

Os «céus de vidro» eram passagens, muito frequentes na Arquitectura do Romantismo.
Este, o nosso, foi construído para propiciar uma entrada de (algum) aparato ao Parque e marca presença abundante nos postais editados no princípio do século XX, ora desabitado, ora povoado de damas e cavalheiros em alegre convívio, no meio de motivos florais e cadeirões de verga. Sinais de uma época e de um edifício que Ramalho Ortigão descreveu em récitas e saraus e Rafael Bordallo Pinheiro desenhou em festas e danças (aproveitando o ensejo para desancar a figura do Conselheiro Pim – um dos seus ódios de estimação: Pimentel, o administrador hospitalar), quando a aristocracia e uma dada burguesia de posses e larga fazenda, se entregava aos ócios e lazeres da vilegiatura caldense, em idas às termas, jogos de salão, burricadas, passeios de barco na lagoa e piqueniques no campo ou na mata. Outros tempos, como diz o fado… “. Foi assim que o meu bom amigo José Carlos Faria me relatou e me ajudou a situar históricamente o “nosso” céu de vidro. Continuando, e entrando já em tempos por nós vividos, podemos dizer que chegam-nos, de mansinho, memórias de juventude, das conversas em roda de amigos nas cadeiras «aviadoras» no recanto conhecido como «aldeia dos macacos», dos bailes do casino, e do céu de vidro, refúgio para arejar um pouco (as meninas) e para refrescar com um copo (os rapazes), ponto de cruzamento de olhares, de namoros ingénuos tão ferventes de amor que o céu de vidro não era céu nem de vidro, era universo de estrelas de cristal, isso sim.
Ou, já depois do 25 de Abril, a lembrança de um concerto ao fim da tarde, que passou pelo lusco-fusco e entrou pela noite de um dia em que, lá para Ferrel, se protestou contra a decisão de construir uma central nuclear (não, obrigado) e acabou ali, sob as telhas translúcidas, com muita, muita gente a ouvir o Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, todos a cantar e o Fausto a interpretar, talvez pela primeira vez «Rosalinda, se tu fores à praia, se tu fores ver o mar…» com a gente a fazer coro numa cantiga aprendida mesmo ali, «cuidado não te descaia, o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar», tudo arrepiado e uma lagrimeta parva a querer cair…
Ou a Casa da Cultura, e aquele espaço feito galeria de muitas exposições de Artes Plásticas, como a do Centenário de Pablo Picasso, pano gigante na fachada com a reprodução de um desenho no qual um par de mãos oferecia aos visitantes um ramo de flores luminosas, abertas como sóis e, lá dentro, até havia originais de cerâmica e gravura, assinados e tudo, o que, para uma pequena cidade, era feito assinalável que pedia meças.
Anos decorridos, há espectros do passado que nos interpelam. Alguns deles, surgem, difusos ou poderosos, das velhas fotografias. Entre ruínas e obras incompletas, o céu de vidro lá está, recuperado e, felizmente ainda vivo. O romantismo é que parece que já não. Paciência…
Francisco Carrilho































