

Data de 1911 esta foto em que caldenses e forasteiros, certamente num domingo ou num feriado, passeiam pelo Parque D. Carlos I e observam o lago. Este mal se avista, mas, a julgar pela quantidade de pessoas presentes, ou as damas e cavalheiros que nele navegam despertam a curiosidade dos passeantes, ou então – hipótese mais provável -, toda esta gente aperaltada aguarda vez para também dar uma voltinha no lago.
No início do século não havia em Portugal muitos locais tão aprazíveis como este. E numa época em que não havia Internet, nem cinema, nem televisão, nem sequer rádio, o passeio pelo Parque D. Carlos I e a suprema aventura de deslizar num barco a remos pelo lago eram um acontecimento alto na vida mundana da cidade.
Junto à Casa dos Barcos as senhoras, reunidas num grupo, conversam entre si. Os homens estão à esquerda, olhando para o lago.
Numa sociedade muito hierarquizada, apesar de se viver então o primeiro ano da República, nota-se a diferença de classes. As senhoras, com os seus chapéus, destoam da empregada ou criada que se vê do lado esquerdo da foto. Ao fundo olha para a objectiva um polícia, ou talvez um guarda do parque.
Na imagem actual não há muitas diferenças em relação à de há cem anos. Este é um dos poucos pares de fotos desta rubrica Ontem & Hoje em que não há muitas mudanças na paisagem. O edifício da Casa dos Barcos está hoje um pouco mais estilizado, mas mantém-se praticamente igual, bem como o gradeamento em redor do lago e o pequeno cais de embarque.
O que muda são as pessoas. Ir ao Parque D. Carlos I já não tem o mesmo ritual de antigamente. A roupa é informal e já ninguém ali vai para ser visto nem para se pôr a par das últimas novidades da sociedade local.
Só o lago continua a exercer algum fascínio. Há sempre uns patos para observar e na Primavera e no Verão há também os barcos e as pessoas que neles se recreiam.
Há, no entanto, coisas que as fotos não mostram, mas que se podem adivinhar. Estamos em 1911 à esquerda e em 2013 à direita. Os fotógrafos não deixam testemunhos das conversas, mas é possível adivinhar-lhe os teor.
Na foto antiga há bulício, há um país que acabou com uma monarquia e vive ainda os auspícios da I República, apesar de prontamente o novo regime desiludir quase todos. As conversas rondarão sobre a actualidade política, muito inconstante e nalguma esperança sobre o país que agora tem uma bandeira verde e vermelha.
Na foto de 2013 nota-se o sinal dos tempos. Pode ser coincidência, mas há sintomas de melancolia e de alguma desesperança. É certo que a foto foi tirada há uns meses, ainda no Inverno e que o céu não está muito azul, mas não é difícil crer que estes caldenses que passeiam no Parque estejam menos confiantes e menos alegres que os seus avós de 1911.
C.C.






























