“Hoje já nada nos entra pela porta de casa, é preciso sair, ir à procura”. Foi esta a mensagem deixada aos alunos do Externato Cooperativo da Benedita pelos irmãos Mateus e Cristóvão Brandão, que desde o passado mês de Setembro andam a percorrer o país a pé, à procura de oportunidades de trabalho.
Naturais de Santa Maria da Feira, os dois irmãos estiveram na Benedita entre os dias 16, 17 e 18 de Novembro, onde participaram em diversos encontros com uma comunidade que não lhes é estranha. É que o pai dos irmãos Brandão trabalhou durante muito tempo na Benedita, no sector do calçado, e os irmãos guardavam algumas memórias de infância desta vila.
No Externato os dois jovens deixaram aos alunos do Ensino Secundário a ideia de é preciso acrescentar valor à experiência de cada um. “Temos que inovar, procurar ser distintivos pois somos cada vez mais os timoneiros da nossa carreira”, disseram. E foi por isso que os irmãos decidiram fazer-se à estrada, numa viagem que se prolonga por 12 semanas para percorrer 1.200 quilómetros.
Mateus é arquitecto e tem “uma grande paixão pelas viagens”, tendo já viajado desde o Cabo Norte (Noruega) e o Cabo Agulhas (África do Sul). Cristóvão acabou de se formar em Engenharia Química e foi a falta de horizontes deste que motivou a aventura dos dois irmãos. “Isto tem muito mais força do que estarmos em casa a enviar currículos”, dizem.
A meio da viagem, os irmãos Brandão dizem que Portugal é “um país cheio de potencialidades” que está “completamente desaproveitado”. De acordo com Mateus, o irmão mais velho, “todo o país está à espera que se intervenha de forma a acrescentar-lhe valor. E nós, jovens, temos a responsabilidade desse paradigma”.
Uma ideia partilhada pelo mais novo, Cristóvão, que exortou os estudantes beneditenses a não estarem parados e a acrescentarem valor também a si próprios. “Não tenham medo de aceitar novos desafios pois quem vai contratar vai dar valor às vossas capacidades pessoais”, defendeu.
Os dois irmãos afiançam que toda a viagem é uma experiência enriquecedora. Mas “os encontros, que podem potenciar futuras parcerias” são o que mais destacam. E a prova é que Mateus Brandão já foi contactado por um empresário que o encontrou no decurso da viagem e que o quer a trabalhar num projecto seu.
Os destemidos caminheiros têm contado com o apoio de patrocinadores e das comunidades por onde passam e os têm acolhido, oferecendo-lhes um tecto para passarem as noites, algumas refeições e muitas palavras de incentivo. Grande parte dos custos está a ser suportada pelos próprios. “Isto é um investimento. E vale a pena cada cêntimo”, garantem.
O encontro com os estudantes do Externato da Benedita foi, para o director da escola, Alfredo Lopes, “uma importante mensagem de esperança num tempo marcado pelo desânimo”. O director acredita que esta hora de trabalho se pode traduzir em “dias de reflexão”, fundamentais para a formação integral dos alunos. Já António Rebelo, um dos promotores desta iniciativa, salientou o facto de este ser “um encontro com o desafio e não um encontro com a passividade”.
Da parte da tarde, os jovens estiveram nas Caldas da Rainha, onde se encontraram com os formandos do curso de Técnico de Informática – Sistemas da Soprofor. De acordo com Eliseu Pimenta – o outro responsável pela paragem dos jovens feirenses na Benedita e pelo encontro nas Caldas – esta foi uma sessão que “correu muito bem e do qual eles gostaram muito”. Até porque aqui, o seu público era constituído por desempregados, também eles à procura de respostas e soluções.
Depois de um fim-de-semana cheio, onde se encontraram com diversas famílias, jantaram com os responsáveis e jogadores da Associação Beneditense de Cultura e Desporto e reuniram com a comunidade, os irmãos prosseguirem viagem ao início da tarde de domingo. Óbidos foi a paragem seguinte.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























