ontem & hoje

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Notícias das Caldas
Joaquim António Silva – 2012

Na foto da esquerda vê-se um terço da minha rua, tal como a conheci aos 6 anos de idade quando vim para aqui viver.
Como o nome sugere, era uma rua com muito Comércio, o trânsito fazia-se nos dois sentidos,  e a rua ia desde o Banco Lisboa e Açores, do qual o Sr. Castelhano foi gerente, até ao Banco Nacional Ultra Marino do lado esquerdo. À direita havia uma garagem e taberna e um grande pátio com cais e a primeira casa que se vê era da firma de Vinhos Ramiro Magalhães do Porto. Nesse cais encostavam as camionetas que iam levar aguardente ao norte do país. Depois vê-se uma casa que era do meu tio Deodoro Vieira, um estabelecimento comercial do meu pai e a minha casa herdada do meu avô Vieira. A casa que parece fechar a rua na verdade não o faz pois continua até à Caixa Agrícola velha que divide a rua Luís de Camões e a rua do Comércio. Recordo que, além dos dois bancos já referidos, havia uma farmácia, duas mercearias importantes (Garrudo & Ramos e Veríssimo Duarte) que fornecia as mercearias de Peniche, duas tabernas, um talho, uma drogaria, uma alfaiataria, etc.
Deixo para o fim a tipografia Judicibus que às nove horas da manhã  já tinha movimento que dava um tom alegre à rua, pelas muitas crianças que aqui vinham e até brincavam com o Sr. Evaristo Judicibus que fingia correr atrás delas quando perguntavam com a célebre frase “oh Evaristo tens cá disto?”. Também o genro do Sr. Evaristo, Jorge de Almeida Monteiro, fazia rabos de papel, máscaras e papagaios. Devo referir que os empregados do Capristano & Ferreira, quando entravam ou saiam das oficinas, enchiam a rua com algazarra. Com tanto movimento não me lembro de acidentes. Havia um passeio largo do lado esquerdo. A qui passavam desfiles, bandas de música, cortejos de carnaval (que era muito bom), de oferendas etc.

Depois lembro-me de uma orquestra de violinos na esquina da casa do meu tio (onde se vê um burro preso na argola que existia na casa) e defronte da Farmácia Franca. Usavam calções de veludo até aos joelhos e não sei porquê sempre pensei que eram húngaros. Tinha muito orgulho nesta rua, onde a brincadeira era muita, desde brincar às escondidas ao salpica, polícias e ladrões, corridas (guerras). Sim, guerras. O Orlando Ramos tinha um amigo, António Salvador, empregado do Capristano & Ferreira, que se passava para o inimigo e ajudava Orlando a atirar pedras aos que se atreviam a passar na rua de trás (hoje rua Veríssimo Duarte). Nós, mais pequenos, acartávamos as pedras. No meu rés-do-chão estudava à luz do petróleo porque nessa altura ainda não existia luz elétrica e via todo o movimento que existia na rua.
Na foto da direita, vê-se a rua sem trânsito que é proibido e ao meio há uns bancos com umas flores. A maior parte das vezes cheios de latas de bebidas, beatas etc. De 26 estabelecimentos comerciais que existiam, já fecharam uns tantos, os moradores estão isolados, nem trânsito nem comércio nem nada, um autêntico deserto.
O comércio expandiu-se para outros sítios e esta rua com o desaparecimento das mercearias Garrudo & Ramos e Veríssimo Duarte, a tipografia Judicibus, e o talho não me dizem nada. A Caixa Agrícola fez um grande prédio com lojas para vender ou alugar, do qual resta um café e uma cabeleireira.
Em 1970 houve uma excursão a Setúbal à Praia da Figueirinha e Portinho da Arrábida organizada pelos comerciantes desta rua que, com os residentes, enchemos quatro camionetas. Ouvi muitas vezes ao meu Pai que os antigos se opuseram sempre a que se impedisse o trânsito. Eles lá teriam as suas razões.

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M. Adelaide Vieira

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1 COMENTÁRIO

  1. Ontem & hoje – mas onde ?????
    Ao olhar para a foto do artigo fiquei com a sensação de reconhecer a rua… olhei melhor, li o artigo e lá tive então algumas pistas para me ajudar a reconhecer… mesmo se nem aí está mencionado o nome da Vila de Bombarral.
    Pessoalmente conheço a Vila do Bombarrl, mas para quem não conhece, vai ficando a pensar mas ainal onde fica esta rua??????????
    Saudações