ontem & hoje

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Postal Ilustrado, década de 1920 Espólio da Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha (col. V. Trancoso)
Joaquim António Silva - 2013

Dizem que foi a primeira rua das Caldas. Por aqui se chegava à então vila, há muitos anos, em coche, carruagem, carroça ou, mais frequentemente, de cavalo ou de burro. Mais tarde passaria a chamar-se Rua Bordallo Pinheiro, em homenagem ao mestre e empresário que erguera a fábrica de faianças, cuja herança cultural e artística ainda hoje projectam a cidade no mundo.
Não há muitas diferenças entre as duas fotos, separadas por 90 anos. Os edifícios são os mesmos, destacando-se ao fundo o Hotel Madrid, num tempo em que as Caldas da Rainha detinha um número invulgar de hotéis, residenciais e pensões para receber quem arribava às suas termas.
Nesse tempo a presença de um fotógrafo – provavelmente acompanhado de um tripé onde assentava um “caixote” para fazer os “clichés” – dava muito nas vistas e o povo parava na rua, as mulheres vinham à janela e todos posavam ou olhavam discretamente para a lente. Muitos caldenses anónimos ficaram, assim, registados para a posteridade.
Apesar de semelhantes, há outras diferenças entre as duas imagens. Antigamente as pessoas permaneciam nas ruas para conversar e trocar as impressões sobre a vida e os acontecimentos. Hoje nem por isso porque as notícias recebem-se pela televisão e pela internet.
E antigamente esta rua era de terra batida, sendo hoje de pedra de calçada, colocada em 2011 pelas obras de regeneração urbana (antes era de alcatrão). Outra diferença: um olhar atento à ala direita da rua denota hoje que há casas abandonadas, não habitadas, das quais só restam as paredes. Mas no tempo do comendador Jorge A. Lima, autor do “cliché”, a Rua Bordallo Pinheiro tinha seguramente mais residentes do que hoje.
Mais pormenores? A iluminação pública. À época inexistente e hoje visível nos candeeiros eléctricos.
E há mais diferenças. O vestuário – as mulheres com roupas compridas, os homens de chapéu e colete. E os graffitti.  Veja-se como são visíveis nas paredes da foto actual. Nos anos 20, podiam as casas não ser muito coloridas e faltar-lhes a cal, mas não havia destes riscos idiotas a desfear as ruas.
C.C.

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