

O interesse da Coroa pelas Termas de Caldas da Rainha ganha novo impulso no Século XVIII com D João V, que se terá deslocado às Caldas, para tratamento, treze vezes, no período compreendido entre 1742 e 1748.
As obras Joaninas marcaram um momento impar no desenvolvimento das Caldas da Rainha ao longo do século XVIII. É pois neste período que se assistirá à “Refundação das Caldas”, traduzida pelo conjunto de obras estruturais e de incontornável importância.
O modo como estas obras se executaram deixa revelar a relevância que lhes foi conferida, fazendo-se contrato com o mestre Geral das Obras, que se encarregaria de pagar infalivelmente todas as semanas aos que nelas trabalhassem. Da mesma forma todos os materiais necessários seriam pagos no dia e hora da sua entrega. Da mesma forma e por outro lado, caso falhasse qualquer uma destas condições, não haveria lugar a pagamento sem que fosse compensado o trabalho ou o material em falta.
Ficaria Manoel da Maia Director destas obras.
São pois exemplo a construção de um novo edifício para a Câmara Municipal na Praça da Fruta, das novas instalações do Hospital Termal e da edificação de um aqueduto e de uma rede de chafarizes com o objectivo de fornecer água potável aos habitantes da vila.
“A água pública e potável desta Vila se divide em três fontes em que se acomodam sete bicas, na figura das sete Estrelas nimbosas, chamadas Plêiades. (…) Na parte mais alta da Vila, no princípio da calçada chamada da Rainha, fim da povoação, e princípio do Campo, se vê a terceira fonte em lugar escolhido, com boa ponderação para maior comodidade assim dos moradores, como dos passageiros, e hóspedes; com cinco bicas na figura de cinco Estrelas com outra fita volante, e a inscrição seguinte: Pleiadumque aliae quinque; sat, unde bibas.
Entre esta inscrição, e as Estrelas se formou uma formosa escada de água que saindo junta por uma rotura bruta como de penhasco, se recolhe em uma concha, donde pela sua circunferência desagua em outra concha maior, e desta noutra de maior grandeza, de onde se recolhe para o interior, e se comunica as cinco Estrelas, aparecendo a mesma água muitas vezes para recreação dos olhos, antes de sair pelas bicas para recreação do gosto. Sobre a cimalha da obra que acompanha esta inscrição, e Estrelas, se acha um pano estendido com esta inscrição,
Coeli beneficio salubrium
Regis munificatia perennium
Sobe-se para colher água das bicas, por duas escadas, em que há um espaçoso tabuleiro, sobre um tanque, para quadrúpedes, de quarenta palmos de comprido, obra toda de pedra mármores, obrada com agradável arquitectura: e tanto que houve quem disse que não havia em Portugal segunda, ocupando na sua extensão, com as escadas quase sessenta palmos, e quarenta e três de alto. (…) É grande a abundância de água corrente nesta Vila pois não só acode às bicas como também a três registos perenes, na grande casa da Cozinha do mesmo Hospital, e a dois grandes tanques para regarem as hortas da cerca do mesmo. Tem este aqueduto no seu principio um incile, ou castelejo de água, em que há três receptáculos, ou purificatórios das águas que ali se recebem, para entrarem no dito encanamento purificadas; e assim nesta parte, como em todo o aqueduto, e fontes, se não usa de repuxo algum, mas sempre se conserva o curso natural, para evitar os inconvenientes dos repuxos, e conservar as fontes mais perpétuas.”
Noticias Interessantes da Real Villa das Caldas, Com alguns Mappas curiosos, no ano de 1797 e 1798; Colecção PH Arquivos; 1ª Edição; 2002
Classificado como Imóvel de Interesse Público em 1982, Decreto nº 28/82, DR, 1ª série, nº 47 de 26 de Fevereiro de 1982, o Chafariz das 5 Bicas encontra-se hoje distante da funcionalidade e importância que outrora o caracterizavam.
Serão por certo imensas as memórias associadas a este local, no entanto talvez pela pertinência do assunto, atrevia-me a destacar o que ficava para além do muro visível na primeira imagem, que marcava os terrenos do Hospital. Estes, divididos em talhões eram até há relativamente pouco tempo arrendados para exploração, resultando deles receitas que “alimentavam” as necessidades inerentes ao funcionamento desta instituição. Recorde-se neste âmbito, entre outros, a exploração dos produtos da mata, as diversas actividades disponibilizadas no Parque mediante o arrendamento de quiosques e outros equipamentos, a produção de frutas para consumo na instituição, ou mesmo a rentabilização da estufa do Hospital, no Parque D. Carlos, cujo trabalho de manutenção necessário para este local, ficava assim assegurado.
Não se pretende aqui avaliar formas e modelos de gestão tidos ao longo dos últimos anos, em particular a partir de meados do século XX. No entanto, na actual pertinência do assunto, em que tanto se discute o futuro do Hospital Termal, será por certo importante pensarmos que a garantia da sua sustentabilidade estará dependente da estratégia da sua gestão.
Dora Mendes






























