ontem & hoje

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As imagens que vemos, separadas por muitos anos, remetem-nos para uma das maiores riquezas naturais da região, a Foz do Arelho e a Lagoa de Óbidos. Para mim, como para muitos é também memória de muitos Verões, fins-de-semana, fins de dia, nas areias e águas da Foz e da Lagoa.
Na imagem mais antiga podemos observar duas actividades típicas que eram, e ainda são, das principais actividades económicas da Lagoa – a pesca e o turismo.
Muitas diferenças existem entre as duas fotografias.
A mais significativa, para além dos fatos de banho, é a construção.
De facto o contraste é chocante. Na primeira fotografia praticamente só se vê o imponente palacete do Conde Almeida Araújo, construído no início do século passado; na segunda fotografia a encosta está preenchida de construções de todas as formas e feitios.
A pressão para A construção na encosta da Lagoa acelerou nos anos 70, mas o regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional (REN), criado em 1983, impediu a ocupação desenfreada da encosta. Tudo mudou em 1993 quando um Decreto Regulamentar (32/93) que era suposto “disciplinar a ocupação o uso e transformação da faixa costeira”, na linha de um Decreto-lei, bem-intencionado, de 1990 (302/90), fez precisamente o contrário ao introduzir um wish list de projectos de construção nos concelhos de Óbidos, Caldas da Rainha e Alcobaça, muitos deles em derrogação do regime da REN e em zonas de risco. Assim, quando se perguntarem como foi possível construir como se construiu na encosta da Foz do Arelho ou S. Martinho, aqui está uma parte da história.
Não se trata de uma visão fundamentalista de achar que a primeira fotografia é que está bem e que não devia haver qualquer construção na encosta da Foz. Em minha opinião, deveria ter havido o cuidado de, através de instrumentos urbanísticos, como os planos de pormenor, procurar disciplinar a ocupação, reduzir cérceas, exigir qualidade na construção e nas fachadas, salvaguardar a existência de espaços verdes e estacionamento, evitando assim erros urbanísticos que irão perdurar para as gerações futuras.
Outra diferença entre as duas fotografias está na marginal. No início do século não havia muitos veículos nem problemas de estacionamento. Só nessa altura foi aberta a ligação por estrada ao Facho.
Com a democratização do acesso ao automóvel o estacionamento tornou-se um problema. A marginal da Foz começou por ser um caminho de terra juncado de carros e os bares existentes na altura eram estruturas precárias de madeira e zinco com condições de higiene pouco recomendáveis. No início dos anos 90 a marginal foi requalificada, assim como os bares. Mas o problema do estacionamento persiste como se pode ver na fotografia mais recente. Aliás o estacionamento caótico é uma das críticas mais frequentes à Foz.
Ainda recentemente um dos suplementos de férias de uma revista dizia maravilhas da Foz do Arelho apontando como único defeito o estacionamento.
Já por várias vezes defendi nestas páginas a necessidade de criar estacionamentos periféricos e o condicionamento do estacionamento junto ao mar libertando eventualmente a marginal para esplanadas, espaços verdes e outros apoios de praia. Talvez um desafio para o próximo executivo camarário?

Paulo Lemos

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