
Num espaço sobranceiro ao Hospital Termal, na colina da Mata, viviam-se, noutros tempos, momentos de serenidade: usufruía-se da leitura de um livro, punha-se a conversa em dia, admirava-se a paisagem onde se incluía, ao longe, o castelo de Óbidos, e via-se, sem sinais de pressa, o passar das horas no relógio da torre da Igreja de N. Sª do Pópulo.
Os passeantes vistos na primeira imagem (1870) serão cidadãos locais ou aquistas a termas? Ou serão turistas usufruindo os bons ares da Mata Rainha D. Leonor?
Os horizontes do local foram-se fechando como os da própria cidade.
Agora, desse local, com a torre da Igreja já escondida pelos edifícios fronteiros, ainda se consegue distinguir, prestando atenção à linha do horizonte, a silhueta do castelo de Óbidos. No mesmo local de observação (agora não com um banco de jardim mas com um pequeno edificado técnico de apoio ao Hospital), não se respira hoje a mesma serenidade e certamente o bulício das ambulâncias não deixaria espaço para uma leitura atenta de qualquer livro.

É natural! A cidade cresceu, tinha que se expandir e procurar espaço para as infra-estruturas necessárias. E na altura da sua construção (1958), aquele terá sido considerado o local ideal para a implantação do Hospital das Caldas.
É claro que as soluções urbanísticas devem ser encontradas pensando no futuro, ao mesmo tempo que se recorre à identidade histórica da urbe. E neste caso a identidade remete para o Termalismo, para a Saúde e o Bem-estar. Remete para a preservação do espaço envolvente ao Hospital Termal e da Mata Rainha D. Leonor.
Cabe aqui perguntar: desde quando é que a cidade se descaracterizou, perdeu identidade? Desde quando deixou de ser pensada, em termos urbanísticos, como Cidade Termal?
O desígnio da Cidade é servir as pessoas que nela habitam, dar satisfação às necessidades básicas, cívicas e sociais das populações. Mas, para além da sua identidade, deve ter-se presente a da própria Região onde se insere.
Em termos de necessidades hospitalares do concelho de Caldas da Rainha, dos concelhos vizinhos e de toda a região Oeste, a solução, hoje, seria certamente diferente. Seria certamente uma solução perspectivando o futuro, que não descuraria a preservação dos espaços verdes e a identidade da urbe e que equacionaria obrigatoriamente a dimensão da população a servir e o espaço geográfico dessa população e as vias de acesso à própria unidade hospitalar.
Tem faltado pensar a Cidade, mas falta ainda também pensar a Região, nomeadamente no respeitante aos Cuidados Hospitalares.
António Curado






























