e outros para veículos eléctricos.
Grupos de operários trabalham em sítios precisos do parque, pelo que a visita às galerias mostra espaços abertos que assim ficarão até à entrada dos primeiros carros. Sílvia Silva, directora da obra, explica o sistema de ventilação do edifício (sim, trata-se de um edifício apesar de estar enterrado no subsolo): estão a ser instalados ventiladores que recebem ar do exterior, outros que expelem o ar viciado para fora, e outros que se encarregam de manter o ar em circulação dentro dos pisos.
Depois há ainda outros sistemas, como o de detecção de incêndios, as portas anti-incêndios que se fecham automaticamente, e a iluminação que será totalmente assegurada por leds. Tinta Ferreira diz que esta foi uma das poucas alterações ao projecto, que implica um investimento um bocadinho superior, mas com grandes vantagens ao nível de poupança de energia.

O próprio edifício tem um PT (posto transformador) que recebe energia eléctrica em alta tensão e a transforma em baixa tensão para alimentar o parque. A ventilação será a maior responsável pelo consumo de energia, bem como a iluminação e a bombagem de águas.
O parque tem uma casa do vigilante, onde também se fará a monitorização da videovigilância dos edifícios camarários, instalações sanitárias e um elevador. Em cada um dos seus quatro cantos haverá escadas de acesso ao exterior, o que permite deixar o carro num dos pisos e ir directamente para a Câmara, tribunal, igreja ou estabelecimentos comerciais e escritórios ali à volta.
Tinta Ferreira diz que manter-se-á neste parque o mesmo tarifário do do CCC e do da Praça 5 de Outubro. A primeira hora é gratuita para que qualquer pessoa possa, sem custos, estacionar o carro para tratar de um assunto rápido. “Depois custa um cêntimo por minuto”, disse o autarca, sublinhando que os preços são muito baratos, mas que é política da Câmara facilitar na mobilidade urbana tendo em conta a vocação comercial das Caldas da Rainha.
O funcionamento deste novo parque vai custar ao município entre 130 a 170 mil euros por ano. Valores que resultam da diferença entre as receitas previstas de caixa e os custos correntes do edifício. O autarca insiste que este prejuízo é assumido e aceite pela Câmara porque resultará em benefício do comércio local e, logo, de toda a cidade.
A gestão estará concessionada à empresa GIS, que também tem a responsabilidade da segurança e funcionamento dos parques do CCC e da Praça 5 de Outubro.
PARQUÍMETROS NAS RUAS
Nestes parques, o estacionamento gratuito, que presentemente é de uma hora e meia, voltará a ser novamente de uma hora quando acabarem as obras no Largo 25 de Abril. Tinta Ferreira anunciou ainda que a cidade voltará a ter parquímetros. O objectivo, explicou, é facilitar a rotação do estacionamento e as cargas e descargas.
Já quanto ao eventual encerramento da Rua Heróis da Grande Guerra (que tem sofrido enormes congestionamentos nos últimos tempos), é um assunto que o autarca deixa em aberto, escudando-se num debate que deverá ser relançado.
O parque subterrâneo custou 3,6 milhões de euros, mas o presidente da Câmara diz que deverá haver ainda uns acertos que, contudo, não irão para além dos 4 a 5% daquele valor. E, tal como a Gazeta das Caldas já havia anunciado, exclui pedir qualquer indemnização ao empreiteiro pelo atraso de sete meses na obra. “As razões que nos apresentaram [questões climáticas e erros no cadastro das redes de gás, luz, água e telecomunicações do largo] foram consideradas justificáveis e não haverá penalização”, disse agora durante a visita.
“Vive-se bem nas Caldas”
A engenheira Sílvia Silva é a directora desta obra, o que a obrigou a deixar o Porto, de onde é natural, para residir durante um ano nas Caldas da Rainha.
Num balanço sobre a vivência numa cidade que não conhecia diz que “vive-se bem nas Caldas” e não esconde a sua satisfação pela qualidade de vida que esta proporciona.
“Costumo dizer que o único problema das Caldas da Rainha é estar a 250 quilómetros do Porto”, diz, sorrindo.
Com apenas 32 anos, esta engenheira civil não se sente constrangida por ser mulher e ter um cargo de chefia num mundo tradicionalmente masculino.
Pior, diz, é a vida de saltimbanco que esta profissão obriga. Sílvia Silva já esteve a viver na Régua, em Bragança, Melgaço e Lisboa para acompanhar obras da empresa.
A das Caldas da Rainha foi uma das mais relevantes e teve alguma complexidade, sobretudo na parte inicial quando foram colocadas as estacas no perímetro do edifício a construir. Um trabalho de grande precisão que é determinante para o desenrolar da obra.
No pico da construção do parque subterrâneo chegaram a laborar 70 pessoas, mas agora só estão 40, número que se reduzirá à medida que os trabalhos forem concluídos. A construção está terminada. Faltam as pinturas, sinalização e pavimentação. A grua já foi, entretanto, retirada (após o aparatoso acidente que viria a ocorrer no dia seguinte à visita). Se tudo correr bem, em Janeiro já nada restará do estaleiro e em Fevereiro haverá inauguração.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt































