

Mais do que considerações de caráter histórico — para as quais não me sinto habilitado a contribuir — estas imagens suscitam-me recordações de ordem pessoal e da minha relação com as Caldas da Rainha. São edifícios que foram marcos no meu crescimento e na minha integração na cidade, e certamente de muitos caldenses da minha geração.
Cronologicamente, o primeiro edifício que deixou a sua marca foi os Pavilhões do Parque, onde funcionou a Secção Liceal que ajudei a inaugurar no ano letivo de 1972/73. As recordações são já um pouco difusas, mas nem por isso menos incisivas, já que este foi o primeiro mergulho a sério na vida da cidade, que habitava já há alguns anos, mas de onde passava, até aí, a maior parte do tempo ausente. O liceu era o local de estudo mas também o centro de onde se descobriam novas amizades e partilhavam interesses: a música, que se redescobria e aprofundava em “workshops” improvisados no parque, ou os filmes do Ibéria e do Pinheiro Chagas que se discutiam nas mesas da Pastelaria Machado. O “Machado” cumpria, aliás, as funções de sala de estudo e de convívio para os alunos de uma escola que tinha as limitações de um espaço adaptado e as virtudes de um grupo de professores e alunos que se empenhava na sua afirmação, hoje plenamente confirmada como Escola Raul Proença.
Mesmo em frente ao liceu havia o Casino, esse lugar enigmático onde a maior parte de nós apenas se atrevia a entrar de fugida nos bailes de Carnaval, e que era também célebre pelos bailes de verão ou passagens de ano com as quais só podíamos sonhar. O mesmo espaço onde pouco tempo depois, já como Casa da Cultura, fui chamado a colaborar, primeiro timidamente e depois intensamente, numa aventura que, julgo poder afirmar, marcou também de forma intensa grande parte de uma geração de caldenses. Durante cerca de uma década aqui se cumpriu, de certa forma, a utopia de um espaço cultural aberto e participado, local de prática e de aprendizagem, por onde passaram grandes nomes da vida artística e cultural nacional e internacional. Poderá considerar-se que a Casa da Cultura tem a sua continuação no atual Centro Cultural e de Congressos. Mas se neste sobram as condições logísticas e técnicas com que antes se sonhava, faltam a energia e o humanismo de um projeto feito à custa do esforço partilhado de toda uma comunidade.
Os pavilhões e o edifício do “Balneário Novo” trazem-me também à memória uma figura já aqui evocada: o Sr. Teles, antigo responsável pelas oficinas do Centro Hospitalar, que funcionavam num recanto dos pavilhões. Tive oportunidade de acompanhar este verdadeiro “guardião” da história recente do hospital em inúmeras campanhas fotográficas tanto nas instalações do hospital como em locais onde este em algum momento estendeu a sua influência, como São Mamede, Aldeia Galega, Merceana ou Madre de Deus. Partilhar o seu convívio e ouvir as suas histórias era sempre um enorme prazer.
Hoje os Pavilhões e o Clube de Recreio estão abandonados e em ruínas. As muitas vivências que estes edifícios albergaram podem ter continuidade noutros locais, mas para muitos de nós as experiências aqui vividas serão para sempre únicas.
Joaquim António Silva






























